BRASÍLIA – Atendendo pedido do Ministério Público Federal (MPF), um juiz federal manteve preso o caminhoneiro que jogou seu veículo contra viaturas e o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no trecho da BR-060 (Brasília-Goiânia) que corta o Recanto das Emas, cidade do Distrito Federal, na madrugada de quarta-feira (26).
O MPF apontou suspeita de ato terrorista, com base em declaração do próprio caminhoneiro, gravada em vídeo pelos agentes que estavam no posto da PRF no momento da colisão. Na audiência de custódia, realizada na quarta-feira, o homem admitiu a intenção de atingir a base policial.
“Todo [estragar todo o posto] é terrorista, fiz de propósito. É revoltante que o Estado quer prender o Bolsonaro”, disse o motorista, em vídeo feito pelos agentes da PRF que testemunham o acidente. O homem foi identificado como Márcio Pinheiro Saldanha, nascido em São Paulo.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi tornado réu pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), poucas horas depois. Ele e sete aliados são acusados de cinco crimes: organização criminosa, abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado ao patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
O juiz Marcelo Gentil Monteiro atendeu outro pedido do MPF e autorizou um exame de insanidade no caminhoneiro. O magistrado também autorizou o acesso dos investigadores ao conteúdo dos celulares apreendidos com o réu, diante da possibilidade de que contenham provas da participação de terceiros.
Ainda na quarta-feira, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski confirmou que o caminhoneiro preso em flagrante declarou em vídeo que cometeu um ato de terrorismo. A motivação, segundo ele mesmo disse, foi um protesto contra o julgamento de Bolsonaro no STF.
“É um fato bastante preocupante. O motorista da carreta disse, em um vídeo, que praticou um ato terrorista em protesto contra o julgamento que está sendo realizado no Supremo. Isso naturalmente preocupa as autoridades”, afirmou Lewandowski.
“Há um vídeo correndo na internet, ele mesmo disse que foi contra o julgamento no Supremo Tribunal Federal. Agora, a investigação é que dirá se foi um ato de insensatez ou se há mais pessoas envolvidas”, acrescentou o ministro.
Lewandowski disse ainda que a Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso. Explicou que a investigação visa esclarecer as motivações de Márcio Saldanha. “Vamos apurar se ele agiu sozinho, num momento de insensatez, ou se havia alguma ligação externa. É o inquérito policial que trará essas respostas”, ponderou o ministro.
Alcoolizado, caminhoneiro tentou subornar policiais
O caminhão trafegava em alta velocidade quando atingiu barreiras plásticas usadas para canalizar o fluxo viário, ultrapassando o bloqueio policial e avançando pelo acostamento. Sem controle, o veículo passou sobre um quebra-molas e colidiu com viaturas da PRF estacionadas em frente ao posto.
Submetido ao teste do etilômetro, foi constatado o índice de 0,95 mg/L (miligramas de álcool por litro de ar alveolar), valor quase três vezes superior ao que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) classifica como crime de trânsito. Além disso, o homem tentou subornar os policiais, oferecendo dinheiro para ser liberado.
Ele foi preso em flagrante pelos crimes de embriaguez ao volante, corrupção ativa e tentativa de homicídio, além da suspeita de terrorismo, e conduzido para a sede da PF, na área central de Brasília. Ao vasculharem o caminhão, policiais encontraram cerca de R$ 15 mil em espécie. O dinheiro foi apreendido, junto com celulares e o veículo.