Entrevista exclusiva

'Este governo já passou, faltam 4,5 meses para acabar', diz Agostinho sobre Zema

Presidente da ALMG destacou que governador conseguiu proeza de unir a extrema-direita e a esquerda radical contra o Palácio Tiradentes

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 19 de abril de 2022 | 13:50
 
 
 
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Em entrevista exclusiva a O TEMPO, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Agostinho Patrus (PSD), disse que o governo Zema passou três anos falando do passado e esqueceu de trabalhar.

“Este é um governo que já passou. Está faltando quatro, cinco meses para acabar. Ele se esqueceu que, em vez de trabalhar e cuidar das estradas que ele deixou acabar, em vez de cuidar da saúde do nosso Estado, de se preocupar com a educação, eles se preocuparam única e exclusivamente em denegrir a imagem das pessoas”, declarou o deputado.

Na última semana, Zema e Agostinho trocaram acusações nas redes sociais após a ALMG derrubar o veto parcial do governador ao reajuste do funcionalismo público. Em entrevista ao “1 Centavo Podcast”, Zema disse que o parlamentar é “nocivo” a Minas e que tem um “plano de poder”.

"O governador me chamou pessoalmente no BDMG, no dia 21 de janeiro do ano passado, na parte da manhã, para me convidar para ser o vice. E eu disse a ele: 'governador, nós estamos muito distantes da eleição'. E aí fica ele dando entrevista dizendo que eu que estou pensando na eleição. Ele há um ano e meio atrás estava me chamando para ser vice. Quem tem plano pessoal de poder é o governador Zema”, afirmou Agostinho.

Na entrevista, o presidente da Assembleia Legislativa chamou o governo de mentiroso e disse que não vai renunciar ao cargo de chefe do Legislativo por causa da campanha eleitoral. 

Ele também criticou a decisão do governo de Minas de acionar o Supremo Tribunal Federal para tentar derrubar os percentuais adicionais de 14% para a saúde e a segurança e 33% para a educação.

Confira a entrevista na íntegra:

O governador entrou no STF contra a derrubada do veto do reajuste dos servidores. Como o senhor avalia essa decisão de acionar a Justiça?

É tradicional deste governo. O que a gente viu nas demais votações foi a mesma atitude. Todos se lembram do caso do IPVA. A Assembleia votou o congelamento do IPVA, ou seja, que fosse utilizado o mesmo valor cobrado em 2021 para ser cobrado em 2022, e o governador foi ao Tribunal de Justiça e até ao Supremo Tribunal Federal.

É um governo que não dialoga. É um governo que em vez de conseguir montar uma base na Assembleia, em vez de se abrir ao diálogo com os servidores públicos, médicos, professores, com aqueles que prestam serviço à nossa população, se fecha a isso. 

É fundamental dizer que o governo Zema conseguiu essa proeza em Minas Gerais: a direita extrema e a esquerda radical votassem juntos os projetos e ele fosse ao Supremo, ao Tribunal de Justiça, para judicializar.

Isso é virar completamente as costas à democracia. O Regime de Recuperação Fiscal [ele] também foi ao Supremo. Enfim, o governo Zema é inovador em muitas áreas. A primeira delas é não dialogar, não conversar com os servidores e não ouvir aqueles médicos, enfermeiras, auxiliares de enfermagem que tiveram durante todo esse período atendendo as pessoas e correndo risco de vida, de contaminar sua família.

E aí o governo agora veta um aumento, por exemplo, para os profissionais da saúde que não têm aumento, segundo o Sindsaúde, há 10 anos. Eu fiz questão de levantar o percentual do IPCA nos últimos dez anos. E o aumento, se fosse seguido o IPCA como diz a Constituição, passa de 80%. E ele vai e veta o aumento de 14% para os profissionais da saúde, que estiveram à frente da pandemia. É uma falta de reconhecimento por parte desse governo.

Nada mais nos surpreende em um governo que deixou de dialogar com a sociedade e com aqueles que cuidam das crianças nas escolas, dos doentes nos hospitais e que cuidam da nossa segurança no dia a dia nas ruas.

Há uma série de projetos do governo em diferentes estágios de tramitação na ALMG. Há possibilidade de algum projeto do governador ser pautado em plenário até o fim do ano?

O que a gente vê é que o governo nas duas últimas votações perdeu por margem expressiva: 55 a 3 e 50 a 0. E dizia à imprensa e àqueles que os entrevistavam, o próprio governador e seus assessores mais próximos, que eles tinham os votos para votar na Assembleia o Regime de Recuperação Fiscal. Cadê esses votos? Cadê esse apoio? Onde está o governo que consegue que o PSOL e o PL do Bolsonaro votem junto contra ele? Qual é a força de um governo como esse?

O problema é que foi um governo que ficou três anos falando do passado e esqueceu de trabalhar.

O governo Zema vive agora o seguinte: este é um governo que já passou. Está faltando quatro, cinco meses para acabar. Ele se esqueceu que, em vez de trabalhar e cuidar das estradas que ele deixou acabar, em vez de cuidar da saúde do nosso Estado, de se preocupar com a educação, eles se preocuparam única e exclusivamente em denegrir a imagem das pessoas.

E agora, depois de três anos sem nada a realizar, querem continuar, de forma agressiva, judicializando as questões porque não conseguem nem mostrar o serviço que fizeram nem convencer as pessoas de que fizeram um governo competente.

