BRASÍLIA - O encerramento do inquérito da Polícia Federal (PF) com os indiciamentos de Jair Bolsonaro (PL), Valdemar Costa Neto, Mauro Cid e de outros 34 aliados do grupo repercutiu entre políticos da oposição e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quinta-feira (21).
As primeiras manifestações couberam aos correligionários do Partido dos Trabalhadores na Câmara. A presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann (PT-PR), usou a revelação do inquérito para criticar o Projeto de Lei (PL) que propõe anistia para aqueles que participaram do 8 de Janeiro ou de atos correlatos — proposta que poderia beneficiar Bolsonaro e os indiciados.
“O indiciamento de Jair Bolsonaro e sua quadrilha, instalada no Planalto, abre o caminho para que todos venham a pagar na Justiça pelos crimes que cometeram”, afirmou. “Prisão é o que merecem. Sem anistia”, acrescentou em publicação nesta tarde. O líder do Governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), repetiu o tom da presidente do partido.
No Congresso Nacional, o deputado André Janones (Avante-MG) declarou que a conclusão da investigação da Polícia Federal não gera surpresa. “É uma resposta do Estado democrático de direito, apesar de vivermos um momento delicado para a democracia. Acho que o Estado está sabendo responder de maneira forte, rápida e assertiva”, disse. “Confesso que não surpreende. A gente desde o início sabia desse desfecho, mas, ao mesmo tempo, a gente não imaginou que chegariam ao ponto de tramar a morte de um adversário político”.
Os indiciamentos também repercutiram entre os parlamentares que atuaram na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. A investigação sugeriu à Procuradoria-Geral da República (PGR) os indiciamentos de 61 pessoas por abolição violenta do Estado democrático de direito e golpe de Estado — mesmos crimes identificados pela PF no inquérito concluído.
Entre os indiciados pela CPMI estão o próprio Jair Bolsonaro e aliados dele, como seu ministro da Justiça Anderson Torres, seu vice-candidato à reeleição general Walter Braga Netto e o general Augusto Heleno. Todos eles também indiciados pela Polícia Federal.
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), analisou que a comissão foi “certeira” ao identificar os envolvidos no 8 de Janeiro. “A conclusão do inquérito da PF evidencia que a comissão estava no caminho certo. Ela caminhou como deveria caminhar, trouxe elementos fundamentais para o que estamos acompanhando hoje [quinta-feira, 21]”, afirmou.
O resultado do inquérito da Polícia Federal repercutiu ainda entre membros da oposição. O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), declarou que os indiciamentos retratam a “perseguição política” à direita. “Diante de todas as narrativas construídas ao longo dos últimos anos, o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro, do presidente Valdemar Costa Neto e de outras 35 pessoas não só era esperado como representa sequência ao processo de incessante perseguição ao espectro político que representam”, disse. Ele também declarou que confia no “restabelecimento da verdade”.
O líder do PL, senador Carlos Portinho (PL-RJ), se restringiu a afirmar que: “o sistema avança contra seus adversários políticos”. O candidato do partido derrotado na eleição municipal em Niterói, Carlos Jordy (PL-RJ), e o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), criticaram o fato da imprensa ter tido acesso ao inquérito. “O que mais impressiona é que a imprensa já tenha informações sobre um inquérito sigiloso, do qual ninguém mais teve acesso. O interessante é que vazam as partes que interessam para a narrativa sensacionalista”, escreveu Jordy.