ENTREVISTA

Kalil comenta eleições em BH, ataca Zema e fala sobre distância de Lula; veja a entrevista completa

Ex-prefeito de Belo Horizonte concedeu entrevista exclusiva à reportagem de O TEMPO

Por Cynthia Castro, Guilherme Ibraim e Thalita Marinho
Publicado em 23 de maio de 2024 | 10:00 - Atualizado em 23 de maio de 2024 | 16:18
 
 
 

O ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) concedeu entrevista exclusiva à reportagem de O TEMPO e deu detalhes sobre a postura que pretende adotar durante as eleições municipais, a relação com o presidente Lula pós-aliança, em 2022, e a avaliação que faz da gestão do governador Romeu Zema (Novo), com quem disputou a corrida eleitoral, há dois anos.

Leia e assista a entrevista completa:

 

Quais são os planos do senhor para 2024? O senhor vai participar da eleição de Belo Horizonte de que maneira? Essa é uma pergunta que o mundo político tem feito recentemente. Onde Alexandre Kalil estará: como observador ou como participante do pleito deste ano?


Eu ainda não decidi. Quando eu decido, eu falo. Eu estou avaliando. Não sou um cara que caminha sozinho. Nós temos um grupo, então está todo mundo conversando sobre as possibilidades. Então nós já estamos nos reunindo e conversando sobre isso. E nós temos dois caminhos muito claros: o primeiro é participar e o segundo é não participar. Eu estou falando essa obviedade, mas eu posso não participar. Acho que eu não tenho essa obrigação, porque é muito importante a gente não ter obrigação moral de participar. Eu tenho comigo um sentimento sempre que é o uso da gratidão. Se eu sou grato a alguém, eu teria que participar, e não é o caso. Então eu vou fazer uma avaliação muito tranquila, liderando esse grupo na eleição municipal, porque eu não lidero esse grupo em outras eleições, mas nós não definimos nada. 


Mas e em relação aos nomes já postos? O senhor teve encontros recentes com Carlos Viana (Podemos-MG), com Duda Salabert (PDT) e com o prefeito Fuad Noman (PSD). Tem alguma afinidade maior em relação a esses pré candidatos? 


Olha, eu encontrei com Rogério Correia (PT), eu encontrei com a Duda, encontrei com o Fuad, encontrei com o Viana, encontrei com (Mauro) Tramonte (Republicanos), e eu sou amigo de todos. Eu sou amigo de todos, tenho todos em ótima conta. Então eu falar em afinidade seria até um desrespeito a alguns deles, de certa forma. Eu tenho afinidade com todos eles. Conversamos muito bem com todos, mas é aquilo que eu disse anteriormente. Eu não tenho compromisso com nenhum deles e isso deixa o nosso grupo muito à vontade para resolver o que fazer na eleição municipal. 


Nos bastidores, é ventilada a possibilidade de que o senhor apoie o deputado estadual e pré-candidato à Prefeitura de BH Mauro Tramonte. Ele é, de fato, o nome com maior chance de ter seu apoio?


Eu não defino possibilidade, não sei como é que se avalia isso. O Tramonte é um querido amigo, foi no meu comitê quando eu era candidato ao governo de Minas. Eu tenho por ele um apreço enorme e tenho uma relação muito boa com quem está em volta dele, do Gilberto Abramo (presidente municipal do Republicanos). Mas tenho também com o Fuad, com a Duda, com o Rogério. Eu tenho relação com todo mundo. Eu não tenho  porque dizer que o Tramonte seria melhor que os outros. 


Há alguma mágoa em relação ao prefeito Fuad Noman? Ficou alguma coisa mal resolvida entre vocês e que poderia, talvez, não trazer esse apoio do do ex-prefeito Kalil ao atual prefeito para uma reeleição?


Em absoluto, nada. Eu tenho comigo que quando você deixa uma cadeira, você se levanta da cadeira. Se eu quiser ficar mandando na prefeitura, eu teria ficado. Eu fiz assim no Atlético, apesar deles tentarem não me esquecer. Mas eu tento ser esquecido tanto no Atlético quanto na prefeitura. Eu levantei e não tem absolutamente nada. Até porque se tivesse mágoa eu já descartaria o apoio ao Fuad de imediato e todo mundo saberia porque eu não sei guardar mágoa em segredo. Eu sou um falastrão em matéria de qualquer coisa que aconteceu e já cuspi pra fora que eu tinha mágoa, que ele podia me esquecer. Não é o caso, não é mesmo. Não tenho nem com a Viana. Eu tive uma mágoa porque o Viana falou que não encontrou comigo ou foi o chefe de gabinete dele. Encontrou sim. Foi lá no meu escritório e me chamou no gabinete dele, me encontrou duas vezes. Então eu fico puto é que vai e depois fala que não (foi) para dar de bacana. Encontrou sim, me  encontrei com todos, porque eu não sou mentiroso. Mentiroso é o assessor dele que falou que não encontrou.


