Covid

Renan pede à Receita investigação sobre líder do governo Bolsonaro

Em seu parecer prévio, Renan Calheiros diz que Ricardo Barros incentivou uma série de “atos administrativos irregulares que favoreceram a Global Gestão em Saúde

Por Renato Alves
Publicado em 19 de outubro de 2021 | 11:47
 
 
 
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Em seu parecer  prévio, entregue nesta terça-feira (19) aos demais integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) pede que a Receita Federal investigue as empresas ligadas ao líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). 

O documento, ao qual o O TEMPO teve acesso, detalha em sua minuta indícios de irregularidades lideradas por Barros.

Barros é alvo de um capítulo específico do relatório. Segundo Renan, o parlamentar incentivou uma série de “atos administrativos irregulares”. Os atos favoreceram, segundo Renan, a Global Gestão em Saúde, empresa investigada pelo Ministério Público Federal.

“Com o intuito de beneficiar indevidamente a empresa Global Gestão em Saúde em aquisições do Ministério, Ricardo Barros pressionou o então Coordenador de Execução Orçamentária e Financeira Substituto (CEOF), Victor Laud, e mandou que Davidson Tolentino e Alexandre Lages também o fizessem, para que assinasse os pagamentos antecipados à Global relativos à aquisição dos medicamentos Myozyme, Fabrazyme e Aldurazyme”, diz Renan Calheiros em seu relatório.

O relator cita a RC1 Incorporações, sociedade de Barros e sua mulher, Maria Aparecida Borghetti. A empresa auferiu receita bruta de R$1,78 milhão em 2017, embora tenha um só funcionário e não tenha emitido nenhuma nota fiscal, segundo informações da CPI. Mesmo sem nenhum faturamento declarado em 2018 e 2019, distribuiu R$ 1,3 milhão em dividendos para Barros e Borghetti.

Outro CNPJ de Barros citado é o da empresa BB Corretora Ltda. "Com apenas 4 funcionários, a empresa faturou, somente em 2019, R$ 2.305.000,00, sem emitir qualquer nota fiscal. No mesmo período, distribuiu ao sócio Ricardo Barros R$ 1.850.110,00, a título de lucro/dividendo."

A RC4 Incorporações Ltda., também de Ricardo Barros, faturou de 2018 a 2020 R$ 2,2 milhões, mesmo com um único funcionário e sem emitir ou receber notas fiscais. A BB Corretora Ltda. e a RC4 foram autuadas pela Receita Federal em respectivamente R$ 1,8 milhão e R$ 6,48 milhões por "operações realizadas no período de 2013 a 2015".

"Uma terceira empresa em nome de Ricardo Barros, a Mineralizadora Fonte de Luz Ltda, emitiu R$ 308.000,00 em notas fiscais de 2016 a 2019, sem nenhuma nota de entrada", prossegue o texto. "Pelo menos uma dezena de empresas em nome de Ricardo Barros seguem abertas, sem funcionários e sem faturamento, segundo apontam as análises."

No trecho sobre as empresas de Barros, o relatório fala também de Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, que vendeu a Covaxin. "Situações como as demonstradas pelos documentos apresentados pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil demandam o aprofundamento das investigações fiscais por parte da Receita Federal em relação às empresas que possuem como sócio o deputado federal Ricardo Barros e o empresário Francisco Emerson Maximiano."

Com 1.178 páginas, parecer pede 72 indiciamentos

O documento, que começou a vazar no fim de semana, provocando uma crise interna na CPI, tem 1.178 páginas e foi, enfim, entregue por Renan aos integrantes do colegiado na noite de segunda-feira (18), impresso em papel. 

O parecer prévio da CPI sugere o indiciamento de Renan Calheiros outras 70 pessoas e de duas empresas. 

Está marcada para 19h desta terça-feira uma reunião do chamado G7, grupo que reúne os sete senadores mais atuantes da CPI, na casa de Tasso Jereissati. Eles pretendem selar um consenso em torno do parecer de Renan Calheiro. 

O senador Randolfe Rodrigues afirmou na manhã desta terça que não tem chance de um novo adiamento da leitura do relatório, prevista para esta quarta-feira (20).

Veja os detalhes do relatório de Renan Calheiros no vídeo da repórter Lucyenne Landim:
 

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