INDICAÇÕES POLÍTICAS

Disputa interna no PT mantém bolsonarista na Superintendência do Incra em MG

Para pressionar por troca de gestor, MST ocupa a sede da instituição em Belo Horizonte e ainda cobra a retomada do processo de reforma agrária no Estado

Por Ana Karenina Berutti
Publicado em 17 de abril de 2023 | 14:38
 
 
 
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Uma disputa entre lideranças do PT para indicar nomeações dos cargos de gestão e presidência de órgãos federais no estado vem travando a nomeação do novo responsável pela Superintendência Regional do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) em Minas. Enquanto isso, Batmaisterson Schmidt, que foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ocupou o cargo durante os quatro anos da gestão passada, segue interinamente no comando da instituição.

A paralisação no processo de nomeação culminou na ocupação da sede do Incra, em Belo Horizonte, nesta segunda-feira (17/4), por cerca de 400 manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O nome de consenso no MST indicado para assumir o comando do Incra no Estado é o da ex-vereadora de Belo Horizonte, Neila Batista (PT), historicamente ligada ao movimento e que tem o apoio do deputado federal Rogério Correia (PT) para assumir o Incra.

Segundo fontes ligadas ao Partido dos Trabalhadores no estado, a disputa pelo comando do Incra se acirrou porque o deputado federal Rogério Correia já teria emplacado Carlos Calazans na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais. A indicação de Neila Batista seria a segunda de Correia. E o acordo interno entre as lideranças do partido é que cada parlamentar teria direito a apenas uma indicação para cargos de maior relevância.

Para a reportagem, fontes do MST relataram que, por isso, o deputado federal Padre João estaria travando todo o processo de negociações de indicações feitas pela bancada do partido. O parlamentar quer ficar com a indicação da presidência das Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas).

O nome de consenso no PT para assumir a presidência da CeasaMinas seria o do secretário-geral do partido em Minas, Carlos Magno Ribeiro, que disputou uma vaga na Assembleia Legislativa nas eleições do ano passado e não se elegeu. Nem mesmo Carlos Magno contaria com o apoio do deputado Padre João.

Ainda de acordo com fontes do MST, enquanto não se resolve o imbróglio político dentro do PT, Luciano José de Oliveira segue no comando da Ceasa com o apoio do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD). "Enquanto as nomeações do Incra e da Ceasa não acontecem, instituições historicamente ligadas ao movimento dos trabalhadores rurais seguem sendo comandadas por bolsonaristas", assinalou a fonte do MST à reportagem de O TEMPO.

À reportagem, Padre João explicou que coube a cada um dos dez deputados do PT fazer duas indicações. No caso dele, a primeira indicação seria que um servidor de carreira, com perfil técnico, assumisse o comando da Ceasa. E sua segunda indicação seria para que outro servidor de carreira comandasse a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

"Deixei claro na reunião entre a bancada do partido e os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil) que, se não fosse possível atender minha primeira indicação para a CeasaMinas, a minha primeira indicação passaria a ser para a Superintendência do Incra", esclareceu. Segundo Padre João, "cabe ao governo implementar a primeira indicação de cada parlamentar".

Padre João disse, ainda, que está prevista para esta terça-feira 918), uma reunião entre o ministro Padilha e a bancada do PT para decidir sobre as primeiras indicações de cada parlamentar.

Já o deputado Rogério Correia disse que o nome da ex-vereadora da capital, Neila Batista, tem todo o seu apoio. Correia disse que ela é uma "excelente indicação por ser uma militante exemplar". "Essa foi uma construção do MST que sugeriu e reivindica o nome da Neila Batista. E eu apoio a indicação do MST". afirmou.

MST já faz críticas às políticas agrárias do governo Lula

Além de protestar contra esse impasse político, o MST organizou a ocupação para cobrar a retomada no processo de reforma agrária no Estado que está parado há seis anos. O movimento critica a demora do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Questões como regularização dos assentamentos e conessão outorgas de água estão paralisados. A reforma agrária em Minas Gerais estaria, segundo o MST, mais atrasada que nos demais Estados.

A ocupação do MST na sede da Superintendência do Incra em Minas Gerais faz parte da 26° Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária e ocorre em todo o Brasil neste mês de abril e marca os 27 anos de impunidade do massacre de Eldorado e do Carajás (PA). O MST reivindica mais celeridade no processo de nomeação do superintendente do órgão, retomada do processo de vistoria e desapropriação de terras, cadastramento das mais de 3 mil famílias acampadas no estado e regularização das famílias assentadas.

Os manifestantes devem permanecer durante todo o dia na sede do Incra e vão decidir se saem ou não do local dependendo do andar das negociações. A ocupação não obstruiu a entrada dos servidores e o Incra permanece funcionando normalmente.

A reportagem de O TEMPO entrou em contato com o Incra que informou que a instituição "tem trabalhado pela retomada do programa de reforma agrária no Brasil, paralisado nos últimos anos, e está dialogando com toda a sociedade e suas organizações representativas". Além disso, o Incra informou que, em Belo Horizonte, vai receber a pauta de reivindicações dos trabalhadores e agricultores que estão na sede da instituição. Sobre as nomeações para as superintendências regionais do Incra, a instituição afirmou que elas são tratadas na Casa Civil e na Secretaria de Relações Institucionais.

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