O jogador de futebol Cristiano Ronaldo, craque reconhecido internacionalmente, poderia ter passado todo o ano de 2020 sem receber um único centavo do empregador ou até ser dispensado. Ainda assim, somaria milhões à sua fortuna, fruto de postagens patrocinadas que publicou ao longo do ano para seus mais de 300 milhões de seguidores no Instagram. Cristiano é a celebridade mais bem paga da rede social, cobrando cerca de R$ 8 milhões por postagem.

A lista dos milionários do Instagram traz, ainda, o ator The Rock, a cantora Ariana Grande, a modelo Kylie Jenner e o brasileiro Neymar Jr, que é o 16º da lista, segundo a empresa de marketing digital HopperHQ. Em comum, eles reúnem milhões de seguidores em todo o mundo, o que torna suas postagens um verdadeiro outdoor global, sustentado pelo brilho – e pelas polêmicas – de suas carreiras e por um nível elevadíssimo de exposição pessoal.

Se o fato de celebridades ganharem dinheiro com redes sociais não impressiona, o ranking de youtubers mais bem pagos de 2020 oferece outra perspectiva. O primeiro colocado é Ryan Kaji, um garoto norte-americano de apenas 9 anos que faturou US$ 29,5 milhões com seus canais no YouTube e outros US$ 200 milhões com programas de televisão e produtos licenciados. Ryan não planeja um futuro como youtuber ou em uma profissão tradicional. Ele pretende ser gamer, ou seja, um jogador profissional de videogames, outra área que vem produzindo milionários.

Um dos exemplos mais recentes de sucesso nas internet é Khaby Lame, um jovem senegalês-italiano que ficou desempregado logo no início da pandemia. Começou a produzir vídeos para o TikTok, nos quais, sem dizer uma palavra, ironiza métodos complicados de fazer as coisas. Ele apenas demonstra uma forma mais simples de realizar a tarefa, terminando com uma expressão facial engraçada e um gesto de mãos espalmadas, mostrando o resultado.

Lame já passou de 81,2 milhões de seguidores no TikTok e de 27 milhões no Instagram. Aparece ao lado de celebridades da Itália, associou-se a uma agência de marketing digital e, em breve, deverá faturar alto.

Em outros artigos neste espaço, critiquei a futilidade que cerca as redes sociais, o excesso de exposição e as tendências cruéis, como a cultura do cancelamento. Há, porém, esse lado do mundo digital que abriu novos campos de atuação e de geração de renda. Se celebridades sempre tiveram facilidade de faturar com publicidade, a abertura dessa possibilidade a pessoas das mais diversas origens, idades e habilidades é algo novo e que deve ser comemorado.

Há muito conteúdo ruim na internet, oportunismo, mas é um fato que existem também muito talento e boas ideias. Imaginar que um canal no YouTube ou postagens de Instagram, mesmo sem gerar milhões de reais, podem sustentar uma pessoa ou uma família é algo que aponta para um futuro muito interessante.

Obviamente, nem todas as tentativas serão bem-sucedidas. Como no futebol ou em outras carreiras, é a minoria que atinge o ponto mais alto. A diferença é que a exposição e os registros de suas tentativas estarão lá para sempre. Outro ponto a se questionar: pelo fato de polêmicas gerarem “riqueza”, o ambiente instalado para as novas gerações não é de evitá-las, mas sim de surfar nelas.

O problema é que um dos lados pode sair destruído, da mesma forma que uma criança que se torna milionária brincando de youtuber pode ter consequências negativas no futuro devido à sua exposição.

É salutar termos no atual ambiente global o espaço aberto para os grandes talentos, mas, ao mesmo tempo, não podemos deixar que o mérito do mundo virtual se direcione não à produção inovadora e de qualidade, mas à melhor “palhaçada” ou a quem se envolve na “maior polêmica”!