Discurso

Na ONU, Lula defende Julian Assange ao falar sobre liberdade de imprensa

Assange é fundador do WikiLeaks, que em 2010 passou a publicar informações secretas sobre a atividade militar norte-americana no Iraque e no Afeganistão

Por Renato Alves
Publicado em 19 de setembro de 2023 | 12:08
 
 
 
normal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, no discurso de abertura da  78º Assembleia Geral da ONU, na manhã desta terça-feira (19), a liberdade de imprensa e o jornalista australiano Julian Assange. Também falou em combate à desinformação.

“É fundamental preservar a liberdade de imprensa. Um jornalista, como Julian Assange, não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima. Nossa luta é contra a desinformação e os crimes cibernéticos”, ressaltou o presidente. 

Nos Estados Unidos, Assange é considerado traidor pelo governo. No entanto, lá também é visto como herói por muita gente, como no restante do mundo. Há quem o considere um modelo de jornalista na luta pela transparência.

Assange é fundador do WikiLeaks, que em 2010 passou a publicar informações secretas sobre a atividade militar norte-americana no Iraque e no Afeganistão. O material inclui um arquivo com seis anos de documentos militares confidenciais sobre a guerra no Afeganistão. Depois, o site divulgou um segundo montante de relatórios secretos, desta vez sobre a Guerra do Iraque.

Em seguida, o WikiLeaks tornou público 250 mil telegramas diplomáticos confidenciais americanos que mostravam os bastidores das negociações entre Estados Unidos e aliados durante a chamada “guerra ao terror”, lançada pelo governo de George W. Bush depois dos ataques de 11 de Setembro de 2001.

Parte do material sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque foi entregue ao WikiLeaks pela soldado Chelsea Manning, presa e condenada em 2013 nos EUA a 35 anos de prisão por violação da Lei de Espionagem. Manning passou sete anos na cadeia, até ser indultada em 2017 pelo então presidente Barack Obama.

Em 2012, Assange pediu asilo à embaixada do Equador em Londres, na Inglaterra, para evitar ser extraditado à Suécia, onde era acusado de estupro. O processo sueco foi encerrado, mas ele dizia temer estar sendo secretamente investigado nos Estados Unidos, o que se confirmou em 2018. 

Antes disso, em 2016, o Comitê de Direitos Humanos da ONU, encarregado de verificar a implementação de tratados sobre direitos civis, decidiu que o Reino Unido e a Suécia haviam arbitrariamente detido Assange, e que deveriam restaurar sua liberdade de ir e vir e compensá-lo. 

O comitê disse que os promotores suecos não haviam acusado formalmente o australiano e que nunca haviam mostrado provas contra ele. A decisão foi desconsiderada pelos dois países, e Assange permaneceu na embaixada equatoriana.

Depois disso, promotores suecos interrogaram na representação diplomática, sem a presença de advogado. A situação de Assange piorou com a eleição presidencial no Equador em 2017. O novo presidente, Lenín Moreno rompeu com o antecessor e ex-aliado Rafael Correa, que havia concedido asilo ao jornalista.

Moreno disse que deixaria Assange permanecer na embaixada em Londres, mas passou a negociar o fim do asilo com o Reino Unido. Também chamou Assange de hacker, reduziu seu acesso à internet e o advertiu a não fazer declarações políticas.

Por outro lado, em maio de 2017, os promotores suecos encerraram a investigação de estupro contra Assange, sem comprovar o crime. O jornalista ainda enfrenta um mandado de prisão no Reino Unido por não comparecer à Justiça depois que sua extradição foi aprovada. 

Em dezembro de 2018, o Equador concedeu a cidadania a Assange. Logo em seguida, o Equador pediu que o Reino Unido concedesse imunidade diplomática ao jornalista para que ele pudesse deixar a embaixada, mas o pedido foi recusado. O governo equatoriano então disse que buscaria um mediador para ajudar a negociar um possível acordo que o liberaria para deixar o prédio. Desde então permanece o impasse.


 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!