BRASÍLIA - O governo da Argentina afirmou, na noite de quarta-feira (20/8), que “ainda” não recebeu nenhum pedido de asilo político pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, de acordo com informação publicada pelo portal G1.
Um relatório da Polícia Federal (PF) aponta que Bolsonaro guardava em seu telefone celular um documento com o pedido direcionado ao presidente argentino, o ultradireitista Javier Milei, um dos principais aliados de Bolsonaro na política internacional atualmente.
A carta é citada no relatório que pediu o indiciamento do ex-presidente e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por suspeita de coação e obstrução do julgamento da suposta trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com os investigadores, o pedido que viabilizaria a saída dele do Brasil revela que Jair Bolsonaro “praticou atos para obter asilo político na Argentina”. Os agentes afirmam que o documento de 33 páginas foi salvo no celular do ex-presidente em 10 de fevereiro de 2024, dois dias após a operação que determinou a entrega do passaporte de Bolsonaro.
Segundo trecho reproduzido pela PF, o texto do pedido de asilo diz: “De início, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos”.
Eduardo e Jair indiciados
Na quarta-feira, os dois foram indiciados por suspeita de coação e obstrução do julgamento da suposta trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF). Em nota, Eduardo Bolsonaro criticou a PF por "vazamentos de conversas pessoais".
Caberá agora ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, avaliar o relatório da PF para decidir se denunciará ou não Bolsonaro e Eduardo. Por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, os autos já foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República (PGR), responsável por pedir a instauração do inquérito.
Parte do relatório da PF é amparada em diálogos entre o ex-presidente e Eduardo por WhatsApp. Em um deles, ocorrido em julho, o deputado chegou a afirmar que ambos teriam que decidir entre “ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia ou enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num [regime] semiaberto”.
De acordo com a PF, a conversa, dias antes de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a sobretaxa de 50% às exportações brasileiras, evidenciaria que “a real intenção dos investigados não seria uma anistia para os condenados pelos atos golpistas realizados no dia 8 de janeiro de 2023, mas, sim, interesses pessoais” do ex-presidente atrás de “impunidade”.
Para a PF, o deputado, assim, teria confirmado “sua ação consciente e voluntária” junto à Casa Branca por medidas contra o Brasil com a “finalidade de coagir autoridades brasileiras, em especial ministros do STF que atuam nas ações penais que apuram a tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito”.
A PF ainda citou que, no dia seguinte ao anúncio da sobretaxa de 50%, após duas chamadas de vídeo, Eduardo cobrou o pai para agradecer Trump em um “tweet vaselina”. “E, novamente, [Eduardo] ratifica a sua atuação criminosa para coagir autoridades brasileiras”, defendeu a instituição, acrescentando que o filho ainda se autointitulou como o responsável pela tarifa ao dizer “fizemos a nossa parte”.
Após cobrar o aceno a Trump, Eduardo criticou o pai, que, segundo ele, seria o “maior empecilho” para ajudá-lo. “Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você. Aqui é tudo muito melindroso. [...] Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso, mas tenho receio que por aqui as coisas mudem”, disse o deputado federal.
Logo depois, Bolsonaro encaminhou uma nota a Eduardo para que fosse publicada nas redes sociais do ex-presidente. Nela, Bolsonaro frisou o “respeito” e a “admiração” pelo governo dos EUA. “Conheço a firmeza e a coragem de Donald Trump na defesa desses princípios (liberdade de expressão, de imprensa, de consciência e de participação política)”, acrescentou.