Guerra em Gaza

Lula sobe tom com Israel, fala em ‘carnificina’ e cobra secretário-geral da ONU

Em discurso na abertura da 8ª Cúpula dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, o brasileiro também criticou indiferença da comunidade internacional sobre Gaza

Por Renato Alves
Publicado em 01 de março de 2024 | 13:28
 
 
 
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Assim como já havia feito o Ministério das Relações Exteriores (MRE) por meio de nota oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (1º) que Israel promove uma “punição coletiva” na Faixa de Gaza. Ele voltou a falar que há um “genocídio” em andamento. Ainda usou o termo “carnificina”.

"A tragédia humanitária em Gaza requer de todos nós a capacidade de dizer um basta para a punição coletiva que o governo de Israel impõe ao povo palestino. As pessoas estão morrendo na fila para obter comida. A indiferença da comunidade internacional é chocante", afirmou Lula. 

A declaração foi feita durante discurso em Kingstown, capital de São Vicente e Granadinas, no Caribe, na abertura da 8ª Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). O brasileiro inclusive cobrou o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, presente no evento, e também citou os reféns israelenses, sequestrados pelo Hamas na invasão que deu início ao conflito.

"Quero aproveitar a presença do secretário-geral da ONU, meu companheiro António Guterres, para propor uma moção da Celac pelo fim imediato desse genocídio. Peço aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU que deixem de lados suas diferenças e ponham fim a essa matança. Já são mais de 30 mil mortos. As vidas de milhares de mulheres e crianças inocentes estão em jogo. As vidas dos reféns do Hamas também estão em jogo. Nossa dignidade e humanidade estão em jogo", completou o brasileiro.

Poucas horas antes do discurso de Lula, por meio de uma nota, o MRE afirmou que "o governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal". De acordo com o Hamas, ao menos 112 pessoas morreram e outras 280 ficaram feridas no ataque, em meio à fila para conseguir comida na quinta-feira (29).

A guerra no Oriente Médio tem rendido polêmicas ao governo brasileiro por causa de declarações de Lula, que chegou a comparar a operação militar israelense com o Holocausto e, posteriormente, reiterou que está ocorrendo um genocídio no território palestino.

Lula fala em paz na região, sem citar Guiana e Venezuela

Sem citar a crise de Essequibo, Lula também voltou a criticar os gastos militares, a defender a paz na América Latina, o fim do bloqueio econômico à Cuba e a soberania da Argentina nas Malvinas – arquipélago que já foi motivo de guerra entre o país vizinho e a Grã-Bretanha. 

“Tive a oportunidade e a satisfação de viver um momento ímpar desse desejo coletivo de maior aproximação entre nós. Trabalhamos pelo fortalecimento e ampliação do Mercosul e pela criação da Unasul. Apesar da nossa diversidade, soubemos avançar a passos firmes na construção de consensos regionais. Nos últimos anos, contudo, voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para fora do que para si própria”, disse Lula no início do discurso. 

“Entre muitos de nós, a intolerância ganhou força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar à mesma mesa. Estamos deixando de cultivar nossa vocação de cooperação e permitindo que conflitos e disputas, muitas delas alheias à região, se imponham. Defender o fim do bloqueio a Cuba e a soberania argentina nas Malvinas interessa a todos nós. Todas as formas de sanções unilaterais, sem amparo no Direito Internacional, são contraproducentes e penalizam os mais vulneráveis”, emendou.

O presidente brasileiro também falou do "paradoxo" entre o tamanho das riquezas naturais da região e da miséria de sua população.

"De acordo com a Cepal, dos 660 milhões de latino-americanos e caribenhos, ainda há 180 milhões de pessoas que não possuem renda suficiente para suas necessidades básicas e 70 milhões ainda passam fome. Esse é um paradoxo para uma região que abriga grandes e diversificados provedores de alimentos."

Para ele, o desenvolvimento sustentável e a transição energética "são uma urgência do nosso tempo e uma oportunidade para todos nós".

"Possuímos o maior potencial energético renovável do mundo, se levarmos em conta a capacidade de produzir biocombustíveis, energia eólica, solar e hidrogênio verde. Contamos com mais de um 1/3 das reservas de água do planeta e uma biodiversidade riquíssima. Em nosso solo se encontra vasto e diversificado conjunto de minerais estratégicos de grande importância para os projetos industriais de última geração", elencou o petista.

Lula tem encontros com Maduro, Petro, Arce e secretário-geral da ONU

Ainda em Kingstown, Lula se encontra com o líder da Venezuela, Nicolás Maduro. Na quinta-feira (29), no último dia de sua viagem à Guiana, o brasileiro adiantou que não pretende conversar sobre a disputa pelo território de Essequibo, região rica em petróleo reivindicada pela Venezuela.

Ainda na Guiana, em pronunciamento à imprensa ao lado do presidente do país, Irfaan Ali, Lula garantiu que a questão do Essequibo não foi tema da conversa que ambos tiveram momentos antes.

“Nós não discutimos a questão de Essequibo porque não é o momento de discutir. Foi uma reunião bilateral para discutir desenvolvimento, para discutir investimento. Mas o presidente Irfaan sabe, assim como o presidente Maduro, que o Brasil está disposto a conversar com eles a hora que for necessária, quando for necessário, porque nós queremos convencer as pessoas de que é possível, através de muito diálogo, encontrar a manutenção da paz”, afirmou Lula.

O brasileiro também disse que os países da América do Sul precisam trabalhar “intensamente” para manter a região como uma “zona de paz”. O brasileiro ressaltou que o continente não precisa de uma guerra.  

“A nossa integração com a Guiana faz parte da estratégia do Brasil de ajudar não apenas no desenvolvimento, mas trabalhar intensamente para que a gente mantenha a América do Sul como uma zona de paz no planeta terra. Nós não precisamos de guerra. Guerra traz destruição de infraestrutura, de vidas, e traz sofrimento. A paz traz prosperidade, educação, geração de emprego e tranquilidade aos seres humanos”, afirmou Lula.

Em Kingstown, Lula terá outros encontros bilaterais, além do já anunciado com Maduro. A lista inclui o presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Lula deve discutir a situação na Faixa de Gaza com Petro, o ministro das Relações Exteriores do Chile, Alberto van Klaveren, e a secretária de Relações Exteriores do México, Alicia Bárcena.

O presidente brasileiro também terá uma reunião bilateral com o presidente da Bolívia, Luis Arce, além de um encontro com o secretário-geral da ONU, António Guterres.

A previsão é que Lula embarque de volta para Brasília no início da noite.

 

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