BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dividiu o palco e cumprimentou Alessandra Moja Cunha e Yasmin Moja Flores durante um evento na favela do Moinho em junho. As duas foram presas preventivamente nesta segunda-feira (8/9) por suspeita de tráfico de drogas e extorsão contra moradores da comunidade, que fica na região central de São Paulo.
O petista foi à favela no dia 26 de junho para anunciar um programa habitacional que atende cerca de 900 famílias que vivem no local e dá acesso a R$ 250 mil para comprar uma nova casa.
Alessandra e Yasmin foram elogiadas no evento por sua atuação na Associação dos Moradores da Favela do Moinho. Na ocasião, as duas foram anunciadas ao microfone —por outra líder da associação— como integrantes da "comissão de frente de orgulho" da entidade.
O presidente apertou a mão delas quando, por alguns segundos, elas foram chamadas à frente do palco. Alessandra e Yasmin são, respectivamente irmã e sobrinha de Leonardo Monteiro Moja, o Léo do Moinho, apontado como líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) no centro de São Paulo.
Na véspera, Alessandra e outras lideranças da favela se reuniram com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, e outros integrantes do governo para organizar a visita de Lula ao local.
Questionada, a Secretaria-Geral da Presidência da República afirmou que a única pauta tratada pelo governo federal no Moinho, "foi a solução habitacional para as 900 famílias que residem naquela localidade" e que o acordo para o programa habitacional para moradores da favela "foi construído entre o governo federal e o governo do estado de São Paulo".
A pasta ressaltou que não houve reunião em separado de Alessandra com o ministro, apenas uma reunião conjunta de lideranças comunitárias com o governo federal que foi, inclusive, acompanhada pela imprensa.
A reportagem não localizou as defesas de Alessandra e Yasmin. A defesa de Léo do Moinho afirmou que "desconhece os fatos mencionados".
Segundo disse à Justiça o Gaeco (Grupo de Ação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de São Paulo, Alessandra extorquia moradores da favela que assinavam acordos com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) para deixar o local e entrar no programa habitacional do governo estadual.
O cadastro no programa e a assinatura de documentos só era autorizada mediante pagamento à família Moja, afirmam os promotores.
O dinheiro arrecadado na extorsão de dinheiro de moradores e outras atividades ilícitas seria enviado por Alessandra a empresas para ocultar a origem, também segundo o Gaeco.
Já em relação a Yasmin, os promotores apontam que ela mora num imóvel que pertence a Léo do Moinho e que é usado "para o armazenamento de ilícitos". O documento registra que ela é líder comunitária e que trabalha na companhia de lixo da comunidade, mas não traz mais detalhes de suspeitas que pesem contra ela.
Em junho, Lula afirmou que "na cabeça de muita gente da elite brasileira, pobre e gente que mora em favela é sempre considerado bandido", ao citar as críticas de que o programa beneficia pessoas ligadas ao crime organizado.
Em abril, quando a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou um plano de retirada das famílias, moradores realizaram uma série de protestos. Além de questionarem o processo de remoção, eles também se manifestavam contra o uso de força policial contra a população da favela.
O plano de remoção mobilizou a gestão estadual e o governo federal a chegar a um acordo, uma vez que o terreno onde está a favela pertence à União.
Em junho, Lula também assinou o decreto que dava início ao processo de transferência do terreno ao governo estadual. "A minha preocupação é que, se a gente fizer a cessão e eles tiverem que ocupar isso aqui amanhã, vão utilizar outra vez a polícia e vão tentar enxotar vocês [moradores]", disse o presidente na ocasião.