Deputados federais bolsonaristas devem entrar na mira da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada quarta-feira (26) para investigar os atos de 8 de janeiro. Ao menos quatro deles são apontados como incentivadores da invasão das sedes dos Três Poderes com o intuito de derrubar o então recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Parlamentares governistas acreditam que colegas da oposição poderão sofrer duras penas. “Acredito que poderemos ter deputados cassados ao fim dessa CPMI”, alertou o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), vice-líder do governo no Congresso, em entrevista na quarta, logo após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ler o requerimento que criou a comissão.  

Deputados oposicionistas publicaram nas redes sociais mensagens que teriam incitado o movimento que culminou na quebradeira dos prédios públicos. A Polícia Federal concluiu, em relatório, que duas parlamentares do PL – partido de Jair Bolsonaro – cometeram “crime” com as postagens que incentivaram a “tomada do poder pelo povo”, termo difundidos em grupos de aplicativos de mensagem.

As deputadas em questão são duas estreantes na Câmara: Clarissa Tércio (PL-PE) e Silvia Waiãpi (PL-AP). Carissa publicou um vídeo pedindo a “tomada do poder pelo povo” e pedindo “orações pelo Brasil”. Já  Waiãpi, uma inígena oficial do Exército Brasileiro, publicou um texto intitulado “tomada de poder pelo povo insatisfeito com o governo vermelho”. À PF, ela alegou se tratar de postagem “jornalística”. Em seu relatório, a PF concluiu que “é inegável na legenda o apoio e aprovação à ação criminosa”.

Novato que colheu assinatura para CPMI é um dos alvos

Outro parlamentar que já é alvo de investigação é o também deputado de primeiro mandato André Fernandes (PL-CE). Desde 23 de janeiro ele é alvo de inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os ataques aos poderes. 

André Fernandes publicou a seguinte mensagem no Twitter em 6 de janeiro: “Neste final de semana acontecerá, na Praça dos Três Poderes, o primeiro ato contra o governo Lula. Estaremos lá!”. Já no dia 8, em meio à invasão dos prédios, ele fez um post com uma foto da porta de um armário com placa do nome do ministro Alexandre de Moraes vandalizada e a mensagem “Quem rir vai preso”.

No pedido de investigação ao STF, a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que André Fernandes fez convocação para os atos na Esplanada. A PGR viu clara incitação ao crime, além de uma provocação da prática de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. 

Em tempo: André Fernandes foi responsável pela coleta de assinaturas para a instalação da CPMI da qual deve ser alvo.

Deputado gravou vídeo dentro da Câmara negando que houve depredação

Já o deputado Abílio Brunini (PL-MT), chegou a gravar um vídeo de 16 minutos em um ambiente da Câmara, dois dias após a invasão e depredação do prédio, negando tudo o que havia sido feito e filmado pelos próprios vândalos em 8 de janeiro.

O parlamentar andava pelo Salão Verde afirmando que ali “praticamente não teve nenhum estrago”. “Você fica assistindo a internet achando que está tudo quebrado, mas não está. Não é verdade”, afirmou Brunini.

No entanto, no momento em que fazia a gravação, uma mulher que se identificou como petista, acompanhou Abílio, retrucou a informação dada pelo parlamentar recém eleito e disse que ele estava mentindo. Para expor a mentira, ela começa a gravar um outro vídeo, que teve mais de 1 milhão de visualizações. 

“Todos que tiverem responsabilidade vão responder”, disse Lira

Além de deputados governistas, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), defendeu que a Justiça puna parlamentares que tenham incentivado os atos de 8 de janeiro. Ele inclusive citou o caso de Abílio Brunini.

“Todos que tiverem responsabilidade vão responder, inclusive parlamentares que andam difamando e mentindo com vídeos dizendo que houve inverdades nas agressões que a Câmara dos Deputados sofreu no seu prédio. Esses deputados serão chamados à responsabilidade”, afirmou Lira uma semana após a invasão e depredação.

Questionado sobre se Jair Bolsonaro deve ou não ser responsabilizado pelos atos, Lira disse que "cada um responde pelo que faz", mas evitou se posicionar favorável ou contrariamente à inclusão do ex-presidente no rol de passíveis de punição. "Cada um responde pelo que faz. Meu CPF é um, o CPF do presidente Jair Bolsonaro é outro."

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