Deixa eu lhe perguntar sobre a palavra gratidão que eu mencionou no começo da nossa conversa. Qual é o tamanho dessa gratidão com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab? Ela é grande a ponto de que ele possa definir o caminho que o senhor vai seguir nessas eleições a partir de um pedido dele? Ou essa decisão, inevitavelmente, será somente de Alexandre Kalil? Com que parcela da participação do partido isso deve acontecer? 


Eu sou muito cuidadoso nisso. Eu tenho uma gratidão muito grande pelo Kassab e todo mundo sabe disso, porque eu falo as coisas, eu verbalizo meu sentimento. Eu não preciso nem de comprar rádio pra falar o que eu penso e nem de comprar televisão. Eu tenho boca e tenho coração e personalidade para isso. O que acontece é o seguinte:  eu tive uma conversa com Kassab há mais de um ano para tratar da eleição municipal. Eu tenho uma gratidão e um respeito enormes. Aliás, eu troquei mensagens com ele hoje, coincidentemente, antes de chegar aqui. Mas eu acho que se fosse para acontecer alguma coisa, provavelmente o presidente Kassab já teria me chamado para uma conversa, o que não aconteceu. Ele sabe da minha posição de independência no caso, até porque o PSD é um partido diferente. Porque ninguém pode exigir que eu apoie alguém quando o próprio partido não exigiu que o PSD me apoiasse na minha eleição, que ninguém me apoiou, né? Então eu estou muito à vontade e por isso que eu me sinto muito confortável no PSD. 


O Fuad, que é do PSD, ainda é uma opção ou ele está totalmente descartado entre aqueles que o senhor poderá apoiar? E o senhor se mantém no partido ou tem alguma intenção de sair em algum momento? 


O Fuad, talvez seja o pré-candidato que tem o apoio mais importante. O Fuad é apoiado pelo presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que fez uma declaração sólida, que exigiu a saída de um grupo político da prefeitura. Pelo menos foi o que eu li no jornal O TEMPO. Então o Fuad está muito bem apoiado, tem o apoio do Rodrigo Pacheco, que é o segundo cargo mais importante deste país. Ele já está sustentado politicamente por apoios importantes. Então eu não vejo qualquer dificuldade, de o Fuad ser carta fora. De todos os candidatos – você tem um deputado apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), um apoiado pelo presidente Lula e Fuad apoiado pelo presidente do Congresso. Então são três que já têm respaldos políticos importantes para disputar a eleição. Você não pode falar com o candidato desse está fora do contexto. Agora cabe ao Bolsonaro, ao Lula e ao Rodrigo vir cá fazer as campanhas em Belo Horizonte. 


E o senhor se mantém no partido?


É claro. O PSD tem dono, tem quem manda em Minas Gerais, que se chama Gilberto Kassab. O resto, eu já falei isso na eleição para governador, ninguém manda nada aqui. Nada, zero. Quem manda se chama Gilberto Kassab. Se ele não quiser que eu fique no partido, ele não vai ter nem que me expulsar, por telefone ele me tira do partido. 


O senhor citou o ex-presidente Bolsonaro, o presidente Lula, Rodrigo Pacheco. Mas o senhor sabe, acredito que tenha consciência, do peso do seu apoio. Em que momento o senhor percebeu que o seu apoio seria tão importante e que, talvez, possa ser decisivo para a eleição de 2024 em Belo Horizonte?


