BRASÍLIA – O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) usou as redes sociais na terça-feira (4) para atacar o diretor Walter Salles, diretor do filme Ainda Estou Aqui, vencedor na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2025

O parlamentar brasileiro não fez qualquer menção à conquista inédita do cinema nacional, com a primeira estatueta do país na maior premiação do segmento, ganha na noite de domingo (2).

Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Eduardo classificou Salles como um “psicopata cínico” por “reclamar do governo americano”, ao comentar as declarações do cineasta em entrevista coletiva no dia seguinte à conquista do Oscar.

Eduardo Bolsonaro também disse que Walter Salles fez um longa sobre uma “ditadura inexistente”. Ainda Estou Aqui é inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado federal Rubens Paiva, cassado pela ditadura militar no Brasil. 

A obra foca na luta de Eunice Paiva, a viúva, para se restabelecer e cuidar da família após o sequestro do marido por agentes do regime que foi instaurado à força em 1964 e só terminou em 1985. 

“Acredito que o sujeito que bate palmas para prisão de mães de família, idosos e trabalhadores inocentes, enquanto faz filme de uma ditadura inexistente e reclama do governo americano que lhe dá todos os direitos e garantias para que suas reclamações públicas e mentirosas sejam respeitadas pelo sagrado direito da liberdade de expressão, define em essência o conceito do psicopata cínico”, escreveu Eduardo Bolsonaro na noite de terça-feira, em sua conta no X.

“Se qualquer brasileiro fizer essa mesma crítica ao regime instaurado pelo Alexandre de Moraes, que Walter Salles aplaude e legitima, estaria com certeza na cadeia ‘gozando de todos o esplendor da democracia da esquerda’. Deve ser realmente muito difícil viver na ditadura americana”, emendou o deputado federal.

Eduardo Bolsonaro tem feito constantes viagens aos Estados Unidos em busca de apoio e medidas dos poderes norte-americanos contra o Poder Judiciário brasileiro e a favor de sanções ao Estado brasileiro.

O filho de Jair Bolsonaro diz ser uma “luta pela liberdade”, que inclui campanha por anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro e mesmo àqueles que ainda nem foram julgados, como seu pai e aliados políticos, acusados de participarem de suposta trama golpista contra Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do supremo Tribunal Federal (STF).

Já Walter Salles afirmou, na entrevistada contestada por Eduardo Bolsonaro, que o autoritarismo faz “graça no mundo” e as pessoas que vivem nos EUA se identificaram com Ainda Estou Aqui por se parecer com a realidade do país neste momento.

“A gente está vivendo algo aqui (nos EUA) que eu não esperava ver tão cedo. A gente está vendo um processo de fragilização crescente da democracia, e esse processo está acelerando cada vez mais”, iniciou Salles. 

“A única coisa que eu posso atestar é o quanto o filme, que fala de uma ditadura militar, se tornou próximo de quem o viu nos Estados Unidos. Isso explica, inclusive, a maneira crescente como ele foi sendo abraçado. (...) E eu diria que não é só aqui, porque, de uma certa forma, ele ecoa o perigo autoritário que hoje graça no mundo como um todo”, prosseguiu.

“A gente está vivendo um momento de extrema crueldade, da prática da crueldade como forma de exercício do poder. A gente está no meio disso, e é profundamente inquietante”, conclui o cineasta na entrevista coletiva, em Los Angeles, cidade onde ocorreu a cerimônia do Oscar e que é a capital mundial do cinema.

Além de ganhar um Oscar por Melhor Filme Internacional, Ainda Estou Aqui concorreu em outras duas categoria, de Melhor Filme e Melhor Atriz, com Fernanda Torres.

Essa foi a primeira que uma produção brasileira foi indicada a Melhor Filme, a mais importante categoria do Oscar.

Ainda Estou Aqui se tornou um fenômeno de público e crítica, e já se consagrou como a quinta maior bilheteria na história do cinema nacional. O filme já levou mais de 5 milhões de espectadores aos cinemas no país.