Um dos três acusados de hostilizar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e agredir o filho dele, no Aeroporto Internacional de Roma, no fim da tarde de sexta-feira (14), o corretor de imóveis Alex Zanatta Bignotto, de 27 anos, negou à Polícia Federal ter xingado ou batido em alguém. Os demais investigados são parentes dele. 

Moraes estava na Itália para realizar uma palestra na Universidade de Siena. Os acusados de agredi-lo são apoiadores de Jair Bolsonaro, tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) há duas semanas, em julgamento do qual Moraes fez parte, votando contra o ex-presidente da República. Bolsonaro, quando era presidente, proferiu uma série de ataques ao STF, TSE e a Moraes.

No sábado (15), a PF instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias da abordagem a Moraes e familiares. Os acusados podem responder pelos crimes de agressão, ameaça, injúria e difamação. Segundo o Código Penal, os crimes praticados por brasileiros, embora cometidos no estrangeiro, ficam sujeitos à lei brasileira. O procurador-geral da República, Augusto Aras, também mandou o Ministério Público Federal investigar o episódio. Aras enviou mensagem ao ministro manifestando solidariedade e disse classificar a agressão como “repulsiva”.

Bignotto, que mora em Santa Bárbara d'Oeste, foi ouvido neste domingo (16), das 10h às 12h, em uma unidade da PF em Piracicaba (SP). “Ele em absoluto fez qualquer ofensa ao ministro, mas nós estaremos esclarecendo isso nos autos e tudo será muito bem esclarecido no curso das investigações”, afirmou o advogado Ralph Tórtima Stettinger Filho, responsável pela defesa do corretor, ao sair do prédio da PF, ao lado do cliente. Bignotto disse apenas “não” aos jornalistas quando questionado se agrediu Moraes e o filho.

Os outros dois supostos agressores, o empresário Roberto Mantovani Filho e a esposa, Andreia Munarão, serão ouvidos pela  na terça-feira (18). Alex Bignotto é casado com uma filha do casal. A família, assim como Moraes, estava no aeroporto de Roma na noite de sexta à espera da volta ao Brasil. Mas o ministro e seus familiares embarcaram em voo diferente dos demais. A confusão teria ocorrido em dois momentos, em um espaço com maior fluxo e, depois, em área VIP.

Na queixa formalizada à PF, o ministro descreveu os três integrantes da mesma família como agressores. Ele informou que estava na área de embarque do aeroporto de Roma quando Andréia Munarão se aproximou o chamando de “bandido, comunista e comprado”. Em seguida, conforme a representação, Roberto Mantovani Filho “passou a gritar e”, chegando perto do filho de Moraes, o advogado Alexandre Barci de Moraes, de 27 anos, “o empurrou e deu um tapa em seus óculos”. 

Ainda segundo o relato formal de Moraes, passageiros e funcionários presentes no terminal aeroportuário intervieram e puseram fim à confusão. Momentos depois, continua o magistrado, “a esposa Andreia e Alex Zanatta, genro do casal, retornaram à entrada da sala VIP onde eu (o ministro) e minha família estávamos e, novamente, começaram a proferir ofensas”. Segundo a representação, o filho do casal, Giovani Mantovani – também intimado a depor pela PF –, tentou conter os outros três parentes.

Giovani e os três acusados – Bignotto, Roberto Mantovani e Andreia Munarão – desembarcaram no Brasil no sábado, com duas crianças, de 2 e 4 anos, filhas do corretor de imóveis. No aeroporto, cinco agentes da PF os aguardavam, fazendo perguntas e registrando vídeos. 

De acordo com Tórtima, que representa todos os envolvidos, a PF esteve na residência da família às 6h deste domingo intimando os três acusados para depor às 10h. Diante de compromissos prévios que já estavam agendados, os depoimentos de Andreia e Mantovani foram marcados para a próxima terça, às 9h.

Família tem empresas no interior de São Paulo e patriarca foi candidato a prefeito pelo PL

A família mora em Santa Bárbara D'Oeste, interior de São Paulo, e controla empresas na região. Bignotto é dono de uma corretora de imóveis. Seu sogro atua com administração de bens imobiliários, consultoria empresarial e equipamentos hidráulicos.

Em 2004, Roberto Mantovani Filho foi candidato a prefeito pelo PL, mas perdeu as eleições. Desde 2016, ele é filiado ao PSD. Em nota, o PSD informou que "repudia o episódio" envolvendo Moraes e deve acionar a Comissão de Ética da legenda "para que sejam tomadas as medidas punitivas cabíveis, que devem culminar em sua expulsão".

Em 2020, Mantovani destinou R$ 19 mil a campanhas eleitorais e ao PSD de Santa Bárbara D'Oeste. O empresário doou R$ 4 mil para a campanha eleitoral de José Antonio Ferreira, que foi candidato à prefeitura de Santa Bárbara D'Oeste pelo PSD. O "Dr. José" não foi eleito. Mantovani ainda transferiu R$ 11 mil à direção do PSD na cidade.

No mesmo ano, o empresário contribuiu com a campanha de Josué Ricardo Lopes, do PTB, à prefeitura de Socorro, município do interior do Estado. Mantovani cedeu um imóvel para ser usado como comitê. Ricardo Lopes foi eleito. Mantovani tem preferido não comentar o episódio antes de prestar depoimento à PF para não comprometer a sua situação diante das investigações. Ao ser procurado pela imprensa, afirmou também querer evitar o que chamou de "revanchismo". 

Apesar de ter sido apontado como agressor do filho do ministro do STF, o empresário disse considerar que o ocorrido "não foi nada extraordinário" e que prefere aguardar o pronunciamento das autoridades sobre os possíveis crimes que possa ter cometido. "Na minha opinião não foi nada de tão extraordinário. Não gostaria de comentar nada para evitar, sabe, ódio, um revanchismo. Não gostaria disso nesse momento", afirmou ao Estadão.

"Eu só vi o ministro. Ele estava para entrar numa sala VIP. Eu passei por ali. Houve ali uma pequena confusão de alguns brasileiros, alguns foram embora e quem pagou o pato fomos nós, mas tudo bem, a gente tem que aguardar", completou Roberto Mantovani. (Com Estadão Conteúdo)

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