BRASÍLIA – O Brasil e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltaram a ter peso nas negociações para eventual fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que já dura mais de três anos. 

O petista vai pedir ao presidente russo, Vladimir Putin, para participar de um encontro com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, previsto para esta quinta-feira (15), em Istambul, na Turquia.

Foi o governo da Ucrânia que pediu ajuda ao Brasil para tentar convencer Putin a sentar à mesa com Zelensky. O ucraniano e assessores já fizeram várias críticas a Lula por seu posicionamento sobre o conflito.

No entanto, na última terça-feira (13), o chanceler ucraniano, Andrii Sybiha, pediu a intervenção de Lula, em telefonema  com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira.

Sybiha disse em uma post no Twitter que pediu apoio do Brasil para um cessar-fogo incondicional de 30 dias como parte das negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.

“Reafirmei a prontidão do presidente Zelensky para se encontrar com Putin na Turquia e pedi ao Brasil que use sua voz competente em seu diálogo com a Rússia para que este encontro direto de mais alto nível aconteça”, escreveu Sybiha.

Vieira estava em Pequim com Lula, para quem deu o recado. O presidente deixou Pequim na manhã desta quarta (14) afirmando que iria tentar conversar em Moscou com Putin, a fim de tentar convencê-lo a ir a participar pessoalmente da negociação.

Antes da China, Lula esteve em Moscou para participar das celebrações dos 80 anos da vitória das forças soviéticas sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Lula teve uma reunião com Putin.

Em Moscou, Lula disse em entrevista coletiva ter tratado da guerra entre Rússia e Ucrânia com Putin. “Eu discuti antes, durante e depois, porque nós dissemos ao presidente Putin aquilo que a gente vem dizendo desde que começou essa guerra”, declarou o brasileiro.

“A posição do Brasil é contra a ocupação territorial do outro país, sabe, o Brasil faz parte de um grupo de países que, junto com a China, criou um grupo de amigos que são três países emergentes e eu disse ao presidente Putin que nós estamos dispostos a ajudar na negociação desde que os dois países que se enfrentam queiram que a gente possa participar de negociação”, completou.

Após deixar Pequim, o avião presidencial brasileiro vai fazer uma parada em Moscou para abastecimento. Lula pretende aproveitar a oportunidade para telefonar para Putin e pedir ao presidente russo que participe das negociações em Istambul pelo fim da guerra.

“Quando parar em Moscou, vou tentar falar com o Putin. Não me custa nada falar: Ô, companheiro Putin, vá até Istambul negociar, p***a”, afirmou Lula em entrevista coletiva em Pequim, pouco antes de embarcar no avião presidencial, no voo de volta ao Brasil.

Zelensky chegou a dizer que Lula não era mais um “player” nas negociações 

O telefonema do chanceler ucraniano para Vieira ocorreu meses após Zelensky ter descartado contribuição brasileira nas mediações pelo fim da guerra na Ucrânia.

Desde que assumiu a presidência do Brasil, em 2023, Lula propõe intermediar um diálogo de paz entre a Ucrânia e a Rússia. Mas Zelensky descartou Lula após uma guerra de palavras entre ambos.

Depois de o brasileiro sugerir que o ucraniano deveria ceder aos russos, Zelensky afirmou que Lula não era mais um “player” nas negociações entre Rússia e Ucrânia e que “o trem do Brasil já passou”.

Durante discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro de 2024, Zelensky questionou o papel do Brasil como intermediador das negociações de paz.

O líder ucarniano disse duvidar do “real interesse” de Brasil e China ao pressionarem para os dois países liderarem o diálogo entre a Ucrânia e a Rússia.

“Quando alguns propõem alternativas, planos de acordo pouco entusiasmados, isso não apenas ignora os interesses e o sofrimento dos ucranianos...não apenas ignora a realidade, mas também dá (a Vladimir) Putin o espaço político para continuar a guerra”, discursou Zelensky.

Agora, o ucraniano pede ajuda a Lula justamente em meio a uma viagem do brasileiro à Pequim, onde a guerra na Ucrânia foi um dos principais assuntos discutidos pelo petista. 

Na terça-feira, após encontro entre Lula e e o presidente chinês Xi Jinping, Brasil e China divulgaram uma declaração sobre o conflito, em que voltam a defender o diálogo direto entre os lados.

O comunicado não fala em apoio ao cessar-fogo imediato, uma condição defendida por Kiev, que voltou a insistir nisso e a pedir publicamente e em privado ao Brasil para estimular o processo de diálogo.

“O Brasil e a China avaliam positivamente os recentes sinais de disposição ao diálogo e manifestam sua expectativa de que as partes possam alcançar um entendimento que viabilize o início de negociações frutíferas, que contemplem as preocupações legítimas de todas as partes. Eles consideram necessário encontrar uma solução política para a crise na Ucrânia em suas raízes com vistas a um acordo de paz duradouro e justo, que seja vinculante para todas as partes no final.”

Lula elogiou Trump pela condução nas conversas com Rússia e Ucrânia

Já em Hanói, a capital do Vietnã, Lula disse que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “está no caminho certo” ao discutir a paz na Ucrânia.

“Na medida que o Trump toma a decisão de discutir a paz entre Rússia e Ucrânia, que o (ex-presidente Joe) Biden deveria ter tomado, eu sou obrigado a dizer que o Trump está no caminho certo”, disse o brasileiro.

Lula lembrou que no Brasil vem defendendo a ideia de uma saída negociada entre Moscou e Kiev desde o início da guerra na Ucrânia.

“Nós fizemos uma crítica contundente à ocupação territorial que a Rússia fez para a Ucrânia. E nos colocamos à disposição para buscar a paz entre a Rússia e a Ucrânia. Naquele instante, a gente dizia que não era possível conversar apenas com o (presidente ucraniano Volodymyr) Zelensky. Era necessário colocar os dois numa mesa”, disse o petista.

Por outro lado, Lula reclamou da Europa, afirmando que líderes do continente sempre foram contra as negociações com Putin.

“Agora que o Trump começou a conversar com o Putin, a Europa não quer ficar de fora e quer trazer o Zelensky. E eu acho que tem que entrar. Para ter paz, tem que colocar Putin e Zelensky em cima de uma mesa e colocar pra conversar e parar de atirar e começar a plantar comida e discutir paz”, afirmou o brasileiro.