Investigação

PF faz operação contra financiadores dos ataques aos três poderes em Brasília

Os agentes cumprem mandados de prisão preventiva nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal

Por Renato Alves
Publicado em 20 de janeiro de 2023 | 08:03
 
 
 

A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta sexta-feira (20), a primeira fase da Operação Lesa Pátria, que visa identificar pessoas que participaram, financiaram ou fomentaram os atos criminosos contra os três poderes, em 8 de janeiro, quando o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) foram invadidos por grupo que promoveu violência e dano generalizado contra os imóveis, móveis e objetos daquelas instituições.

Os agentes têm oito mandados de prisão preventiva e 16 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo STF, no Distrito Federal e nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.

Os alvos são suspeitos dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

Ramiro dos Caminhoneiros é um dos alvos e foi preso

Entre os presos está Ramiro Alves da Rocha Cruz Junior, conhecido como Ramiro dos Caminhoneiros. Nas redes sociais, ele aparecia incitando a invasão dos prédios em Brasília e um golpe de estado por meio de intervenção militar. Ele também pedia dinheiro para a realização dos atos criminosos.

Ramiro Cruz era um dos líderes do acampamento Quartel-General do Exército, em Brasília. Após os atos do dia 8 e o desmonte do acampamento no dia seguinte, que resultou na prisão em flagrante de mais de mil pessoas, Ramiro foi ao ginásio da unidade da PF onde os acusados eram mantidos até audiência de custódia. Ele entrou no local sem se identificar, muito menos ser revistados, fez vídeos e foi embora. 

Ramiro é filiado ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele foi candidato a deputado estadual pelo estado de São Paulo em 2018 (pelo PSL), partido pelo qual Bolsonaro foi eleito) e 2022 (pelo PL), não tendo conseguido se eleger. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para a campanha de 2022, ele recebeu R$ 150 mil em recursos da sigla.

Bolsonarista que já tinha ficha criminal foi preso com R$ 22 mil em casa

Em Brasília, policiais federais prenderam Renan da Silva Sena. Ele estava em casa, na Candangolândia, uma das regiões administrativa do Distrito Federal. Com ele, os agentes ecnontraram R$ 22 em espécie.

Ex-funcionário terceirizado do governo Bolsonaro, ele usava seu canal no Youtube para incitar os atos criminosos na Esplanada dos Ministérios. Em um vídeo, publicado do QG do Exército em 6 de janeiro, ele chamava para uma "grande ação neste fim de semana". 

Renan Senan ocupou um cargo de confiança no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, então chefiado por Damares Alves, em fevereiro de 2020, para atuar como analista de projetos do setor socioeducativo. Ele foi demitido três meses depois, após ser preso.

Apoiador de Jair Bolsonaro, Renan Sena foi detido por soltar fogos de artifício perto do Ministério do Meio Ambiente, mas acabou liberado após assinar um termo na Polícia Civil. À época, ele integrava o 300 do Brasil, grupo liderado pela militante bolsonarista que usava o codinome Sara Winter e também ocupou cargo de confiança no ministério de Damares Alves e acabou preso por atos violentos.

Sena também foi detido e responde em liberdade pelos crimes de calúnia e injúria, após divulgar vídeo com ofensas contra autoridades dos três poderes e o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB). O bolsonarista foi liberado após assinar um termo de comparecimento em juízo, comprometendo-se a não se envolver em outros delitos.

Integrante de acampamento em Belo Horizonte é preso em casa

Já em Belo Horizonte, federais prenderam Randolfo Antônio Dias. Ele também estava em casa, no bairro Luxemburgo, na Zona Sul da capital mineira.

Segundo as investigações, Randolfo participava do acampamento em frente à 4ª Região Militar do Exército, na avenida Raja Gabaglia, no bairro Gutierrez, na Zona Oeste de BH, onde apoiadores de Bolsonaro protestavam contra o resultado das eleições presidenciais.

Já no Mato Grosso do Sul, agentes prenderam a intérprete de libras Soraia Bacciotti Soraia, que também é a poiadora de Bolsonaro e participava de acampamentos na porta de quartéis contra o resutados das eleições e a favor de uma intervenção militar.

A PF informou que “as investigações continuam em curso e a Operação Lesa Pátria se torna permanente, com atualizações periódicas acerca do número de mandados judiciais expedidos, pessoas capturadas e foragidas”.

AGU pediu ampliação para R$ 18,5 mi do bloqueio de bens de financiadores de atos

Na quinta-feira (19), a Advocacia Geral da União (AGU) pediu que o bloqueio de bens de investigados por financiar atos que causaram a invasão e depredação de prédios dos três poderes seja ampliado até o valor de R$ 18,5 milhões. Inicialmente, a a AGU havia pedido a indisponibilidade de R$ 6,5 milhões em bens, em ação já aceita pela Justiça Federal do Distrito Federal.

O pedido da AGU para ampliar o  bloqueio se dá, segundo o órgão, em razão de relatórios da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Presidência da República estimar em R$ 7,9 milhões os prejuízos ao patrimônio do Palácio do Planalto, e em R$ 5,9 milhões os prejuízos no STF. Além disso, segundo a AGU, houve atualizaçaõ dos valores dos prejuízos na Cãmara dos Deputados.

"Na petição, a AGU solicitou, ainda, a exclusão do polo passivo da ação de pessoa física que havia sido incluída no processo por equívoco de uma das empresas de transporte, que forneceu à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) nota fiscal com nome de pessoa diversa à real contratante, bem como a inclusão da pessoa física que efetivamente contratou o transporte para pessoas que participaram dos atos golpistas", disse a AGU, sem informar quem seria a pessoa em questão.

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