Eu tenho dito uma coisa – e a gente, quando fala uma coisa, tem que estar convicto –, todo apoio é importante. O que foi feito na minha gestão, o que nós passamos à frente da Prefeitura de Belo Horizonte, foram momentos absolutamente únicos. Porque veio aquela chuva, aquela tromba d'água, veio aquela pandemia. Nós tínhamos que nos abraçar na prefeitura, junto com o povo, foi uma tragédia atrás da outra, nos abatendo. Então, eu acho que eu fui um prefeito que marcou a cidade. Então eu tenho o que chamam de recall, um carinho da população por tudo que foi feito e ódio também. Eu acho que o apoio de todo mundo que tem o carinho da população de BH é importante e pode ser até muito importante. Mas ninguém, nem Lula e Bolsonaro, vai carregar a candidaturas. Nós temos que lembrar que a mulher está no ponto de ônibus, que precisa de médico, precisa de remédio, precisa de um ônibus sem goteira, que precisa recapeamento das ruas, de merenda decente, de creche, de professora. Então o meu apoio pode até desempatar uma eleição, pode dar um plus numa eleição que esteja muito dura. Agora, idiota é quem acha que vai colocar um candidato nas costas e levar ele para o segundo turno por uma vitória. Nem o Lula, que é um político muito importante, faz isso. Nem o Bolsonaro, que é muito importante, faz isso. Imagine eu. Eu não me iludo com isso. Sei sim, também não sou bobo ou idiota, sei que o meu apoio pode desempatar uma eleição em Belo Horizonte, pode dar um plus para o candidato. Mas eu aprendi a fazer o seguinte:  qual é a minha responsabilidade com essa população, com o futuro governo? Qual é o compromisso desse futuro governo comigo, de colocar o meu nome em alguma coisa? (Meu nome) que não é grandes nomes, não, mas eu zelei muito por ele junto à população de Belo Horizonte. Então tenho muito cuidado de retribuir o carinho dessa população comigo, tendo a responsabilidade de, se tomar algum partido, não vai ser por escolha pessoal ou benesse pessoal, porque não tem nada na prefeitura que me interessa, porque eu fui prefeito e eu tinha todos os cargos aqui e todas as secretarias. Eu tinha tudo a meu dispor e renunciei isso por três anos. Então não tem nada lá que me interessa, a não ser o atendimento da população. 


A atual gestão na Prefeitura de Belo Horizonte, do prefeito Fuad, zela por esse legado que o senhor mencionou que é lembrado pelo eleitor?  Ela faz aquilo que o senhor gostaria de ver feito se estivesse sentado naquela cadeira?


Bem, cada prefeito é um prefeito. No jornal, um editor tem uma linha de edição. Se trocar, por mais que a pessoa já trabalhasse com esse editor, é outra cabeça, é outra pessoa. Então eu sou completamente diferente do Fuad para governar, não tenho a menor dúvida. Eu tenho muito mais defeitos e tenho algumas qualidades. Mas eu sou completamente diferente do Fuad para governar Belo Horizonte.


No cenário atual, o senhor vislumbra quais nomes no segundo turno para a Prefeitura de BH? Arriscaria um palpite? Quem o senhor acha que vamos ver disputando o apoio do Kalil no segundo turno?


Ninguém vai disputar. Vão ter que disputar o voto do eleitor. Mas vou responder direto: não tenho nem ideia, porque apesar de nós estarmos a cinco meses da eleição, estamos muito longe. Acho que o político esquece do voto. Ele só lembra do voto na hora da eleição. Eu tenho essa qualidade. Eu lembro do voto o tempo todo. Eu lembro que o povo tem que escolher o tempo todo. Então quando o cara senta, faz bonito – e eu vejo cada barbaridade em tudo, na política, no futebol –, ele não pensa na torcida, o cara não pensa no voto. Mas chega agora e diz: agora eu quero o povo. Mas amigão, agora o povo esqueceu, entendeu? O povo não lembra. Isso que você fez não é bom para o povo. Devia ter pensado nisso na hora do voto. Então agora que nós vamos condensar, porque agora vai todo mundo colocar os podres de todo mundo pra fora, porque é eleição, o pau vai quebrar, e vamos ver o que vai acontecer. O povo não cobra, o povo não lembra. E um povo que vai sendo abatido pelo esquecimento em todas as eleições está fadado a ser enganado. Então, nós vamos chegar nesse ponto, ainda vou conversar sobre isso, mas eu perdi uma eleição. Hoje eu te falo eu perdi uma eleição por um rio de mentiras que foi jogado contra mim.


Para o senhor, o que as pessoas deveriam lembrar daquela eleição (para governador de Minas, em 2022)?


