Sucessão

Inferno astral que seguia Zema agora persegue prefeito Kalil

Prefeito e governador protagonizam inversão de papéis a um ano das eleições estaduais. Prefeito passa por mesmos problemas que atormentaram adversário político

Por Franco Malheiro
Publicado em 13 de setembro de 2021 | 03:30
 
 
 
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Protagonistas na cena política mineira, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), têm os papéis invertidos a pouco mais de um ano das eleições para o Executivo estadual. Zema parece ter se livrado do inferno astral que o acompanhou no primeiro semestre deste ano. Já Kalil deixou os bons ventos que o seguiam. 

Os mesmos problemas que perseguiram o governador, agora, atormentam o prefeito. Se no primeiro semestre deste ano, Kalil se via em situação confortável, tendo sido reeleito em primeiro turno e visto até mesmo como possível terceira via na disputa pela Presidência, agora enfrenta barreiras na Câmara de BH e crises dentro da própria administração, exatamente no momento em que deveria voltar a atenção ao interior do Estado, para a possível disputa ao governo de Minas Gerais.

O prefeito enfrenta duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Câmara Municipal e pouco apoio no Parlamento, o que inviabilizou a aprovação de medidas como o empréstimo para obras contra enchentes na Vilarinho. Além disso, está às voltas com a proposta de alguns vereadores de aumentar o Auxílio Belo Horizonte.

Toda essa querela é velha conhecida do governador Romeu Zema. No início do ano, ele protagonizou embates com parlamentares que queriam justamente aumentar o auxílio emergencial mineiro. A relação com o Parlamento estadual sempre foi tensa. Prova disso é que a Assembleia instaurou duas CPIs para investigar atos na gestão Zema. Mas, para o governador, a tempestade parece ter ido embora. Desde o início do ano, ele conseguiu conquistas como o fim do parcelamento dos salários e o acordo com a Vale. 

Análise

“Ainda acho que essa não é uma eleição que está definida. O Zema vai depender fundamentalmente da construção da sua imagem em torno dessas suas promessas e entregas que de fato estão sendo feitas, mas acredito que vai ser uma eleição de performance pessoal, e acho que a performance pessoal e o estilo de Kalil podem fazer a diferença nessa questão emotiva do eleitor”, avalia o cientista político e professor da UFMG Felipe Nunes. Sobre a situação do prefeito, Nunes ressalva que, mesmo com problemas com a Câmara, não é uma agenda que será relevante nas eleições. 

Procurados pela reportagem no fim da tarde de ontem, Alexandre Kalil e Romeu Zema não se posicionaram. 

Retóricas ganham críticas mútuas

Oposição ao governador Romeu Zema (Novo), o deputado estadual Professor Cleiton (PSB) destaca que o problema maior enfrentado pelo chefe do Executivo é “a desconstrução da imagem de renovação do partido Novo.” “A CPI da Cemig, um dos maiores escândalos corporativos, derrubou os ideais de meritocracia do governador”, pontuou Cleiton. “Por outro lado, vejo o prefeito Kalil com força expressiva na região metropolitana de Belo Horizonte e com grande potencial de crescimento no interior de Minas”, finalizou. 

Já a vereadora Marcela Trópia (Novo) enxerga que o perfil de Kalil o levou para a situação em que ele se encontra agora. “Kalil colhe o que plantou. Esse perfil de ir queimando pontos com todo mundo, de não escutar ninguém, de não se preocupar com a gestão da cidade, e sim em brigar com a Câmara Municipal, traz ao Kalil agora a colheita desse fruto”, afirma. “Já Zema também colhe os frutos, por ter adotado um perfil mais equilibrado e sustentável”, disse. 

Estratégias opostas na conquista eleitoral

Com situações políticas diversas, as estratégias para 2022 do governador Romeu Zema (Novo) e do prefeito Alexandre Kalil (PSD) também devem ser diferentes, conforme aponta analista político.

Para o especialista Felipe Nunes, cabe a Kalil, neste momento, tornar-se mais conhecido em cidades fora da região metropolitana. Segundo Nunes, o caminho é lançar, de fato, a pré-candidatura. 

“Primeiro, o Kalil vai ter que usar o que ele tem de melhor, que é o lado midiático. Ele deveria rodar o interior, mas mais que (fazer) acordo com os prefeitos, se posicionar nas mídias locais. E, segundo e mais importante, anunciar candidatura de fato, porque, até agora, não há nada confirmado, apenas especulação”, explicou. 

“Quando ele começar a rodar o interior dizendo que é candidato, as pessoas começam a pensar na possibilidade do Kalil como candidato, e aí as coisas começam a mudar”, afirma o professor. 

Já no caso de Romeu Zema, segundo Nunes, o governador tem a vantagem de estar no cargo. “Na literatura, existem vários estudos que mostram que o candidato que tem a máquina possui sempre mais chance de ganhar eleição, porque ele tem poder de agência”, explicou Nunes, citando que as atuais medidas administrativas adotadas por Zema, como o fim do parcelamento dos salários dos servidores públicos, o favorecem eleitoralmente. 

Cientista aponta dilema para prefeito

O também cientista político e professor do Ibmec e da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Adriano Cerqueira acredita que o momento que Kalil passa à frente da prefeitura pode ser um empecilho na busca por popularidade no interior. 

“Kalil precisa rodar o Estado, se projetar no Estado, só que precisa também cuidar dessa vantagem que tem na região metropolitana. Por isso, fica em uma situação difícil, em que precisa se descuidar da prefeitura para rodar o Estado, e no momento em que enfrenta dificuldades de gestão”, afirmou.

Para Cerqueira, Zema também está de olho na RMBH. Tanto que anunciou acordo para viabilizar a expansão do metrô na capital. “O desejável para Kalil é que Zema estivesse com problemas de popularidade”, completa. 

 

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