Conflito verbal

Antes de Lula, Erdogan comparou Netanyahu a Hitler; Macron falou em bebês mortos

Assim como Lula, outros líderes mundiais fizeram críticas parecidas ao governo de Israel por causa dos ataques a civis na Faixa Gaza, mas não tiveram reação igual

Por Renato Alves
Publicado em 19 de fevereiro de 2024 | 14:03
 
 
 
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Diferentemente do que aconteceu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), declarado “persona non grata” nesta segunda-feira (19) por ter comparado a atual guerra ente Israel e Hamas em Gaza com o Holocausto, outros líderes mundiais que teceram críticas parecidas ao governo de Israel por causa dos ataques a civis na Faixa Gaza não receberam reprimendas parecidas.  

O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, chegou a afirmar, em 27 de dezembro, que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não é diferente de Adolf Hitler. E, assim como Lula fez no último domingo (18), comparou os ataques de Israel a Gaza ao tratamento dado pelos nazistas ao povo judeu.

“Eles costumavam falar mal de Hitler. Que diferença você tem de Hitler? Eles vão nos fazer sentir falta de Hitler. O que esse Netanyahu está fazendo é menos do que o que Hitler fez? Não é. Ele é mais rico do que Hitler e recebe o apoio do Ocidente. Todo tipo de apoio vem dos Estados Unidos. E o que eles fizeram com todo esse apoio? Mataram mais de 20 mil habitantes de Gaza”, disse Erdogan há dois meses.

E essa não foi a primeira vez que ele usou comparações com episódios e personagens do nazismo e do Holocausto, o assassinato de cerca de 6 milhões de judeus pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. No fim de novembro, Erdogan sugeriu, em evento em Berlim, que a Alemanha apoia Israel na guerra contra o Hamas por sentir culpa pelo Holocausto.

“A guerra israelo-palestina não deve ser avaliada a partir de uma mentalidade de dívida. Falo livremente porque não devemos nada a Israel. Aqueles que se sentem endividados com Israel não podem falar livremente. Não passamos pelo processo do Holocausto, não temos essa situação, porque nosso respeito pela humanidade é diferente"”, afirmou Erdogan em uma entrevista coletiva conjunta com o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz.

A Turquia, que integra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – que apoia uma solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino –, está fornecendo documentos para um caso movido pela África do Sul contra Israel no tribunal superior da ONU, sob a acusação de genocídio contra civis palestinos.

O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, descreveu Erdogan como o presidente de “um país com o genocídio armênio no passado” e que estava atacando Israel com “alegações infundadas”. Israel não está entre os mais de 30 países que reconheceram formalmente os assassinatos em massa de armênios pelos turcos otomanos em 1915 como genocídio. A Turquia, estabelecida em 1923 após o colapso do Império Otomano, sempre negou que houvesse uma campanha sistemática para aniquilar os armênios.

A guerra em Gaza eclodiu em 7 de outubro, após o ataque surpresa do Hamas no sul de Israel, que deixou 1.160 mortos, segundo um relatório da agência de notícias AFP baseado em números israelenses. A resposta militar de Israel deixou mais de 29 mil mortos até agora, a maioria mulheres, adolescentes e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo Hamas desde 2007. 

Macron pediu para Israel parar de matar bebês e mulheres

O presidente da França, Emmanuel Macron, nunca comparou a ofensiva de Israel em Gaza com as ações do nazismo. Por outro lado, ele tem feito seguidas críticas à maneira como as forças israelenses têm agido na guerra que Netanyahu diz ser apenas contra o Hamas

Em entrevista à britânica BBC, em novembro, Macron disse que “Israel deve parar de matar bebês e mulheres em Gaza”. Em conversa no Palácio do Eliseu, o francês afirmou ainda que “não havia justificativa” para o bombardeio israelense de Gaza. Macron afirmou que um cessar-fogo beneficiaria Israel.

“De fato — hoje, civis estão sendo bombardeados — de fato. Estes bebês, estas mulheres, estes idosos são bombardeados e mortos. Portanto, não há razão para isso nem legitimidade. Por isso, pedimos a Israel que pare”, disse Macron.

Na última  quarta-feira (14), o presidente francês voltou a apelar ao primeiro-ministro israelense a “parar” as operações militares na Faixa de Gaza, já que “o balanço humano e a situação humanitária” são “intoleráveis”.

Em uma conversa telefônica, Macron “manifestou a firme oposição da França a uma ofensiva israelense em Rafah” e considerou “muito urgente” que se alcance “um acordo para um cessar-fogo sem mais demora”. O líder francês alertou que a operação “constituiria uma violação do direito humanitário internacional” e criaria um “risco adicional de escalada regional”. 

As autoridades israelenses continuam elaborando planos para uma incursão terrestre na cidade de Rafah, no sul de Gaza, que abriga mais de 1,3 milhão de palestinos, a maioria dos quais deslocados de outras partes do território.

Desde o início da guerra, bairros inteiros foram arrasados em Gaza pelos incansáveis bombardeios israelenses e 1,7 milhão de pessoas foram deslocadas, segundo a ONU. A Faixa de Gaza, um território superlotado de 362 km2, sitiado por Israel e imerso em uma grande crise humanitária, tem aproximadamente 2,4 milhões de habitantes.

Biden criticou ataques “indiscriminados” de Israel

Mais forte e fiel aliado de Israel, os Estados Unidos mudaram a posição de apoio incondicional a Israel na luta em Gaza. O presidente Joe Biden, que inicialmente anunciou apoio total – militar, diplomático e político – à reação de Benjamin Netanyahu, passou a criticar a política belicista de Israel.

Uma semana atrás, em que analistas internacionais viram como claro gesto de ruptura, Biden criticou publicamente Netanyahu, classificou os bombardeios a Gaza como “indiscriminados”, recomendou “mais cuidado” com civis e disse que o governo israelense não quer uma solução de dois Estados — proposta apoiada por Washington e grande parte dos seus aliados.

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