Investigação

TJ derruba decisão que livrou Flávio Bolsonaro no caso da mansão de R$ 6 milhões

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) voltará a ser investigado por causa da compra da mansão de R$ 6 milhões no Lago Sul, bairro nobre de Brasília

Por O Tempo Brasília
Publicado em 28 de novembro de 2023 | 09:16
 
 
 
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O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) voltará a ser investigado por causa da compra da mansão de R$ 6 milhões no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. O filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) havia se beneficiado de uma decisão da primeira instância do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) que arquivou o caso. Mas, na última quarta-feira (22), desembargadores da corte brasiliense derrubaram a sentença.

Flávio comprou o imóvel graças a um empréstimo de R$ 3,1 milhões obtido no Banco de Brasília (BRB), com taxas bem abaixo das praticadas pelo mercado. A instituição financeira pertence ao Governo do Distrito Federal, administrado por Ibaneis Rocha (MDB), aliado político dos Bolsonaros. Além de anular a decisão da primeira instância, os desembargadores da 4ª Turma Cível do TJDFT determinaram que a Justiça peça ao filho 01 de Jair Bolsonaro os documentos usados por ele para comprovar a renda ao obter o empréstimo.

O acórdão dos desembargadores veio após recurso da deputada federal Erika Kokay (PT-DF) contra a decisão da primeira instância do TJDFT, que arquivou a ação popular movida por ela contra Flávio e o BRB. Na ação, Kokay alega que a renda de Flávio e da esposa, Fernanda, de cerca de R$ 36 mil, não seria suficiente para obter o empréstimo de R$ 3,1 milhões. Segundo simulador do próprio banco, as parcelas mensais numa operação deste tipo ficariam em cerca de R$ 18 mil, cerca de metade da renda do casal.

O simulador do BRB também informava, à época, que a renda mínima para este tipo de operação seria de R$ 46,8 mil – mais do que Flávio poderia comprovar na ocasião. Em resposta, Flávio disse que sua renda não consistia apenas no salário de R$ 24 mil líquidos como congressista, uma vez que atuava também “como advogado, empresário e empreendedor, por muitos anos”. 

A defesa do senador também disse à época que sua esposa se dedicava “ao exercício da odontologia há bastante tempo”. Na ação popular, a deputada pedia a anulação do empréstimo feito pelo BRB ao senador. A reportagem de O TEMPO em Brasília procurou Flávio Bolsonaro nesta terça-feira (28), mas não houve resposta até o momento.

“Em se tratando de crédito concedido por instituição financeira custeada, em parte, com recursos públicos, ganha especial relevo o controle da lisura do procedimento de análise de risco, sendo cabível, em tese, a invalidação de negócios jurídicos contrários à moralidade ou à impessoalidade, tais como aqueles eventualmente celebrados sob influência do prestígio político dos envolvidos”, diz um trecho do acórdão, relatado pelo desembargador Arnoldo Camanho. 

Além dele, também assinam a decisão os desembargadores James Eduardo Oliveira e Aiston Henrique de Sousa. “Dou provimento à remessa necessária para cassar a sentença (da 1ª instância) e determinar o retorno do feito à fase de organização e saneamento do processo (...), inclusive requisitando-se os documentos que sejam necessários ao esclarecimento dos fatos, em especial a íntegra do processo interno de análise de risco de crédito”, diz o trecho final do voto de Camanho.

A casa de Flávio Bolsonaro fica no Setor de Mansões Dom Bosco, um dos melhores trechos do Lago Sul, um bairro nobre de Brasília às margens do lago Paranoá. A compra foi registrada pelo senador em 2 de fevereiro de 2021, pelo preço de R$ 5,97 milhões, em um cartório afastado do centro de Brasília. A casa tem 1,1 mil metros quadrados de área construída. Conta com quatro suítes amplas, academia, piscina e spa com aquecimento solar. 

Ao contrair o empréstimo, Flávio obteve condições vantajosas. Na época, o Estadão simulou o mesmo empréstimo em outro banco comercial de grande porte: a taxa mínima de juros ficaria em 5,39% ao ano, resultando em parcelas de R$ 23,2 mil, equivalente a quase todo o salário líquido do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. (Com Estadão Conteúdo)

 

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