Cadê os seis hospitais que foram prometidos em campanha? Cadê o Estado nos trilhos? Falaram que o Estado ia entrar nos trilhos e estamos devendo R$ 170 bilhões e com a capacidade de endividamento em 240%. O comprometimento da prefeitura de Belo Horizonte é de 5% da receita. O do governo do Estado é de 240%. O que foi feito? Isso me derrotou. Hoje eu estou falando o que me derrotou. Não é salário do governador de R$ 40.000, não. É porque eu gritei que não ia fazer um hospital, porque eu gritei que era mentira. Estamos falando de R$ 240 milhões por mês de despesa com hospital. Cadê os hospitais? Quem fala nisso? Cadê a recuperação da malha viária? Cadê o Estado no trilho? Não estão preocupados com o salário do governador. E prometeu o reajuste, recompor o salário (dos servidores). Não recompôs. Isso foi só só mais uma. Mas o funcionário público, que faz muito bem, ele berra e todo mundo fica sabendo. Cadê os seis hospitais que me derrotaram? Cadê a recuperação na malha viária que me derrotou? Não, está tudo bem. Ah,  porque o salário dele agora é R$ 40.000, subiu 300%. Tá bom, passou. Isso não interessa. Ele não prometeu que ia continuar com o salário dele, ele não quebrou nenhuma promessa. Então, onde é que está o povo mineiro, o grupo político mineiro, a imprensa para perguntar: ‘governador, está faltando seis hospitais, está faltando colocar Minas Gerais no trilho e está faltando a recuperação da malha viária. Foi tudo prometido e isso me derrotou. Eu perdi a eleição por isso, Minas no trilho, hospital, e eu gritando que não tinha hospital, que não tinha dinheiro, que Minas não estava no trilho. Isso aqui não é crítica de derrotado. Eu perdi e estou falando.  Tem que ser assim no governo municipal, no estadual e no federal. 


Na avaliação do senhor, foram mentiras em promessa de campanha ou o governador não conseguiu concretizar?


Era mentira, não tem como concretizar. Como é que você vai fazer um plano de recuperação fiscal e abrir seis hospitais, se você está proibido de contratar servidor público? Como é que o Estado que não consegue reformar a Cidade Administrativa vai manter seis hospitais e recuperar a malha viária? Estou falando da obra da Cidade Administrativa, que é de 2010, e agora o problema é que foi mal construída. Qualquer neófito sabe que o seguro de construção é de cinco anos. E o problema do outro, do outro. Agora nem é do PT mais, o problema é de quem construiu o centro. Não é crítica de perdedor, gente. Hoje não existe cobrança no Brasil, não existe cobrança em Minas Gerais. Eu tenho uma desvantagem. Eu não prometi o Vilarinho, Eu não prometi um centro de saúde novo a cada dois meses. Eu não prometi nada que eu fiz para Belo Horizonte. Prometi pôr para funcionar o que tinha. 


E quando o senhor  faz a crítica dessa ausência de lembrança, de alguma maneira ela vai direcionada também à oposição? Você está falando de um nível de debate político em que a oposição em Minas não é capaz também de apresentar esses pontos em relação ao governo Zema?


Eu não estou preocupado em cobrar do governo Zema porque ele foi vitorioso no primeiro turno. Ele tem legitimidade para governar com autoridade. Eu estou falando porque vai chegar a próxima eleição municipal e daqui a pouco tem a federal, estadual. Então está na hora de começar a falar assim: ‘não promete o que não vai cumprir’. Porque cobrar não cobra, não tem capacidade de cobrança. É tudo distribuído assim: toma tantas secretarias, toma que tem mais emprego. Eu acho que a fórmula do sucesso da minha gestão foi o seguinte: aqui não, aqui vai trabalhar quem sabe trabalhar e vão tratar de política lá fora. A questão é que Minas Gerais está emburacada há muitos anos e ninguém assumiu o papel de tirar Minas Gerais do buraco. O Brasil está emburacado há não sei quantos anos e ninguém assumiu o papel de tirar o Brasil do buraco. Então se a gente for falar  de prefeitura municipal, demagogia, irresponsabilidade, cuidado que vão emburacar Belo Horizonte. Tem que ter responsabilidade e saber o que fala. 


Em algum momento o senhor se arrependeu de ter saído da prefeitura naquele momento para disputar o governo de Minas? Se tivesse continuado o mandato, o senhor acha que o resultado da próxima eleição estadual poderia ser diferente? Porque o senhor sairia daquele período de pandemia, que foi muito conturbado, e teria mais tempo, talvez, de mostrar que o atual governo do Estado não ia conseguir fazer tudo isso que promete e todas essas críticas que o senhor trouxe aqui. 


