BRASÍLIA - No telão que ocupava todo o fundo do palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, imagens de fotografias ao lado o pai, tiradas da infância à vida adulta. À frente delas, andando de um lado a outro com o microfone na mão, um político eleito aos 17 anos com a missão de derrotar a mãe - a mando do pai - e que, desde então, se mantém como representante da família na Câmara Municipal do Rio.
“Meu pai conseguiu eleger um poste. Eu não sabia onde tava me metendo”, revelou Carlos Bolsonaro, filho 02 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), durante o encerramento do 1º Seminário de Comunicação do Partido Liberal, nesta sexta-feira (21).
“Vou tentar melhorar meu vocabulário aqui”, continuou, ao relembrar que tomou posse 23 dias depois de completar 18 anos. “O medo de errar era tanto que ele falava pra mim: ‘Oh, no grande expediente que são [as sessões] onde os vereadores discursam, eu quero que você fique sentado lá embaixo [no plenário], mesmo que seja sozinho, e não fale com ninguém'. E eu ficava sentado sem conversar com ninguém”.
'Marqueteiro' acusado de comandar 'gabinete do ódio'
Aos 42 anos, Carlos é apontado pelo ex-presidente como o “marqueteiro” responsável por elegê-lo a chefe de Estado em 2018 após de 27 anos como integrante do baixo clero na Câmara dos Deputados.
“Eu tenho certeza que o velho só quer o meu bem”, disse, com a voz embargada e pausada pelo choro. “Desculpa estar emocionado do jeito que eu tô, porque o momento que a gente vive é delicado, é covarde. Eu não desejo isso pra ninguém”, lamentou diante do risco de Bolsonaro ser julgado e preso a mando do Supremo Tribunal Federal (STF).
Eu meio às suas falas, Carlos Bolsonaro cumprimentava e chamava pelo nome pessoas que estavam sentadas na plateia, falou sobre a separação dos pais seus pais, quando a mãe Rogéria Nantes era, então, vereadora do Rio - “foi traumática, não vou enganar os senhores” - e das estratégias de comunicação para melhorar a imagem de Jair Bolsonaro e fazê-lo chegar à Presidência da República.
‘Faz parte você desmerecer as pessoas, não só com palavras, mas com imagens também”, disse ele, que era apontado como o comandante do chamado de “gabinete do ódio” do Planalto, onde memes e notícias falsas teriam sido produzidos para descredibilizar adversários e fortalecer ações de aliados e do governo Bolsonaro.
'A PF de Alexandre de Moraes'
“Não estou preso pela PF do Alexandre de Moraes porque abro mão de conversar com pessoas que não teria problema [em] conversar”, informou. Em janeiro de 2024, Carlos foi alvo de uma operação da Polícia Federal com mandados de busca e apreensão em seus endereços nas cidades do Rio e de Brasília, onde mantém o apartamento sob aluguel.
No final da fala de cerca de 20 minutos, Bolsonaro subiu ao palco acompanhado do ex-ministro do Turismo Gilson Machado, Com um acordeão, Gilson tocou um forró em homenagem ao ex-presidente antes de assistirem ao teaser do que virá a ser um filme com depoimentos de políticos e familiares contando histórias de Jair Bolsonaro. A direção é do ex-secretário de Cultura e deputado federal Mário Frias (PL-SP).