BRASÍLIA – A saída de Israel e entrada na Jordânia, nesta segunda-feira (16), de prefeitos, vices e secretários municipais que estavam em território israelense envolveu as embaixadas do Brasil nos dois países, segundo comunicados dos ministérios das Relações Exteriores israelense e brasileiro.

A embaixada do Brasil em Tel Aviv mantém contato com as duas delegações brasileiras em território israelense e integrantes do Itamaraty têm conversado com o Ministério de Relações Exteriores de Israel para que ambos os grupos tenham garantias de segurança e possam retornar ao Brasil assim que as condições naquele país permitirem.

Um primeiro grupo, com 12 pessoas, cruzou a fronteira terrestre de Israel com a Jordânia na manhã desta segunda. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira,  manteve contato hoje com seu homólogo da Jordânia, Ayman Safadi, no fim de semana, “para abrir uma alternativa de evacuação por aquele país”.

Já o secretário de África e Oriente Médio do Itamaraty, Carlos Duarte, manteve contato telefônico com seu homólogo da chancelaria israelense, “ocasião em que pediu tratamento prioritário à saída em segurança das delegações brasileiras”. 

A Embaixada de Israel em Brasília confirmou o diálogo permanente de diplomatas do seu país com homólogos brasileiros. Os integrantes da delegação que deixaram Israel nesta segunda foram recebidos por funcionários da Embaixada do Brasil em Amã, que acompanharão a comitiva na travessia até a Arábia Saudita.

Prefeitos, vice-prefeitos e secretários seguirão por terra da Jordânia até a Arábia Saudita, onde alguns embarcarão em um jatinho particular, pago pelo grupo. Esse voo é organizado pelo deputado federal Mersinho Lucena (PP-PB), filho do prefeito de João Pessoa (PB), Cícero Lucena, que está na comitiva que deixou Israel nesta segunda.

Mersinho viajou para a Arábia Saudita no sábado (14), já com o intuito de resgatar o pai. Cícero, assim como os demais prefeitos, foi para Israel participar de um programa de cooperação internacional com foco em segurança cidadã e desenvolvimento sustentável. 

Mersinho ignorou a recomendação do Itamaraty para que brasileiros evitem embarcar para países próximos à zona de conflito. O pai dele escreveu no X, após entrar em território jordaniano nesta segunda:  “Já cruzamos a fronteira! Estamos bem, em segurança e contando com o apoio das autoridades locais. Nossa previsão é iniciar o quanto antes o deslocamento para a Arábia, para encontrar com meu filho, Mersinho Lucena, que nos aguarda para retornarmos ao Brasil na terça-feira.”

As duas comitivas de brasileiros que viajaram a Israel — representantes dos governos do Centro-Oeste foram para o país do Oriente Médio, além dos prefeitos, vices e secretários municipais  — precisaram se abrigar em bunkers durante ataques do Irã, em resposta ao lançamento de mísseis iniciado por Israel.

Confira abaixo os 12 que atravessaram a fronteira Israel-Jordânia nesta segunda:

  • Álvaro Damião Vieira da Paz, prefeito de Belo Horizonte (MG)
  • Cícero de Lucena, prefeito de João Pessoa (PB)
  • Cláudia da Silva, vice-prefeita de Goiânia (GO)
  • Davi de Matos, chefe executivo do Centro de Inteligência,
  • Vigilância e Tecnologia de Segurança Pública do Rio de Janeiro (Civitas)
  • Flávio Guimarães Bittencourt do Valle, vereador do Rio de Janeiro (RJ)
  • Francisco Nélio, tesoureiro da Confederação Nacional de Municípios
  • Francisco Vagner Gutemberg de Araújo, secretário de Planejamento de Natal (RN)
  • Gilson Chagas, secretário de Segurança Pública de Niterói (RJ)
  • Janete Aparecida, vice-prefeita de Divinópolis (MG)
  • Johnny Maycon, prefeito de Nova Friburgo (RJ)
  • Márcio Lobato Rodrigues, secretário de Segurança Pública de Belo Horizonte (MG)
  • Welberth Porto, prefeito de Macaé (RJ)

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Também nesta segunda, o senador Carlos Viana (Podemos-MG), que preside o Grupo Parlamentar Brasil-Israel, disse haver 47 “convidados oficiais que Israel se responsabiliza por eles” – além dos gestores municipais, estão professores, técnicos, entre outros. 

Viana disse que “os próximos passos serão a retirada de 35 convidados oficiais, que ainda estão em Tel-Aviv”. Segundo ele, autoridades israelenses analisam quais rotas são mais seguras, entre as que levam à fronteira com o Egito e com a Jordânia.

Viana disse ainda ter pedido ao governo de Israel um levantamento sobre o número de brasileiros residentes e turistas que estão no país e têm a intenção de deixá-lo imediatamente. “A intenção é organizar com o Itamaraty um plano de resgate desses brasileiros”, afirmou o senador.

No sábado (14), nota divulgada pelo Grupo Parlamentar Brasil-Israel, assinada por Carlos Viana, falou em indignação contra o governo brasileiro por supostamente estar alinhado ao governo do Irã.

“Causa indignação a postura do atual governo do Brasil, que, mais uma vez, escolhe se alinhar aos que disseminam o terror, em vez de se posicionar firmemente ao lado das nações livres e democráticas”, diz o comunicado.

“A posição do governo brasileiro, inclusive, prejudica e atrasa as negociações para a retirada das comitivas brasileiras que se encontram em solo israelense”, acrescenta.

No domingo (15), a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou em nota que o governo da Jordânia “já disponibilizou segurança” para recepcionar os brasileiros que acabem indo para o país como rota de fuga da guerra.

“A ministra Gleisi ligou neste domingo para o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião. Informou que o governo da Jordânia já disponibilizou segurança para recebê-los na fronteira, caso Israel autorize a viagem por terra com segurança”, diz a nota da ministra.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), confirmou a chegada dos 12 gestores municipais à fronteira da Jordânia nesta segunda-feira. 

“O grupo de prefeitos e demais autoridades municipais está no posto de fronteira do lado israelense e deve iniciar em breve o traslado à Jordânia. Serão recebidos por representantes da Embaixada do Brasil em Amã e por autoridades locais”, publicou Trad em sua conta no X.

“Os outros seis permanecem em Israel e se somam ao grupo do Consórcio Brasil Central, que reúne 22 autoridades estaduais, incluindo o governador de Rondônia. O Itamaraty trabalha com autoridades israelenses para viabilizar a retirada desse grupo nos próximos dias”, completou o senador.

Trad informou que a Comissão de Relações Exteriores também acompanha a situação de 56 brasileiros — entre jovens e adultos — em missão religiosa na Galileia. “Já solicitamos sua inclusão nas tratativas de repatriação. Trabalhamos para que todos voltem em segurança para casa.”