BRASÍLIA - Nesta semana, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), recebeu a proposta do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, um documento com previsão de R$ 23 bilhões em investimentos até 2028, encomendado no começo do ano ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.

Na entrega, que ocorreu durante a abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, Lula disse que é ¨o Brasil precisa aprender a voar¨, e não ser dependente de outros países para desenvolver tecnologias.

O secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, João Brant, entrevistado com exclusividade pela reportagem de O TEMPO em Brasília, avalia que a ambição do presidente é possível. 

Ele afirmou que o plano é fruto de um diálogo extenso entre diversas áreas do governo, visando a criação de investimentos estratégicos para a Inteligência Artificial (IA) no Brasil. Brant destacou a importância de um desenvolvimento tecnológico que estimule o progresso social e econômico.

"O plano vem de uma provocação do presidente ao Conselho Nacional de Ciência e a partir de um processo liderado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, que fez um belíssimo trabalho em dialogar com várias áreas do governo, entender como é que conseguimos pensar um conjunto de investimentos que sirvam para alavancar o desenvolvimento da IA no Brasil, mas também para enfrentar os problemas sociais do país", afirmou Brant.

Em seus discursos, Lula tem enfatizado a importância de o Brasil desenvolver tecnologia de IA "soberana", para reduzir a dependência de sistemas importados. João Brant destaca que, embora o Brasil possa utilizar sistemas de IA estrangeiros, é fundamental que também se dedique ao desenvolvimento de suas próprias soluções tecnológicas.

"O presidente aponta a necessidade de a gente ser um país que tem processos próprios de desenvolvimento, voltado às suas necessidades, voltado a proteger e promover o desenvolvimento brasileiro e empregos no Brasil, e a pensar o lugar do Brasil no mundo de uma forma não simplesmente como consumidora de sistemas de desenvolvimento por outros, o que faz parte", explicou Brant.

No entanto, o avanço da IA apresenta desafios complexos, especialmente em relação à empregabilidade. Lula já destacou que o sistema "precisa ser fonte de empregos e talentos", uma vez que a automação e o aprendizado de máquina têm o potencial de eliminar postos de trabalho.

O secretário afirmou que o governo brasileiro está ciente da dificuldade e destacou a necessidade de promover empregos qualificados, além de investir na formação de mão de obra nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.

"É necessário colocar a empregabilidade como um pilar dessa conversa. Ela é uma equação muito difícil de ser resolvida. Como é que você promove os sistemas de IA, que vão tendo um processo de aprendizado de máquina e processo de automação que muitas vezes passam a prescindir de supervisão humana ao mesmo tempo que você promove e preserva empregos nessa área?", questionou Brant.

Durante a entrevista a O TEMPO em Brasília, Brant ainda falou sobre relação do governo brasileiro com as grandes empresas de tecnologia, conhecidas também como big techs, especialmente após os ataques de Elon Musk, dono do X, antigo Twitter, contra o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), 

Brant afirmou que, apesar das divergências, o governo mantém um diálogo constante com as plataformas digitais. 

"Nós mantemos interlocução permanente com as plataformas. Inclusive porque, do nosso ponto de vista, boa parte dos avanços só vão ser gerados a partir de algum nível de diálogo. Agora, nós temos posições muito diferentes e conflitantes. Então, esse diálogo às vezes produz algumas questões produtivas. Às vezes, ele é só para entender que nós estamos em lados diferentes da mesa mesmo", destacou.

Segundo Brant, os ataques de Musk mostraram como “uma parte das empresas usa aquela infraestrutura para proteger interesses particulares, para promover interesse políticos de um campo político”
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“Eu não quero que as plataformas digitais sejam juízes e tomem partido, eu quero que elas sejam um espaço do debate público acontecer, com diversidade, com pluralismo e com confiabilidade da informação. Infelizmente, a postura do dono do X é uma postura diferente. Postura de quem assume um lado da disputa política e instrumentaliza a sua plataforma nessa direção. Nosso papel é manter a interlocução também com as plataformas, mas buscar avançar nas garantias de direitos para os cidadãos brasileiros”, finalizou.