Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luís Roberto Barroso afirmou nesta terça-feira (30) que o sistema eleitoral brasileiro está imune às supostas fraudes ocorridas na eleição presidencial da Venezuela, que tem o resultado questionado pela oposição e não reconhecido por diversos países

Barroso lembrou, durante uma palestra na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, que, diferentemente da Venezuela, o Brasil adotou as urnas eletrônicas e, desde o fim do voto impresso, nunca houve comprovação de fraude em qualquer pleito.

“O Supremo atuou intensamente contra a volta do voto impresso, que sempre foi o caminho da fraude no Brasil. Não tem nenhuma chance do que está acontecendo hoje na Venezuela ocorrer no Brasil ou algum tipo de denúncia como a que Donald Trump fez na eleição (dos EUA) em que perdeu (2020). Aqui a votação é eletrônica e o código fonte é aberto um ano antes. Qualquer um pode fiscalizar”, ressaltou.

Venezuela usa urna eletrônica com voto impresso 

A Venezuela usa sistema eletrônico para apurar votos e cédulas físicas para auditar o resultado. É o mesmo que queriam Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores, que, sem apresentar provas, levantaram dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro nos quatro anos da gestão bolsonarista. 

Bolsonaro foi tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por oito anos por causa de um encontro com embaixadores de países estrangeiros no Palácio da Alvorada em que ele apontou supostas irregularidades nas urnas eletrônicas sem mostrar evidências.

Os resultados divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela informam que o presidente Nicolás Maduro foi reeleito com 51,2% dos votos, contra 44% do opositor Edmundo González. A oposição, no entanto, afirma que Edmundo González venceu com 70%. O órgão que organiza a eleição na Venezuela é totalmente controlado pelo regime chavista.

Entidades apontam falta de transparência

Órgão de fiscalização internacional, o Centro Carter declarou na terça-feira que não pode verificar os resultados das eleições na Venezuela. A entidade apontou para uma “ausência de transparência” no processo de divulgação dos resultados. A eleição “não obedeceu aos parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”, afirmou a organização.

Sediada em Atlanta (EUA) e fundada pelo ex-presidente americano Jimmy Carter, a ONG especializada no monitoramento de eleições exigiu que o governo venezuelano publique os resultados da disputa de domingo (28), em cada centro de votação, alegando que os dados detalhados são fundamentais para determinar a lisura do processo.

Já a Organização dos Estados Americanos (OEA) denunciou, em um comunicado do gabinete do seu secretário-geral, Luis Almagro, também na terça-feira, que as eleições presidenciais de domingo na Venezuela sofreram “a mais aberrante manipulação”.

“Ao longo de todo este processo eleitoral vimos a aplicação pelo regime venezuelano do seu esquema repressivo complementado por ações destinadas a distorcer completamente o resultado eleitoral, colocando esse resultado à disposição da manipulação mais aberrante”, afirma o texto.

Lula diz que não há nada de anormal

Diferentemente de outros países, o Brasil adotou um tom de cautela em relação à Venezuela. O Itamaraty diz esperar a divulgação das atas eleitorais. Na terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu a informação, mas afirmou que não há nada de grave ou anormal com as eleições no país vizinho.

“Não tem nada de grave, nada assustador. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a terceira guerra mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição. Teve uma pessoa que disse que teve 51%. Teve uma pessoa que diz que teve quarenta e pouco por cento. Um concorda, outro não. Entra na Justiça, a Justiça faz”, disse Lula.

“Como vai resolver essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre oposição e situação, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça andar o processo. E aí vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Estou convencido de que é um processo normal, tranquilo”, completou o presidente brasileiro.