Pré-candidatos

De olho nas eleições de 2022, senadores aproveitam os holofotes da CPI

Desempenho dos senadores terá reflexos na disputa para o Legislativo e nos pleitos estaduais. Vários integrantes da comissão terão os seus nomes nas urnas ano que vem

Por Franco Malheiro
Publicado em 05 de julho de 2021 | 07:00
 
 
 
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A CPI instaurada no Senado Federal para investigar a gestão do governo Bolsonaro na pandemia da Covid-19 terá implicações diretas nas eleições de 2022. Seja no pleito presidencial, em que Jair Bolsonaro (sem partido) disputa a reeleição, ou servindo de palanque aos senadores membros que vão tentar a reeleição ao Parlamento ou que pleiteiam outras vagas, como de governador de Estado ou até mesmo de presidente da República.

Com apenas uma das três cadeiras ao Senado destinadas a cada Estado em disputa em 2022, a eleição será mais competitiva do que em 2018. Dos 18 membros da CPI – entre efetivos e suplentes –, ao menos 12 pensam em concorrer ao governo de seus Estados no próximo ano, outros três devem tentar a reeleição ao Senado. 

Entre os senadores titulares da base governista, o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, já se coloca como pré-candidato na diputa pelo governo do Piauí; Jorginho Mello (PL) é pré-candidato a governador de Santa Catarina; Marcos Rogério (DEM) estuda concorrer ao Executivo de Rondônia; e Eduardo Girão (Podemos) pode disputar o governo do Ceará. 

Já entre os suplentes alinhados a Bolsonaro, o senador Luís Carlos Heinze (PP), que vem se destacando como membro da tropa de choque do governo, já demonstrou interesse em concorrer ao governo do Rio Grande do Sul.

Oposição

Entre os senadores titulares independentes e oposicionistas, o presidente da CPI, Omar Aziz, pode tentar o governo do Amazonas, embora seja mais provável que ele busque a reeleição ao Senado, já que termina seu mandato de oito anos nesta atual legislatura. Aziz tentou o governo estadual em 2018, mas ficou em quarto lugar. 

Outro senador do Amazonas que pode disputar o governo é Eduardo Braga (MDB). Ele comandou o Estado entre 2003 e 2010, quando renunciou para disputar a vaga ao Senado. 

O senador Otto Alencar (PSD), intitulado independente, mas com atuação contra o governo, tem o nome circulando para a disputa ao governo da Bahia em 2022. Ele já foi governador interino e vice-governador. No entanto, a candidatura ainda é tímida, e ele pode se colocar para a reeleição ao Senado.

Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, é cotado para disputar o governo do Amapá. Circula também a possibilidade de o petista Humberto Costa concorrer ao governo de Pernambuco. O parlamentar não afasta a possibilidade, mas rejeita tratar do assunto no momento.

Já os suplentes da comissão parlamentar Rogério Carvalho (PT) e Alessandro Vieira (Cidadania) podem ser concorrentes na disputa ao governo de Sergipe. 

Pai e filho

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB), tem mandato no Senado até 2026. Seu filho, no entanto, o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), pode tentar uma vaga na Casa em 2022, e a atuação do pai pode refletir em sua candidatura. 

Jader Barbalho (MDB-PI) não deve disputar nenhum cargo em 2022, já que seu mandato no Senado só termina em 2026. No entanto, seu filho, o também emedebista Helder Barbalho, pretende se candidatar à reeleição ao governo do Pará nas próximas eleições.

Outro senador que termina o mandato em 2022 e visa outro cargo é Tasso Jereissati (PSDB). O tucano é um dos nomes que disputam as prévias tucanas para a escolha do candidato do partido à Presidência da República. Caso Jereissati não seja escolhido pelos correligionários, o tucano deve disputar a reeleição ao Senado pelo seu Estado, o Ceará. 

Já os senadores Marcos do Val (Podemos- ES), Angelo Coronel (PSD-BA) e Zequinha Marinho (PSC-PA) não devem concorrer a nenhum cargo em 2022, pois ainda possuem mais quatro anos de mandato no Senado. 

Oposição abre frente contra os governistas

Com o desgaste natural que uma CPI causa em qualquer governo, os senadores que ocupam o campo oposto ao Executivo tendem a ter um melhor desempenho eleitoral em 2022 do que os que compõem a trincheira de defesa a Bolsonaro na comissão. Isso, principalmente, se o resultado dos trabalhos desidratar drasticamente o governo. 

Segundo o professor de ciência política da UFMG e diretor do Instituto de Pesquisa Quaest, Felipe Nunes, todos os membros da CPI têm alcançado uma visibilidade muito maior, e isso têm consequências políticas. Isso, de acordo com ele, pode ser percebido no Índice de Popularidade Digital (IPD) dos senadores membros. O IPD mede a popularidade e o engajamento de figuras públicas nas redes sociais.

Nunes reitera que os índices dos senadores da oposição têm se mostrado maiores do que os dos governistas. “A CPI, que geralmente desgasta o governo, também tem um efeito sobre os membros do governo, ou aqueles senadores que em tese seriam responsáveis por defender o governo”, explicou. 

Ainda de acordo com o pesquisador, em média, senadores da oposição cresceram 30% em IPD, enquanto os governistas tiveram queda de 12% em média.

Já o também cientista político e professor do Ibmec e da Ufop, Adriano Cerqueira, analisa de uma forma mais regionalizada. “Senadores nordestinos que estão atuando contra o governo e alinhados com a candidatura de Lula tendem a ser mais beneficiados mesmo, até porque o sustentáculo eleitoral de Lula tem sido o Nordeste. Já no Sul e Sudeste, Bolsonaro ainda tem forte presença com popularidade e intenção de votos, então a atuação de senadores governistas dessas regiões na CPI tende a ser benéfica para eles", afirmou o cientista político. 

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