ECONOMIA

Guedes justifica guinada econômica: 'Estou em politização tardia'

Discursos do ministro da Economia são marcados por justificativa para abandono do liberalismo econômico prometido em 2018

Por Luana Melody Brasil
Publicado em 23 de novembro de 2021 | 13:06
 
 
 
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Logo no início de seu depoimento à Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (23), o ministro da Economia, Paulo Guedes, alegou que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) o politizou.

A afirmação veio na sequência do discurso sobre ter trabalhado para a ditadura chilena de Augusto Pinochet, que tem sido frequente nas últimas falas do ministro.

“Nunca vi Pinochet na vida. Minha politização é tardia. Estou sendo politizado agora, quando estou vendo tudo o que está acontecendo no Brasil. Estou tendo um curso de politização, porque minha paixão sempre foi a economia”, disse Guedes. 

Ele compareceu à Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados para explicar suas movimentações financeiras no exterior por meio de uma conta offshore em paraíso fiscal, revelada pela investigação jornalística Pandora Papers em 3 de outubro deste ano.

Guedes tem utilizado com frequência esse argumento sobre sua politização tardia para justificar a guinada econômica no governo Bolsonaro, que tem se afastado dos compromissos econômicos prometidos em 2018

Se na campanha eleitoral era prometido austeridade fiscal, privatizações e respeito religioso ao teto de gastos, agora, segundo o ministro, prevalece a política.

A proximidade das eleições federais de 2022, o aumento da fome e da pobreza, além da alta dos preços de alimentos e combustíveis, têm pressionado o governo Bolsonaro a ser mais flexível na economia.

Segundo Guedes, não é mais possível atender ao compromisso fiscal com o teto de gastos quando o presidente da República pede o pagamento mínimo de R$ 400 para o Auxílio Brasil. A medida desagradou inclusive a cúpula do Ministério da Economia, que pediu demissão no mês passado.

“Estou sendo descredenciado pelos economistas, mas estou respeitando a democracia. A economia não tem a última palavra”, disse Guedes.

“Eu tenho duas medidas possíveis, e avalio sempre. A primeira é dizer: ‘Eu vou sair porque estão desrespeitando os princípios de uma economia liberal, que quer fazer ajustes fiscais’. A segunda é o seguinte: ‘Acho que a sensibilidade política prevalece e não violenta a arquitetura fiscal”, justifica o ministro, que também costuma frisar sua ligação com a tradicional escola econômica liberal de Chicago.

'Animal em politização tardia'

Guedes recorreu a esse argumento da politização durante participação em evento de comemoração do aniversário da Secretaria de Política Econômica, vinculada à pasta, na última quinta-feira (18). Ele contou que recebeu uma proposta dos chilenos para receber U$ 10 mil mensais para dar aulas numa universidade. 

“Ditadura por ditadura, era Figueiredo contra Pinochet, eu não estava nem aí. Eu sou um animal em politização tardia. Até hoje não sei politicamente onde que eu estou. Eu gosto mesmo é de economia”, afirmou o ministro.

No mesmo evento, Guedes afirmou que, para uma parte da equipe econômica, o Auxílio Brasil parecia "oportunístico politicamente", o que justificou os pedidos de demissão de alguns secretários.

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