BRASÍLIA — A 19 dias do primeiro turno das eleições municipais, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, avaliou que as violências sofridas pelas candidatas contribuem para afastar as mulheres da política. Ela citou conversas que teve recentemente com prefeitas vítimas de ataques políticos de gênero e classificou essas agressões como "violência contra a democracia".
"Nesta eleição, algumas prefeitas muito bem-avaliadas me avisaram que não vão se recandidatar. Uma delas me disse: 'ministra, minha filha vive há um ano e meio com a avó em outra cidade porque não podia mais ir à aula, das coisas que falaram e plantaram contra mim'. Todas de cunho sexual. Esta é outra violência. Violência, como eu disse, contra a democracia", relatou nesta terça-feira (17).
A ministra participou nesta manhã da abertura do seminário sobre lideranças femininas organizado pelo Ministério da Justiça. Ela dividiu a mesa com as ministras da Igualdade Racial, Anielle Franco, e da Gestão e Inovação, Esther Dweck. O ministro da Justiça e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, com quem Cármen Lúcia trabalhou na Corte, também participou do encontro.
Durante o seminário, a presidente do TSE relembrou a ausência de mulheres no plenário do STF: desde a aposentadoria da ministra Rosa Weber, em setembro do ano passado, Cármen Lúcia é a única mulher entre os 11 ministros da Corte.
"Me perguntaram quando teremos igualdade no Supremo Tribunal Federal. Respondi: 'o dia que os 11 ali forem mulheres'. Retrucaram perguntando se não seria hegemonia. Bom, ninguém perguntou se era hegemonia quando só tínhamos homens", afirmou. "Quando um colega inicia a sessão cumprimentando os pares, não me sinto cumprimentada. Eu não sou um par ali, sou ímpar", acrescentou.
A ministra, inclusive, cobrou que é hora de uma mulher presidir o Ministério da Justiça. Pasta mais antiga do governo brasileiro, o Palácio da Justiça nunca foi presidido por uma ministra. "Quero uma ministra da Justiça, quero mulheres na chefia. É um direito de todas nós, e há mulheres habilitadas para esses cargos de chefia", disse.
Cármen Lúcia é ministra do STF há 18 anos e, em 2024, preside o Tribunal Superior Eleitoral pela segunda vez desde então.