Eu não me arrependo de nada do que eu faço. Foi o momento. Eu estou vivendo um momento muito legal da minha vida. Eu estava precisando de férias desde 1999, então eu não me arrependo nem um minuto. Estou esperando só eu cansar de ficar aposentado. Está demorando muito e eu estou preocupado com isso. Acho que eu saí na hora certa em tudo da minha vida. Eu saí do Atlético na hora certa, saí da prefeitura na hora certa. Tudo foi muito pensado. Em momento nenhum eu não quis voltar à prefeitura, não quis ser prefeito em nenhum segundo. Eu estava com saudade de abrir minha porta, de carregar minha sacola, de dirigir meu carro. Eu me cobro ao contrário, poxa vida, porque eu não aproveitei mais a minha vida? O Mário Quintana falava isso. Eu fiquei velho, carreguei muito guardachuva. Porque eu não tomei um pouquinho de chuva? É mais ou menos isso que eu penso da minha vida. Eu podia ter saído um pouco mais cedo, ter aproveitado mais a minha vida, que é uma vida muito simples, aproveitar a vida é estar com os netos, estar com a família, fazer uma comida, pegar um livro, dar um passeio de motocicleta, nada mais que isso. Mas eu podia ter feito isso há mais tempo.


O senhor falou em uma entrevista há algum tempo que, em 2026, Alexandre Kalil participará da política. Não se sabe exatamente em que posto. Não estava definido naquele momento. Olhando para esse cenário de aposentadoria, de estar mais com os netos, mudou esse cenário?


Não. Ninguém briga com número. Política a gente participa se tiver voto. Eu adoraria ser presidente da República, só que tem que ter voto. Ah, eu quero ser governador... tem que ter voto. Senador tem que ter voto, assim como deputado, prefeito, vereador . Então daqui a dois anos nós vamos ter o quadro, mostrando quem tem voto, quem tem traço. Há quem queira, mas  tem 2% (de intenção de votos).. Então vá para casa cuidar da sua vida ou tentar um cargo menor. Então, em 2026, eu posso sair numa campanha majoritária, qualquer uma, posso sair para deputado ou posso ir pra casa acabar de cuidar do meus netos. Isso aí são os números que vão falar. 


Ainda sobre 2026, o senhor citou promessas não cumpridas do governador Romeu Zema. O senhor acredita que o Zema pode ser um presidenciável que vá ocupar um espaço deixado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível? Ele poderia ocupar esse espaço no bolsonarismo? 


Não, porque ele não tem o que mostrar. Só por isso. Para sair em uma campanha presidencial é preciso colocar na mesa (o trabalho já feito). Dizer: ‘olha, eu recuperei o Estado de Minas Gerais. O Brasil não vai cair mais nessa de  ‘ah, eu vou beijar o Bolsonaro’, ‘eu vou beijar o Lula’ se não tiver nada para mostrar. Eu acho que quem está trabalhando, está recuperando Estados, quem tiver currículo, tem que se apresentar (como candidato). Não tem nada, não tem de estar presente. Mas eu não estou aqui para criticar Zema, pelo amor de Deus. Quem está em cargo e quer ser eleito ou reeleito para alguma coisa vai ter que mostrar currículo. Eu não quero agredir ninguém. Só acho que não por causa disso


Falando sobre Belo Horizonte, temos, entre os nomes colocados como pré candidatos à prefeitura, o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo, que teve grandes embates com o senhor quando Kalil era prefeito. Na última pesquisa DATATEMPO, Gabriel registrou 2,2% das intenções de voto. O senhor acha que ele está fazendo uma escolha errada? 


Nós estamos aqui discutindo a eleição para Belo Horizonte, então não vamos falar de traço (em pesquisa). Nós temos que falar do Mauro Tramonte (Republicanos), do Carlos Viana Podemos-MG), do Bruno Engler (PL), da Duda Salabert (PDT), do Rogério Correia (PT) e, obviamente, do Fuad Noman (PSD). Então se formos falar desse presidente da Câmara e daquela secretária do Zema (Luísa Barreto, do partido Novo), nós não vamos falar de eleição. Temos que falar de quem realmente tem chance.


