BRASÍLIA – O Ministério das Relações Exteriores afirmou, em nota divulgada nesta segunda-feira (3), que o “governo brasileiro deplora a decisão israelense de suspender a entrada de ajuda humanitária em Gaza, que exacerba a precária situação humanitária e fragiliza o cessar-fogo em vigor”.
Israel interrompeu a entrada de todos os bens e suprimentos na Faixa de Gaza no domingo (2) e advertiu sobre “consequências adicionais” caso o Hamas não aceitasse uma nova proposta para estender o cessar-fogo.
O Hamas acusou Israel de buscar o “colapso” do frágil acordo de trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro, após 15 meses de guerra, desencadeada por um ataque do movimento islamista palestino em território israelense em 7 de outubro de 2023.
Na nota, o Itamaraty afirmou ainda que “ ao exortar à imediata reversão da medida, o Brasil recorda que Israel tem obrigação – conforme reconhecido pela Corte Internacional de Justiça em suas medidas provisórias de 2024 – de garantir a prestação de serviços básicos essenciais e assistência humanitária à população de Gaza, sem impedimentos”.
O órgão brasileiro também afirmou que “a obstrução deliberada e o uso político da ajuda humanitária constituem grave violação do direito internacional humanitário”. e cobrou “o estrito cumprimento dos termos do acordo de cessar-fogo e ao engajamento nas negociações a fim de garantir cessação permanente das hostilidades, retirada das forças israelenses de Gaza, libertação de todos os reféns e estabelecimento de mecanismos robustos para ingresso de assistência humanitária desimpedida, previsível e na necessária escala”.
Netanyahu faz ameaças ao Hamas
Já na segunda-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ameaçou o Hamas com consequências que não pode “imaginar” se não libertar os reféns que ainda estão em Gaza.
“O presidente Trump apresentou um plano visionário e inovador para a liberdade de migração de Gaza, e acredito que é uma visão que poderia ser apoiada”, disse Netanyahu em discurso no parlamento israelense. “É hora de dar aos moradores de Gaza uma oportunidade real. É hora de lhes dar liberdade para ir embora”, completou.
“Digo ao Hamas: se não libertarem nossos reféns, haverá consequências que não podem imaginar”, declarou Netanyahu.
Após a conclusão da primeira fase do acordo de cessar-fogo, negociado pelo Catar com a ajuda do Egito e dos Estados Unidos, Israel e o Hamas não conseguiram chegar a um entendimento sobre a próxima etapa do processo, que deveria começar no domingo. Devido aos desacordos, Israel anunciou a suspensão da entrada de mercadorias e suprimentos em Gaza.
Vários países árabes, incluindo Catar, Egito e Arábia Saudita, denunciaram uma “violação flagrante” do acordo e acusaram Israel de “usar a fome como arma contra o povo palestino”. No Cairo, os ministros das Relações Exteriores árabes se reuniram a portas fechadas para se preparar para uma cúpula sobre Gaza nesta terça-feira.
O acordo de trégua prevê três fases. Durante a primeira, o Hamas entregou a Israel 33 reféns, oito deles mortos, em troca da libertação de cerca de 1.800 presos palestinos.
Entre os 251 reféns levados para Gaza durante o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra, 58 permanecem cativos, 34 dos quais estariam mortos segundo o Exército israelense.
O ataque do Hamas em 2023 resultou na morte de 1.218 pessoas do lado israelense, a maioria civis, de acordo com um balanço feito com base em dados oficiais.
A ofensiva militar de represália de Israel em Gaza deixou mais de 48 mil mortos, segundo os dados do Ministério da Saúde do território, que a ONU considera confiáveis. (Com AFP)