BRASÍLIA - O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou neste domingo (6) que medidas protecionistas contra parceiros comerciais, como as impostas pelos Estados Unidos, significam um retrocesso no combate à fome. Ele se manifestou na cúpula do Brics, que acontece no Rio de Janeiro.
"O mundo não precisa de supertaxação, de protecionismo. Taxar a exportação de alimentos é taxar o combate à fome, é encarecer a comida no mundo. O Brics, que representa quase 50% da população mundial, ao ter um posicionamento a favor do multilateralismo, é esperança que dias normais voltem a acontecer no comércio mundial", disse Fávaro.
Fávaro também fez uma comparação da postura dos EUA, que se diz liberal economicamente, com a defesa do governo brasileiro. "O Brasil, que tem um governo progressista, muito preocupado com o social, defende fortemente o multilateralismo, a não taxação, o livre mercado. É um rumo certo que o Brasil apresenta para o mundo, e o Brics é uma plataforma fundamental para isso", frisou.
O comércio internacional foi abordado na carta de líderes do Brics, também divulgada neste domingo. O documento afirma que “o sistema multilateral de comércio está há muito tempo em uma encruzilhada”.
Ainda, que a proliferação de ações restritivas a negócios, “seja na forma de aumento indiscriminado de tarifas e de medidas não-tarifárias, seja na forma de protecionismo sob o disfarce de objetivos ambientais, ameaça reduzir ainda mais o comércio global, interromper as cadeias de suprimentos globais e introduzir incerteza nas atividades econômicas e comerciais internacionais”.
O cenário, segundo os líderes, pode aumentar disparidades econômicas existentes e afetar as perspectivas de desenvolvimento econômico global. “Expressamos sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)”.
Há a declaração de apoio “a um sistema multilateral de comércio baseado em regras, aberto, transparente, justo, inclusivo, equitativo, não discriminatório e consensual”, com tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento.
Os líderes expressaram condenação à imposição de medidas coercitivas unilaterais, que consideram contrárias ao direito internacional. Eles apontaram que essas medidas têm implicações negativas de longo alcance em direitos humanos, com impacto, por exemplo, na saúde e segurança alimentar, “afetando de maneira desproporcional os pobres e as pessoas em situações vulneráveis, aprofundando a exclusão digital e exacerbando os desafios ambientais”.
Gripe aviária
O ministro da Agricultura também comentou sobre a situação de gripe aviária. De acordo com ele, o caso ficou restrito a um local no Brasil, com somente 17 mil animais abatidos, enquanto nos EUA, apontou que houve 170 milhões de abates pela doença.
Fávaro também citou que os mercados que colocaram embargos na compra de frango brasileiro caíram de mais de 20 para apenas nove. Entre eles, o da China.
"Eu tive a oportunidade, durante a reunião do presidente Lula com o primeiro-ministro chinês, de pedir para que eles pudessem rever o posicionamento de restrição. Ele [o ministro chinês] disse que já sabia do caso, e que eles estão estudando os protocolos rapidamente para retomar a compra de frango brasileiro".
O ministro também comentou a abertura do mercado de carne bovina brasileira para a Indonésia. "Tivemos a oportunidade de, ontem, embarcarmos a primeira carga de carne bovina brasileira para a Indonésia, um mercado muito vantajoso, muito importante, e isso está gerando oportunidade para nossa agropecuária", declarou.