Investigação

PF faz operação contra grupo que doutrina e envia indígenas para Turquia

Investigação aponta que os indígenas eram cooptados por uma organização criminosa de tráfico humano no interior do Amazonas e forçados a professar a religião islâmica

Por Renato Alves
Publicado em 27 de julho de 2023 | 08:45
 
 
 
normal

A Polícia Federal fez uma operação em Manaus (AM), na quarta-feira (26), contra o tráfico de seres humanos. O alvo é Associação Humanitária do Amazonas (Asham), que seria usada no envio de crianças e adolescentes indígenas para a Europa. 

Investigação da PF aponta que os indígenas que eram cooptados por uma organização criminosa de tráfico humano em São Gabriel da Cachoeira, no interior do Amazonas, eram forçados a professar a religião islâmica.

Os suspeitos, de origem turca, iam até uma comunidade rural do município para aliciar famílias em situação de vulnerabilidade social a autorizarem o envio de seus filhos para estudarem na Turquia, um país mulçumano. 

De São Gabriel, os jovens eram transportados para Manaus, onde começavam a ser doutrinados na Asham e viviam em situação de servidão. Em seguida, eles eram levados para São Paulo.

Na capital paulista, as crianças e os adolescentes eram submetidos a mais uma rodada de imposições religiosas e recebiam novos nomes, sendo proibidos de mencionar os nomes antigos. De lá eram enviados para a Turquia.

A PF tenta descobrir a real intenção do grupo religioso. Há a desconfiança que os indígenas poderiam ser usados em trabalhos forçados ou até colocados a serviço de grupos criminosos.

Federais resgataram 15 indígenas na sede da associação clandestina

A ação desta quarta é um desdobramento da Operação Além-Mar, deflagrada em 27 de fevereiro, quando a PF e o Conselho Tutelar resgataram 15 meninos e meninas indígenas e apreenderam alimentos vencidos na associação, que funcionava sem a autorização para atuar como abrigo para crianças e adolescentes.

Duas semanas atrás, agentes da PF detiveram o passaporte de um dos investigados, de origem turca, e cumpriram dois mandados de busca e apreensão, sendo um na casa do investigado e outro na associação.

Desde então, cinco indígenas que haviam sido enviados para Turquia por meio da Asham foram deportados por estarem no país europeu sem visto de permanência. Eles, que chegaram a ficar três semanas presos no país europeu por causa da irregularidade, já voltaram para São Gabriel da Cachoeira. 

Nesta quarta, federais foram à associação com servidores da Funai, do Conselho Tutelar, da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania, do Conselho Municipal de Assistência Social e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente.  

Em nota, a PF ressaltou que “o tráfico de pessoas é um crime de alta complexidade, que envolve fatores econômicos, sociais, culturais e psicológicos, demandando a interlocução de diversas instituições do setor público, bem como de toda sociedade”. A PF também lembrou que o Estado brasileiro é laico, sendo proibida a imposição de qualquer tipo de religião.

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!