Brasília

Delator da Caixa de Pandora, Durval é esfaqueado pela mulher, que alega surto

Ele foi a principal testemunha da investigação que culminou na operação deflagrada em 2009 e que desnudou o até então maior esquema de corrupção da história do DF, na gestão de José Roberto Arruda

Por Renato Alves
Publicado em 20 de setembro de 2022 | 09:44
 
 
 
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Delator da Caixa de Pandora, Durval Barbosa Rodrigues, 70 anos, foi esfaqueado na tarde desta segunda-feira (19), na 114 Sul, área nobre de Brasília. Ele foi atingido no abdômen com um golpe desferido pela mulher, Fernanda Barbosa, 26. Presa em flagrante e autuada por tentativa de homicídio doloso (quando há intenção de matar), ela confessou o crime e alegou estar em surto psicótico em decorrência de uma depressão pós-parto. Ela deu à luz a um casal de gêmeos no fim de abril e perdeu os bebês dois dias depois. 

Aos policiais militares que atenderam a ocorrência, após a corporação receber um pedido de socorro de Durval, o casal relatou ter havido uma briga na residência. Fernanda, que tinha marcas de agressão pelo corpo, contou aos agentes de segurança que fez uso de medicamentos e, para se defender de uma investida do marido, o esfaqueou na barriga. A mãe de Fernanda Barbosa, Rosa Cleonice de Jesus, 45, disse em entrevistas que foi informada pela própria filha sobre o ataque a Durval e reforçou a alegação de surto, assim como os advogados de defesa. 

Chefe da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), o delegado Jônatas Silva disse que, apesar da alegação de legítima defesa, Fernanda foi indiciada por tentativa de homicídio. Ele ainda pediu um exame médico-legal de insanidade mental da mulher, que passará por audiência de custódia nesta terça-feira (20). Um juiz definirá se ela continuará presa ou responderá o processo em liberdade. A acusação pode render uma pena de seis a 12 anos de prisão, caso seja condenada.

Já Durval Barbosa segue internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), para onde foi levado por uma equipe do Corpo de Bombeiros. O quadro é estável, mas não há previsão de alta.

Vídeos de Durval levaram à prisão de condenação de José Roberto Arruda

Durval ficou conhecido nacionalmente como a principal testemunha do Ministério Público na investigação que culminou na Operação Caixa de Pandora, deflagrada em 2009 e que desnudou o até então maior esquema de corrupção da história do Distrito Federal, levando à prisão e condenação do governador José Roberto Arruda, além de secretários do governo dele, deputados aliados e empresários.

Ex-delegado da Polícia Civil do Distrito Federal, Durval Barbosa havia sido secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal durante a gestão de Joaquim Roriz. Influente na política, na polícia e na da Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan), onde tinha controle de contratos milionários, ele continuou à frente da secretaria na gestão de José Roberto Arruda, então no DEM.

Em setembro de 2009, sob investigação do Ministério Público do Distrito Federal, Durval confessou que comandava um esquema de distribuição de dinheiro desde a gestão Roriz. Entre outros, Durval recebia propinas de empresários para fechar ou manter contratos com a administração pública e dividia parte do dinheiro sujo com políticos. Mas, sem saber, os participantes da fraude eram filmados por Durval, na sala em que mantinha seus negócios criminosos.

Além dos depoimentos, Durval entregou à Justiça 31 vídeos, gravados no gabinete dele, em que políticos aparecem recebendo propinas, colocando dinheiro em mochilas, bolsas, malas e até na cueca. Uma das gravações mais emblemáticas mostra Arruda, então governador, recebendo pacotes de dinheiro das mãos do próprio Durval. 

A imagem foi crucial para a decretação da prisão de Arruda, que se tornou o primeiro governador brasileiro preso no exercício do mandato. Ele passou semanas detido na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, até ganhar o direito de responder aos processos em liberdade, mas não escapou da cassação. Brasília passou a viver o momento mais turbulento da sua história política, tendo três governadores em uma mesma semana. 

Desses, além de Arruda, seu vice, Paulo Octávio (também no DEM), também foi exposto na delegação de Durval, respondendo a processos. Enquanto aguardam decisões definitivas da Justiça Eleitoral, com candidaturas questionadas por causa da Lei da Ficha Limpa, tanto Arruda quanto Paulo Octávio tentam voltar à vida pública.

Arruda, agora no PL de Bolsonaro, concorre a deputado federal, com a mulher dele, a ex-ministra Flávia Arruda, tentando uma cadeira no Senado  também pelo PL com o apoio do presidente da República. Já Paulo Octávio, dono do maior grupo empresarial do DF, é candidato a governador, aparecendo em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto e enfrentando novas denúncias de corrupção.

Vale lembrar que Arruda, antes de ser preso como governador, foi senador, tendo renunciado ao cargo, para não ficar inelegível, após fraudar o painel do Senado. Ele voltou ao Congresso como o deputado federal mais votado na história do DF, o que o gabaritou a concorrer ao governo da capital, até surgir a Caixa de Pandora.

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