BRASÍLIA - O senador Ciro Nogueira (PP-PI) confirmou que organizou um encontro, em dezembro de 2022, entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A reunião aconteceu na casa de Ciro, localizada em área nobre de Brasília.
Ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Ciro confirmou a informação em depoimento no STF nesta quarta-feira (16). No momento, ele foi questionado sobre o encontro pela defesa de Marcelo Câmara, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro e é réu na ação sobre a suposta trama de golpe.
O advogado Eduardo Kuntz indagou se Marcelo Câmara atuou na organização da agenda. “Realmente houve esse encontro, que foi relatado na delação de [Mauro] Cid, mas eu não me lembro da participação do Câmara [na agenda]. Tratei diretamente com o [ex-]presidente e o ministro”, declarou em audiência conduzida por Moraes.
Na época, Bolsonaro havia perdido a tentativa de reeleição para o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ciro declarou que no final de 2022, Câmara “ficou bem mais próximo” dos compromissos de Bolsonaro em função da saída do tenente-coronel Mauro Cid, outro ex-ajudante de ordens que também é réu na ação penal da trama golpista.
"Ele acompanhava sempre o ex-presidente, era uma pessoa muito próxima do ex-presidente. Pelo que eu via, gozava da confiança do ex-presidente, sempre acompanhava nas agendas pelo país inteiro. [Era] uma pessoa que tinha uma credibilidade muito boa no Palácio do Planalto”, contou.
Nesta terça-feira, foram ouvidos como testemunhas apenas Ciro Nogueira e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias, que era chefe do órgão no dia dos ataques de 8 de janeiro de 2023.
Estavam previstos os depoimentos de outros parlamentares, como o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mas eles não compareceram. A defesa do ex-assessor do Palácio do Planalto Filipe Martins, também réu por golpe, desistiu de algumas testemunhas e recebeu a autorização de Moraes para remarcar a oitiva de outras até 21 de julho.
Estão nessa lista o deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), os ex-comandantes das Forças Armadas Marco Antonio Freire Gomes (Exército) e Carlos De Almeida Batista Junior (Aeronáutica) e o delegado da Polícia Federal (PF) Fábio Shor, que conduziu parte das investigações.
Marcelo Câmara e Filipe Martins integram o núcleo 2 da trama golpista. São réus no mesmo grupo: Fernando de Sousa Oliveira (delegado da PF), Marília Ferreira de Alencar (delegada e ex-diretora de Inteligência da PF), Mário Fernandes (general da reserva do Exército) e Silvinei Vasques (ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal).
Eles são apontados pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, envolvimento em organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem chegar a 43 anos de prisão.