BRASÍLIA – O Movimento Sem Terra (MST) iniciou no fim de semana uma série de manifestações do chamado Abril Vermelho, com o intuito de pressionar o governo federal na questão da reforma agrária. Seis propriedades foram invadidas desde sábado (5), em Minas Gerais, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O MST anunciou ações até 17 de abril, marco dos 29 anos do Massacre de Eldorado do Carajás, em que 21 trabalhadores rurais foram mortos a tiros por policiais militares durante uma marcha no Pará. Outros 69 ficaram feridos. Desde então, apenas dois policiais, de 155 envolvidos, foram condenados.
O tema do Abril Vermelho em 2025 é “Ocupar para o Brasil alimentar”. Há previsão de ações nos 26 estados e no Distrito Federal, com foco em terras propícias à produção de alimentos. No início do ano, o grupo divulgou carta cobrando o assentamento de 100 mil famílias que, segundo o movimento, estão acampadas pelo país.
Já as mais recentes invasões ocorrem um mês após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fazer a primeira visita a um assentamento do MST no atual mandato. Ele esteve em um assentamento em Campo do Meio (MG). Ao lado de ministros e da primeira-dama, Janja, afirmou que “tem lado” e não “esquece quem são seus amigos”.
“O ano de 2025 é o ano em que nós vamos colher tudo que preparamos entre 2024 e 2023. Esse ano não tem explicação, não tem choradeira, nós temos que entregar as coisas que nós prometemos durante a nossa campanha e as coisas que vocês acreditaram”, afirmou Lula na ocasião.
Lula anunciou editais e crédito para o programa de reforma agrária. Essa etapa do plano prevê o assentamento de 12 mil famílias. No evento também estava o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Ele tem enfrentado críticas do MST, mas tem o apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
PM de Minas não impede invasão no Vale do Rio Doce
Na madrugada do último sábado, mais de 600 famílias do MST ocuparam uma área às margens da BR-116, no município de Frei Inocêncio (MG), no Vale do Rio Doce, dentro das ações do Abril Vermelho. A ação reivindica a desapropriação da Fazenda Rancho Grande para fins de reforma agrária.
Em nota, a Polícia Militar de Minas Gerais informou que a segurança da área ocupada pelo MST está a cargo exclusivo do governo federal, “por se tratar de ‘faixa de domínio’ do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, uma autarquia federal do Brasil”.
Pouco dias antes, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (MG), subiu o tom contra o MST. Durante a Feira do Agronegócio Mineira (Femec), em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, apareceu com um boné estampado com a frase “abril verde”, em oposição ao Abril Vermelho.
“Nós queremos é dar segurança a quem trabalha, a quem produz no campo, a quem alimenta os brasileiros e o mundo. Estaremos de prontidão, as nossas forças de segurança, para que o homem do campo, o produtor rural, possa ter paz e tranquilidade para produzir”, afirmou em seu discurso na feira agropecuária.
Após o discurso, Zema postou um vídeo na sua conta no Instagram, ainda com o boné: “Aqui em Minas, cerca existe para ser respeitada. Abril Vermelho, aqui não. Aqui em Minas, o abril é verde. É de quem trabalha, de quem produz no campo. O homem do campo precisa de paz para poder trabalhar. Estamos sempre vigilantes, dando apoio a quem produz e trabalha”, disse o governador na gravação.
Já em Pernambuco, cerca de 800 famílias ocuparam terras da Usina Santa Teresa, em Goiana, na Zona da Mata. Segundo Jaime Amorim, coordenador do MST no estado, o local é marcado por conflitos por terra. “A usina Santa Tereza foi uma das usinas mais violentas em Pernambuco, como todo o nordeste produtora de cana”, afirmou.