O senhor teve um foco muito importante, durante as suas gestões como prefeito, na melhoria das condições de saúde. Essa é uma questão que era muito sensível  para o eleitor, como mostra cada nova pesquisa que nós fazemos. Quando olha para a prefeitura de BH, o que o senhor considera uma necessidade da cidade que ainda precisa ser contemplada? A qualidade dos ônibus de Belo Horizonte, por exemplo, ainda está distante da ideal. Esse é um problema, ou tem outros que o senhor olha como cidadão belorizontino e como ex-prefeito e diz: isso aqui não está resolvido?


Existem dois problemas, sinceramente, que são problemas absolutamente nacionais. O primeiro morador de rua, que é um problema federal, um problema macro. Outro dia eu estava vendo uma reportagem sobre moradores de rua em Tóquio. Nos Estados Unidos nem se fala. Então transporte público tem que ser resolvido e morador de rua tem que ser resolvido, mas pelo governo federal. Não vai adiantar subsídio, não vai adiantar nada. A gente tenta mitigar, diminuir o sofrimento do transporte público, mas seria profundamente injusto e demagógico qualquer candidato a prefeito falar que vai solucionar o transporte público, porque não vai. 


E o próximo ainda vai assinar o novo contrato de concessão... 


O que é pior ainda. O último que assinou foi o Fernando Pimentel (PT), que apanha até hoje. O próximo prefeito será a próxima vítima, que vai apanhar por 20 anos e vai ser xingado, esculhambado. O prefeito tem obrigação de diminuir esses problemas de transporte e dos moradores de rua, mas nenhum candidato vai resolver. 


O senhor faz a mesma avaliação em relação ao metrô?


Não. Eu acho que nós perdemos o trem da história. Eu acho que os governadores perderam oportunidades dos presidentes amigos. Você pega hoje o metrô de Salvador, do Rio, de São Paulo ou Curitiba e todos são melhores que o de Belo Horizonte. É como aconteceu com o Hospital do Barreiro. A prefeitura não abriu o hospital, porque ela não tem capacidade financeira para abrir. Quem abriu foi (o ex-presidente da República) Michel Temer. Eu fui lá e consegui abrir o hospital com ele. É igual ao metrô, é uma obra muito cara. Ser amigo do presidente é uma grande chance. Nós tivemos agora governadores amigos de ex-presidentes e nós perdemos oportunidades. E quando aparece um palmo e meio de metrô, aparecem 15 pais. Então o pai do metrô tem que ser o governo federal. Você tem que ir lá e exigir do governo federal o metrô. 


Na campanha para governo do Estado o senhor esteve junto com o PT e com o presidente Lula. Mas hoje o que se percebe é que houve um afastamento. Qual é a relação do senhor hoje com o PT e com Lula? Houve mesmo um distanciamento? 


Teve. Nós fizemos uma aliança que era de oposição aos governos e ele ganhou a eleição, eu perdi. E a relação minha com o presidente Lula foi próxima, mas acabou e ele não me ligou e nós não conversamos mais depois da eleição. Eu continuo pensando política de um jeito e ele continua pensando do jeito dele. Tenho o maior respeito pelo presidente da República, tive uma ótima convivência com ele. Não é distanciamento, ele tocou a vida para lá com a turma dele e eu fiquei aqui com o meu grupo para ver o que nós vamos fazer em Belo Horizonte, Minas Gerais.


O senhor falou sobre a relação do senhor com o presidente Lula e com o PT. O senhor vislumbra, no futuro, uma nova aliança eleitoral?


Eu acho muito difícil. Eu acho que o meu ciclo de pedir o apoio do presidente Lula passou. Foi um momento, até porque eu tinha sido agredido pelo ex-presidente Bolsonaro como prefeito, então nós estávamos do mesmo lado. Mas eu, sinceramente, acho, hoje, muito difícil a gente caminhar junto. Mas ‘nunca’ é muito tempo. Acho difícil, mas impossível não, porque eu nunca fiz nada com ele, nem ele fez nada comigo.


Na última entrevista do senhor ao jornal O TEMPO, nós tratamos de federalização e de Regime de Recuperação Fiscal (RRF) sem uma proposta mais concreta. Não havia ainda a clareza do que podia ser feito ou do que ia ser proposto pelo governo federal. E agora temos uma proposta de federalização. Queria sua consideração sobre duas coisas: a primeira é que o governo federal propõe uma adesão ao RRF vinculada a uma expansão de ensino. Esse é um caminho justo com o governo do Estado, dadas as condições financeiras? Além disso, o senhor ainda está descrente que  a federalização seja algo factível?