Será que a vida do mineiro melhorou nos últimos quatro anos? A educação melhorou para o seu filho? Será que a saúde teve melhor? É isso que vai pautar as discussões nos próximos meses.

Na semana passada, Zema disse que o senhor tem um plano pessoal de poder. O senhor é o principal cotado para ser o vice da chapa de Kalil ao governo de Minas. Essa situação influencia a postura como presidente da ALMG?

Não influencia de maneira nenhuma. Quem tem um plano pessoal de poder é alguém que nunca participou da política e resolveu se candidatar. Eu estou na política há vários anos. Portanto, eu realmente há vários anos convivo no poder.

Quem tem plano pessoal de poder é aquele que sai lá da cidade e coloca seu nome para se candidatar. Digo e reafirmo: o governo Zema só sabe criticar. Quem dera se parasse de criticar e fosse trabalhar. É esse meu conselho ao governador: pare de criticar, governador, vai trabalhar, vai cuidar das estradas, da saúde das pessoas, da educação dos nossos filhos e dos nossos netos.

Será que a população está satisfeita com o que recebe? Será que a população quando entra para abastecer o seu carro está satisfeita com esse governo que apoia o Bolsonaro, que deixou o combustível chegar a R$ 8? Será que a população está satisfeita com esse governo que apoiou o governo Bolsonaro e não trouxe R$ 1 à Minas Gerais de investimento?

O que de diferente Bolsonaro fez em Minas depois de tanto puxa-saquismo que Zema fez ao governo federal? Ele é que tem plano pessoal de poder. Ele que saiu de onde saiu para poder ser candidatar. Eu sou deputado há quatro mandatos. Tenho uma história no poder. É diferente dele.

O senhor disse em entrevista ao jornal Estado de Minas que Zema chegou a te convidar para ser vice dele. O senhor poderia dar mais detalhes sobre esse convite?

Não quero me aprofundar nisso, mas o governador me chamou pessoalmente no BDMG, no dia 21 de janeiro do ano passado, na parte da manhã, para me convidar para ser o vice.

E eu disse a ele: 'governador, nós estamos muito distantes da eleição'. E aí fica ele dando entrevista dizendo que eu que estou pensando na eleição. Ele, há um ano e meio atrás, estava me chamando para ser vice. Quem tem plano pessoal de poder é o governador Zema.

Recentemente, o senhor trocou o PV pelo PSD. O que levou o senhor a tomar essa decisão?

Nós tínhamos um caminho no PV, mas preocupou a situação do PV na federação em que a decisão deixava de ser um único partido. Eu tenho uma história de 17 anos no partido. Durante esse período, fui líder do PV na ALMG, fui presidente estadual.

Agora, quando a decisão, inclusive sobre uma candidatura a deputado estadual que pode ocorrer no meu caso, passa a depender de uma convenção em que participam outros partidos, isso me trouxe insegurança.

E por esse motivo resolvi deixar o PV porque entendi que através do convite do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, presidente nacional [Gilberto] Kassab, do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, e do senador Alexandre Silveira, teria tranquilidade com as postulações que eu pudesse ter na minha vida política neste ano.

Se o senhor for candidato a vice de Kalil, existe a possibilidade do senhor renunciar à presidência da ALMG para se dedicar a campanha?

Vamos relembrar: Adalclever Lopes foi candidato ao governo do Estado no cargo de presidente da ALMG. Dinis Pinheiro foi candidato a vice [governador] também na presidência da ALMG. O deputado Alberto Pinto Coelho também foi candidato a vice-governador, continuando à frente da ALMG.

É por isso que eu questiono essa questão de plano de poder. O histórico mostra que os últimos quatro presidentes da ALMG compuseram a chapa majoritária, foram candidatos ao Senado ou candidatos ao governo. Isso é natural. É como o prefeito de Belo Horizonte pleitear ser governador de Minas. É algo natural.

Desde dezembro do ano passado, há uma vaga de conselheiro aberta no TCE e a indicação é da ALMG. Porém, esse processo ainda não se iniciou. Há uma previsão de quando será pautado?

Nós ainda estamos conversando. Esse é um tema que envolve hoje quatro candidaturas e estamos buscando com os candidatos chegar a um bom termo para, se não for possível termos candidato único, pelo menos diminuirmos esse número de postulantes para que essa discussão na ALMG corra de forma mais amena. Essa é a força do parlamento: discutir, conversar, trocar ideias para que consiga se chegar ao melhor nome para ocupar o Tribunal de Contas do Estado pelos próximos anos.

Muitos deputados, principalmente da base de governo, atribuem a demora para pautar a votação do TCE a um desejo do senhor de se tornar conselheiro, caso não seja eleito nas eleições em outubro. O senhor tem essa vontade?

Nós conhecemos as inverdades e as mentiras ditas pelo governo do Estado e por seus seguidores. A imprensa acompanhou as inverdades que diziam que o Kalil não seria candidato e que não sairia da Prefeitura. Depois começaram a dizer que o Kalil não iria ficar no PSD porque ele não teria espaço para se candidatar. Depois disseram que o Kalil iria para o PSB para ser candidato lá e não pelo PSD.

Todas essas mentiras estão ficando pelo caminho. O que me impressiona é que ao termos um governo mentiroso, muitas vezes o governo acredita na sua mentira e acha que a sua posição é forte, a sua posição é confortável nesse momento. Pior do que mentir, como faz cotidianamente o governador e seus apoiadores, é acreditar na mentira. Infelizmente, esse governo não fez nada porque acreditou nas suas mentiras.

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