BRASÍLIA – O prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Marcelo Lima (Podemos), foi afastado do cargo na manhã desta quinta-feira (14/8), durante operação da Polícia Federal (PF) contra crimes de corrupção e lavagem de dinheiro praticados por organização criminosa na administração do município. Ele terá que usar tornozeleira eletrônica.
O vereador Danilo Lima Ramos (Podemos), que é presidente da Câmara de São Bernardo do Campo e primo do prefeito, também é alvo da operação, assim como o suplente de vereador Ary José de Oliveira (PRTB). Todos foram afastados por ordem do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP).
As investigações começaram em julho de 2025, após a apreensão de R$ 14 milhões e US$ 500 mil em espécie na casa de Paulo Iran Paulino Costa. Para transportar a quantia, a PF precisou usar dois carros-fortes.
Paulo Iran é assessor da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e está lotado no gabinete do deputado estadual Rodrigo Moraes (PL) desde 2022. Ele foi alvo da PF em julho durante investigação contra organização criminosa.
Na época da apreensão em sua casa, ele não foi preso, pois não havia ordem judicial para tal. Mas, a partir da análise do telefone celular dele, investigadores identificaram relação muito próxima com o prefeito de São Bernardo.
Na mesma ocasião, policiais federais encontraram comprovantes de pagamento de uma fatura do cartão de crédito de Marcelo Lima e de uma conta telefônica em nome da primeira-dama do município. Havia ainda crachás de veículos para acesso à sede da prefeitura.
Uma das ordens de prisão emitida pelo TJSP para a operação desta quinta-feira é para Paulo Iran, apontado como operador financeiro de propinas. Ele estava foragido até a última atualização desta reportagem.
Outro alvo de mandado de prisão é o dono de uma construtora que tem contrato com a prefeitura. O nome dele não foi divulgado. Durante cumprimento de mandado, os agentes encontraram R$ 400 mil em espécie na casa do empreiteiro, que acabou detido.
Na Operação Estafeta, desencadeada nesta quinta-feira, agentes foram às ruas para cumprir duas ordens de prisões preventivas, 20 mandados de busca e apreensão e medidas de afastamento de sigilos bancário e fiscal, nas cidades de São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e Diadema, todas no estado de São Paulo.
Os investigados poderão responder pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e corrupção ativa. A defesa de nenhum deles nem a Prefeitura de São Bernardo haviam se pronunciado até a mais recente atualização desta reportagem.
Veja carreira política de Marcelo Lima e que assume a prefeitura
Marcelo Lima assumiu a prefeitura de São Bernardo em janeiro deste ano. Com o afastamento dele, assume a vice-prefeita, Jessica Cormick, do Avante, que é sargento da Polícia Militar e está em seu primeiro cargo público.
Cormick, que tem 38 anos, é sargento da PM paulista desde 2005. Ela se afastou da corporação no ano passado, ao ser convidada pelo então deputado federal e candidato Marcelo Lima para ser vice na chapa dele.
Em 2022, Lima foi eleito deputado federal com 110.430 votos, mas teve o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por infidelidade partidária ao trocar o Solidariedade pelo Podemos.
Lima foi eleito vereador em São Bernardo em 2008 e 2012, ficando no cargo de 2009 a 2016. Ele foi vice-prefeito da cidade entre 2017 e 2022, enquanto Orlando Morando (PSDB), atual secretário da Segurança Urbana de São Paulo, comandou o município.
Em 2024, Lima candidatou-se à prefeitura de São Bernardo do Campo. Durante o período eleitoral, enfrentou o ex-aliado Orlando Morando, que apoiou a candidatura da sobrinha, Flávia Morando, para sucedê-lo no cargo.
Flávia Morando perdeu a disputa ainda no primeiro turno, enquanto Lima e Alex Manente (Cidadania), disputaram o segundo turno. Com o apoio de Orlando Morando, Lima elegeu-se com 55,7% dos votos válidos.