Suspeita

PF investiga se há elo entre venda de polo da Petrobras com joias para Bolsonaro

Estatal brasileira vendeu refinaria um mês depois de Bolsonaro ter feito uma viagem oficial para a Arábia Saudita, onde ganhou kit de joias femininas

Por O Tempo Brasília
Publicado em 05 de janeiro de 2024 | 14:27
 
 
 
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A Polícia Federal (PF) vai investigar possível relação entre a venda da refinaria da Petrobras Landulpho Alves (RLAM) abaixo do preço, em novembro de 2021, para a mesma família real saudita que presenteou com joias o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua mulher, Michele Bolsonaro. 

A estatal brasileira vendeu a RLAM em 30 de novembro de 2021, um mês depois de Bolsonaro ter feito uma viagem oficial para a Arábia Saudita. Nesta viagem, o governo brasileiro recebeu o kit de joias femininas avaliadas em R$ 4.150.584 e que não foram incorporadas ao acervo da União, como outras peças de alto valor.

O polo de refino, localizado em São Francisco do Conde, na Bahia, e seus ativos associados foram vendidos para o grupo de investimentos Mubadala Capital, sediado nos Emirados Árabes e pertencente à família real — que presenteou Bolsonaro com joias dias antes da venda do negócio ser fechado.

A operação de venda foi concluída com o pagamento de US$ 1,8 bilhão (R$ 10,1 bilhões). A Acelen, empresa criada pelo grupo Mubadala Capital para a operação, assumiu a gestão a partir de 1º de dezembro — com a venda, a RLAM passou a se chamar Refinaria de Mataripe.

CGU apontou que refinaria foi vendida abaixo do preço de mercado

Na última quinta-feira (4), a Controladoria-Geral da União (CGU) divulgou auditoria que constatou fragilidades no processo de venda da RLAM. O principal problema, de acordo com o relatório, foi a venda abaixo do preço de mercado, decorrente principalmente da escolha do momento do negócio, quando a cotação internacional do petróleo estava em baixa.

“A Pandemia causada pela Covid-19 e a consequente turbulência econômica atingiram a execução do Projeto Phil, gerando riscos e incertezas quanto ao futuro da indústria do petróleo e ao cenário econômico mundial. Diante disso, a Petrobras optou por dar continuidade ao processo de desinvestimento dos clusters RLAM”, diz trecho do documento da CGU.

O órgão de controle diz que a Petrobras poderia ter esperado a recuperação do petróleo no mercado internacional para lucrar mais, em vez de ter feito negócio em um momento de “tempestade perfeita”, com a combinação de incerteza econômica e volatilidade trazida pela pandemia, premissas pessimistas para o crescimento da economia no fim de 2021 e alta sensibilidade das margens de lucro, o que resultou em maior perda de valor.

A informação sobre a investigação da PF foi publicada pelo portal G1 nesta sexta-feira (5). Já a divulgação do relatório da CGU reacendeu suspeitas em torno dos presentes dados pelo governo dos Emirados Árabes Unidos a Bolsonaro. Ele ainda não se manifestou, nem seus advogados.

PF investiga destinação e motivação de itens de luxo dados a Bolsonaro 

Auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar com as joias no Brasil sem declarar o valor para a Receita Federal. Porém, o kit foi apreendido no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na bagagem de um integrante da equipe do Ministério de Minas e Energia, na volta de uma viagem. As joias seriam destinadas à então primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O caso veio à tona por meio de reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. Em seguida, foi revelado que Bolsonaro ganhou outras joias, além de relógios caros e obras de arte, em viagens à Arábia Saudita e aos dos Emirados Árabes, e que ele não havia destinado nada ao acervo da União, contrariando a legislação brasileira.

Apenas após notificação do Tribunal de Contas da União (TCU) é que os advogados do ex-presidente começaram a entregar os itens à Caixa Econômica Federal. A Polícia Federal abriu investigação para tentar saber quantos de luxo Bolsonaro ganhou na condição de presidente e se os presentes envolveram negócios ilícitos. 

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