Pré-privatização

Deputados aprovam liberação de R$ 2,8 bilhões para cisão da CBTU

Boa parte da verba deve ser usada para sanar dívidas da companhia e, posteriormente, aplicação em empresa criada para manutenção do metrô de BH

Por Heitor Mazzoco
Publicado em 27 de setembro de 2021 | 16:17
 
 
 
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Deputados federais aprovaram nesta segunda-feira (27) a cisão da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) com aplicação de R$ 2,8 bilhões para empresa que ainda será constituída. A matéria segue para o Senado Federal. O valor poderá ser utilizado principalmente para pagamento de dívidas da companhia, como ações trabalhistas.

A votação havia sido empurrada para quinta-feira (30), mas os parlamentares decidiram votar a proposta ainda nesta segunda, ao contrário do acordo entre líderes em reunião mais cedo.

A expectativa ainda é que parte desta verba aplicada na cisão da CBTU seja utilizada para começo da reforma da linha 1 do metrô de Belo Horizonte e a tão aguardada construção da linha 2 (Calafate-Barreiro). As obras podem levar, sem atrasos, quatro anos.

No entanto, o presidente do Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais, Romeu Machado Neto, afirma que dificilmente a verba servirá para obras e a movimentação é arriscada. Isso porque, a dívida da CBTU gira em torno de R$ 2 bilhões.

“O recurso não é para obra de ampliação e modernização. É para sanear os passivos que a CBTU tem hoje, viabilizar a cisão da CBTU e criação da empresa que vai receber o metrô após cisão. Já tem até nome: VDMG, Veículo de Desestatização de Minas Gerais. Isso tem até em até de conselho aprovado”, disse Machado Neto.

O restante da verba deve ficar para aplicação na empresa que será criada, junto com R$ 400 milhões já reservados pelo governo de Minas Gerais.

Agora, o próximo passo é publicação de edital de concessão da operação da CBTU em Minas Gerais, o que pode ocorrer ainda este ano.

O deputado Rogério Correia (PT-MG) pediu prazo para mudança na proposta para que deixasse claro que a verba seria direcionada exclusivamente para obras e não sanear a empresa para ser entregue à iniciativa privada.

“Não está dito no PLN é que o que se busca com essa verba altíssima é sanear o metrô de Belo Horizonte para ser privatizado (...) É uma lógica cruel. Dinheiro que muitas vezes para saúde, segurança. Capitalismo financiado pelo poder público, um capitalismo que suga, que mama nas tetas do Estado”, disse o líder da minoria no Congresso, Arlindo Chinaglia (PT-SP). “Se a iniciativa privada quer assumir, ela que faça o investimento, não recebendo de mão beijada”, concluiu. 

Custos

O receio dos metroviários é a de que uma obra comece para diminuir pressões políticas e acabe ficando sem verba para finalização, o que tornaria a linha 2 um “elefante branco”.

Para ter uma ideia, explica Machado Neto, a obra no Barreiro deve ficar em torno de R$ 1,3 bilhão.

Há, porém, a necessidade de modernização da linha 1 primeiro para depois começar a obra da linha 2, que vai até o Barreiro. “Só linha 1 o custo é de R$ 800 milhões”, disse Machado Neto.

Histórico
As melhorias no metrô de BH são promessas antigas. Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer fizeram promessas em seus governos, mas nada ocorreu. Agora, Jair Bolsonaro é o quarto presidente a tentar destravar as obras na capital mineira.

Em 2002, as estações São Gabriel, Primeiro de Maio e Waldomiro Lobo foram inauguradas. Foi a última vez que o metrô de BH recebeu investimentos do tipo.

Outras obras  
Essa liberação bilionária para cisão da CBTU está no PL 15/2021, que inclui orçamento para outras obras em Minas Gerais.

De acordo com documento do governo federal, há previsão de construção de trechos rodoviários na BR-153, em Itacarambi, divisa de Minas com Bahia, na BR-265, entre Jacuí e Alpinópolis. Há também previsão de adequação rodoviária nos entroncamentos das BRs 050 e 153, também em Minas.

Ao menos R$ 30 milhões serão destinados para o setor agropecuário em Limeira do Oeste, no Triângulo Mineiro.

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