Nós temos um problema político Os três estados que precisam muito do governo federal são oposição: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Falta um debate sobre como será esse investimento na educação. Porque isso não é educação, é aumento para professor. Falta um debate maior se (o que precisa de investimento) é educação, saúde, infraestrutura, se é universalizar o esgoto para a população. Acho que isso é um debate muito mais amplo para entender o que Minas Gerais precisa. É diferente do que precisa o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul. Não vamos uniformizar. Isso é um erro grosseiro. E federalizar (empresas estatais) agride minha inteligência. Se é para o Estado perder, vende que vai achar uma proposta melhor. Mas tem que ver se dá lucro ou não. Se dá lucro, deixa comigo, porque você vai levar a Cemig que dá lucro?  Mas se o que queremos é uma filosofia liberal e abrir mão das empresas, então vamos colocar na iniciativa privada para ver se vai dar certo. Agora, toda empresa municipal é melhor que estadual e toda estadual é melhor federal. Então nós só vamos sucatear ainda mais o que está precisando de muito investimento. Estou dando o exemplo da Cemig, que é uma das maiores empresas do Estado. 


O senhor avalia que a negociação da dívida de Minas Gerais poderia estar sendo conduzida de maneira diferente?


Eu acho que sim. O governador precipitou em se lançar como liderança de extrema direita e que o momento era de pensar no povo de Minas, no sofrimento do Estado de Minas Gerais. Está precisando melhorar o Estado, melhorar as estradas e  o governador de Minas é muito poderoso, é o segundo governador mais importante do país e tem que se dar essa importância para tentar resolver o problema que ele sentou na cadeira para resolver. 


Enquanto uma pessoa que presidiu o Atlético e que foi prefeito de Belo Horizonte, em qual cargo o senhor acredita que teve mais êxito dentro do que se propôs a fazer?


Acho que no Atlético, porque a prefeitura não é uma instituição bagunçada, não era uma casa da mãe Joana. Eu não tenho nenhuma relação com o ex-prefeito Marcio Lacerda, mas ele não deixou uma casa da Mãe Joana para eu tomar conta. Ele deixou uma prefeitura muito organizada e eu me ajeitei do jeito que eu achava que devia me ajeitar. O Atlético não. O Atlético não ganhava nada há 40 anos, então foi muito mais difícil.


O senhor é feliz participando da política atualmente? Tem algo que o desaponta na política ou que o deixa extasiado ao fazer política ainda?


Eu sou feliz. Eu tenho. Eu dei uma entrevista nesta semana para uma rádio de São Paulo e me disseram que eu sou famoso por ser sincero. Não, eu sou famoso por não tolerar alguém falar: ‘ah, na política é assim’. Não, na política não é assim, entendeu? Na vida a gente é como é. Seja no futebol, na política ,na família, no trato com os filhos, netos,  mulher ou funcionário, a gente é o que é. A política é feita com seriedade por gente séria, com palavra por quem tem palavra, com vagabundagem para quem é vagabundo. Nós temos que parar de falar que ‘na política é assim’, Política é a vida, nós somos políticos, fazemos política. Então eu sou feliz no meu jeito de fazer política e não abro mão dele.


Temos acompanhado a tragédia devido às chuvas no Rio Grande do Sul. Do ponto de vista político, pensando em Minas Gerais, o senhor consegue ver erros e acertos que os governantes da prefeitura de BH e do Estado têm feito para evitar que Minas venha a sofrer também com uma tragédia ambiental?


Eu posso falar por Belo Horizonte. Eu comecei e o prefeito Fuad está continuando a maior obra contra tragédias dos últimos 40 anos na cidade. Nós não podemos crucificar ninguém ainda, é uma pauta nova essa do meio ambiente e da contenção. Em Minas Gerais é preciso um cuidado especial, porque se acontecesse aqui essa tragédia inesperada, inusitada e única que aconteceu no Rio Grande do Sul, não sei qual seria a consequência, porque nós temos que lembrar que nós temos outra topografia e somos cercados por mineração por todos os lados. Então eu não tenho dúvida que se acontecesse uma coisa dessa grandeza em Minas Gerais, a tragédia seria muito maior. Mas eu acho que é uma pauta que tem que ser tratada com calma, mas temos que nos estruturar para ela.

A entrevista foi concedida aos jornalistas Cynthia Castro, Guilherme Ibraim e Thalita Marinho

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