BRASÍLIA – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, alvo de sanções do governo dos Estados Unidos, afirmou que não se deixará intimidar e ameaçou punir bancos que aplicarem medidas contra ele dentro do Brasil.
A declaração abre uma nova frente de tensão entre Brasília e Washington diante do cerco internacional imposto a ele pela Casa Branca, comandada por Donald Trump.
A crise tem potencial de se transformar em um dos maiores embates diplomáticos recentes, afetando não apenas a política, mas também o sistema financeiro nacional. O receio é de que a disputa comprometa a posição de grandes instituições brasileiras no mercado internacional, já que os EUA controlam parte significativa do fluxo global de capitais.
Moraes, no entanto, minimiza os efeitos e sustenta que a decisão de Trump reflete mais pressões políticas de aliados de Jair Bolsonaro do que um consenso entre as autoridades americanas.
Em entrevista exclusiva à agência Reuters publicada nesta quarta-feira (20/8), o ministro declarou estar confiante de que as sanções serão revertidas, seja por via diplomática ou por contestação nos tribunais dos Estados Unidos. Ele acrescentou que já percebe divisões internas no governo norte-americano sobre o tema e disse ter informações de que setores do Departamento de Estado e do Tesouro resistiram à medida.
Na avaliação de Moraes, a punição não tem base jurídica sólida e expõe as instituições financeiras brasileiras a uma armadilha.
“Se um banco aplicar ordens estrangeiras dentro do território nacional, poderá ser penalizado pela legislação brasileira. Nenhuma decisão internacional entra automaticamente em vigor aqui sem o devido processo”, afirmou.
Alexandre de Moraes diz manter hobbys como leitura e artes marciais na rotina
O impasse se soma ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete aliados acusados de planejar um golpe de Estado em 2022.
Moraes, relator do caso, tornou-se alvo preferencial de ataques políticos da extrema direita brasileira e de pressões externas ligadas ao ex-presidente, hoje réu no STF. Não por acaso, Trump classificou o processo contra Bolsonaro de “caça às bruxas” ao anunciar sanções contra o magistrado e tarifas extras sobre produtos brasileiros.
Mesmo sob pressão, Moraes mantém a rotina. Continua a se dividir entre a presidência do Tribunal Superior Eleitoral no passado recente, os embates com redes sociais e gigantes da tecnologia – como Elon Musk – e a condução de inquéritos que atingem diretamente a cúpula bolsonarista. Na vida privada, confessa que não abriu mão das artes marciais, do boxe e de suas leituras. Na mesa de cabeceira, um exemplar de Leadership, último livro de Henry Kissinger, é sua companhia mais recente.
O ministro também reforça que o destino de suas sanções é apenas mais um capítulo em um jogo geopolítico maior. “Assim que as informações corretas chegarem às autoridades americanas, acredito que o próprio poder executivo dos EUA irá reverter a decisão”, disse.