O relatório final da CPI da Pandemia, que será lido hoje no Senado, excluiu quatro nomes inicialmente incluídos pelo senador Renan Calheiros (MDB) na minuta inicial. As mudanças se deram após conversas entre integrantes do chamado G7, o grupo de senadores que compõem a ala majoritária da CPI. Deixaram a lista de sugestões de indiciamento o secretário especial de Saúde Indígena, Robson Santos da Silva, o presidente Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Augusto Xavier da Silva, o empresário Emanuel Catori, sócio da farmacêutica Belcher e o pastor evangélico Silas Malafaia.

No caso dos dois primeiros, a exclusão se deu após o grupo que controla a CPI conseguir convencer Renan Calheiros a retirar a imputação de crime de genocídio contra os povos indígenas do relatório. Além dos dois, o presidente Jair Bolsonaro também era acusado do crime, o que foi retirado do relatório final. Apesar disso, o relatório discursa por várias páginas sobre atitudes do governo que deixaram a população indígena em vulnerabilidade e que teriam contribuído com uma taxa de mortalidade maior entre índios do que na população em geral.

Segundo o senador Humberto Costa (PT-PE), esses indiciamentos específicos foram retirados pois precisariam de subsídios que suplantam as ações de combate à pandemia:

"Nós tiramos o genocídio, primeiro, pois vamos demandar uma investigação mais aprofundada sobre genocídio seja feita. Segundo: nós estamos analisando unica e simplesmente a atuação na pandemia. Se nós formos juntar os massacres que aconteceram já com tribos indígenas, se nós formos analisar os desrespeito às terras demarcadas, se nós formos analisar o processo de mineração que é feito nessas terras indígenas, no conjunto dessa obra, juntando-se com a política para a pandemia é possível caracterizar genocídio. No entanto, tratando unica e exclusivamente da questão do enfrentamento da pandemia, não é possível", explicou Humberto Costa, que também explicou que, no caso do homicídio, outro indiciamento retirado no caso de Bolsonaro, isso se deu pois não seria possível individualizar as ações, o que é necessário neste caso.

Já em relação a Emanuel Catori, ele estava sendo acusado de improbidade administrativa junto com o filho do presidente da República, senador Flávio Bolsonaro. Esse indiciamento foi retirado, em razão de não haver provas que pudessem embasar a tese de que Flávio teria auxiliado a empresa a conseguir contratos com o governo. No depoimento que prestou à CPI ele foi questionado sobre a atuação da empresa como intermediária do laboratório chinês CanSino na negociação com o Ministério da Saúde pelo fornecimento de 60 milhões de doses da vacina Convidencia ao custo de R$ 5 bilhões. Na ocasião, Catori negou qualquer irregularidade.

Em relação ao pastor Silas Malafaia, na primeira versão do relatório ele era acusado de espalhar fake news na pandemia e, por isso, havia sido enquadrado pelo relator no artigo 286 (incitação ao crime). Porém, na versão final do relatório essa referência foi retirada.

'O senhor Silas Malafaia, apesar de ser um dos grandes divulgadores de fake news, para ele ser indiciado seria um prêmio para que ele pudesse por ali ficar exercendo suas agressões contra a CPI e contra outrem. Então, nós achamos que era insignificante a presença dele como um dos indiciados", explicou Humberto Costa.

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