BRASÍLIA - O que aproxima Cármen Lúcia do seu colega de Supremo Tribunal Federal (STF) - e agora ex-colega de Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Alexandre de Moraes - é também o que os difere. De perfil técnico, menos político e mais discreto, a ministra que assumiu pela segunda vez o comando da Justiça Eleitoral pelos próximos dois anos teve uma troca de presidência marcada por muitas referências à sua mineiridade, uma lista de convidados menos badalada e uma recepção sem festa na pós-cerimônia de cumprimentos.
Diferente da solenidade de junho de 2022, quando Alexandre de Moraes reuniu mais de mil convidados, entre ex-presidentes da República e embaixadores no Brasil, Carmém encheu o plenário principal do TSE com cerca de 300 pessoas, entre muitos representantes do meio jurídico e alguns do político.
Hipólita Jacinta
Em um discurso firme, com promessas de responsabilização a quem atacar a democracia, Cármen Lúcia, única mulher no Supremo e a primeira na história a comandar o TSE - ineditismo que se repete ao reocupar o cargo - deu sinais de como pretende enfrentar a misoginia no Judiciário. De voz mansa e tom baixo, fez referência a inconfidente Jacinta Hipólita, única mulher a atuar na Inconfidência Mineira.
“Geraizeira que sou, legatária de Hipólita Jacinta, conjurada que lutou pelas liberdades afetuosas da República de Vila Rica, aprendi sua lição de quem não pode com as coisas, não se meta nelas, porque mais vale morrer com honra que viver com desonra.”
Hablar
Com recentes desacordos e arestas a aparar, os presidentes da República e do Congresso tiveram muito o que falar. E assim o fizeram, ainda durante a cerimônia. Sentados lado a lado, Lula e o senador Rodrigo Pacheco (PSD) aproveitaram o discurso do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Beto Simonetti, para conversar ao pé do ouvido e só foram interrompidos com os aplausos no encerramento da fala do advogado.
Amigos de Minas
Na plateia de convidados, parentes e amigos próximos de Carmén Lúcia se misturavam às autoridades do jurídicas. Pessoas como o ex-presidente do Atlético Mineiro e ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, com quem a ministra tem uma longa e forte amizade. Ou mesmo Paula Lavigne, atriz e empresária de Caetano Veloso, com quem já foi casada. O cantor não foi. Sozinha, ela ficou alguns instantes sem saber o que fazer nem para onde ir enquanto o plenário se esvaziava, até ser “resgatado” pelo líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP).
Bituca e Maria Maria
Assim como todos os outros homens que discursaram, o corregedor-geral do TSE, ministro Raul Araújo, fez elogios à ministra Cármen Lúcia e sua mineiridade. Ressaltou que a chegada da ministra traz aceno tranquilizador ao ser uma magistrada nascida em Montes Claros reconhecida em todo o país. E citou versos de Maria Maria, do cantor Milton Nascimento.
“Cármen Lúcia cultiva a descrição dos sábios. A sobriedade da gente humilde, forte e pelejador. E a determinação de quem sabe aonde quer chegar. Conhece e assume sua responsabilidade como a mulher de maior prestígio na vida pública brasileira na atualidade. Como mineira da gema, é ‘um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta’ e ‘possui a estranha mania de ter fé na vida’”.
Estilo “café e água”
A cerimônia de cumprimentos de Cármen Lúcia foi ao estilo quase franciscano da ministra: na base de café e água. Diferente da posse de seu antecessor, em que os convidados aguardavam os cumprimentos regados a comidinhas, vinhos e espumantes, a da nova presidente não teve pompa nem ostentação. O único garçom a postos estava ao lado da área de fotos para servir, eventualmente, os dois homenageados ou a um ou outro convidado que saísse com sede da área de cumprimentos.
Beija mão
A fila de cumprimentos pausada para fotos com a ministra andava com lentidão. É que Cármen Lúcia parava para conversar com as pessoas próximas, o que alterava o fluxo ditado normalmente pelo ritual. Não foram raras as vezes em que, ao seu lado, o vice-presidente empossado do TSE, ministro Kassio Nunes Marques, se afastava para não sair em algumas fotos oficiais em que os convidados queriam aparecer só com a presidente.