PISO NACIONAL

Fonte de custeio emperra sanção de piso salarial da enfermagem

Senadores acreditam que também será necessário aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição para corrigir vícios

Por Levy Guimarães
Publicado em 08 de maio de 2022 | 08:00
 
 
 
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Apesar de já ter sido aprovado pelo Congresso Nacional, após votação na Câmara dos Deputados na última quarta-feira (4), o piso salarial nacional para a enfermagem ainda não tem previsão de ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ainda não enviou o projeto à sanção. Ele aguarda que seja resolvido o impasse sobre como financiar a implementação do piso.

Segundo o texto aprovado pelos deputados, uma das fontes de recurso poderia ser uma parte da arrecadação com a regulamentação dos jogos de azar, que está no Senado. Porém, há resistência entre os senadores em torno do projeto.

Outras possibilidades seriam destinar para o setor 3,5% da tributação com a exploração mineral e a tributação sobre distribuição de dividendos, proposta que também ainda teria de ser aprovada pelo Legislativo.

O advogado tributarista Eduardo Muniz Cavalcanti, sócio da Bento Muniz Advocacia, “apesar dos fins altruístas”, o piso para os enfermeiros pode ser inconstitucional. Ele aponta possíveis dificuldades de execução da medida.

“As instituições hospitalares públicas e privadas que serão impactadas possuem diferentes graus de realidade econômica neste país continental. Os pisos nacionais não enxergam um hospital no interior do Acre e outro em São Paulo, no bairro dos Jardins. Infelizmente, muitos que esperam aumento de salário podem ficar é sem emprego", diz.

Um relatório desenvolvido em fevereiro pela Câmara dos Deputados indica que o piso da enfermagem terá impacto de R$ 5,68 bilhões aos cofres públicos: R$ 24,8 milhões para a União, R$ 1,56 bilhão para estados e Distrito Federal e R$ 4,11 bilhões para os municípios.

Somando-se a empresas privadas e a empresas sem fins lucrativos, o impacto total chega a R$ 16,31 bilhões.

PEC no Senado

De acordo com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também pode ser necessário aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para garantir que o mínimo para a enfermagem não incorra em inconstitucionalidade.

“Além da fonte de custeio, há uma iniciativa que é a PEC para sanar um vício de constitucionalidade aparente nesse projeto. Há todo o nosso desejo de evoluir essa PEC que corrige esse vício e para evitar algum apontamento de inconstitucionalidade”, diz.

A PEC, apresentada pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), tem texto semelhante ao do projeto de lei e acrescenta na Constituição que uma lei federal instituirá pisos salariais nacionais para essas categorias.

A justificativa do texto menciona um risco de a o piso ser suspenso pelos tribunais do país, "sob o argumento de vício de iniciativa".

A intenção de Pacheco é que a matéria seja votada pelo plenário do Senado na semana que vem, se houver consenso entre os parlamentares. Caso contrário, terá de passar pela Comissão de Constituição e Justiça.

O que diz o projeto aprovado

Pronto para a sanção de Bolsonaro, o projeto de lei define o valor de R$ 4.750 como piso salarial nacional de enfermeiros. Técnicos de enfermagem terão como piso o equivalente a 70% do valor para os enfermeiros. Auxiliares de enfermagem e parteiras terão o correspondente a 50%.

O projeto prevê ainda que seja feita atualização monetária anual dos pisos com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência para o cálculo anual da inflação. 

Outro ponto do texto estabelece o limite de carga horária para as categorias em 6 horas diárias.

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