O presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, suspendeu os salários do general Walter Braga Netto e do coronel Marcelo Câmara, que foi assessor pessoal do ex-presidente Jair Bolsonaro, nome forte da sigla. O corte dos pagamentos aconteceu em meio às investigações sobre o suposto plano de golpe de Estado para manter o ex-presidente no poder. A informação é do blog da Andreia Sadi, do portal G1.
Braga Netto sofreu busca e apreensão e foi alvo de medida cautelar na operação Tempus Veritatis (ou tempo de verdade, em latim), deflagrada pela Polícia Federal (PF) em 8 de fevereiro. No PL, ele recebia cerca de R$ 40 mil e era responsável pela logística e organização de palanques eleitorais. Ele foi ministro do governo Bolsonaro e disputou como vice na chapa eleitoral do ex-presidente em 2022.
Marcelo Câmara foi preso por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e também teve buscas em seus endereços. Contratado do partido, seu salário era de cerca de R$ 20 mil. Câmara foi ajudante de ordens de Bolsonaro na Presidência da República.
Na mesma operação, Bolsonaro foi alvo de uma medida cautelar e teve que entregar seu passaporte para que não saia do país. Já Valdemar, alvo somente de um mandado de busca e apreensão, terminou preso em flagrante após agentes federais encontrarem uma arma sem registro e uma pepita de ouro em sua casa. Em 10 de fevereiro, Moraes concedeu liberdade provisória ao presidente do PL.
De acordo com o blog, a decisão de Valdemar de suspender os pagamentos a Braga Netto e a Câmara aconteceu depois que ele foi proibido de se comunicar com outros investigados da operação da PF. A lista inclui os dois militares, além de Bolsonaro. Além disso, de acordo com a publicação, Valdemar teria ficado surpreso com o nível de envolvimento de Braga Netto na suposta trama golpista.
Os quatro prestaram depoimento à PF na quinta-feira (23). Bolsonaro, Braga Netto e Câmara ficaram em silêncio, enquanto Valdemar respondeu às perguntas por cerca de quatro horas.
Uma das citações a Braga Netto na operação Tempus Veritatis mostra ele xingando o general Freire Gomes, então comandante do Exército, pela recusa do militar em aderir ao plano de golpe de Estado. Freire Gomes foi chamado de "cag*o" por Braga Netto, que também apoiou "oferecer a cabeça dele aos leões".
Nas mensagens, Braga Netto conversa com Ailton Barros, um ex-militar que foi candidato a deputado estadual pelo PL em 2022, mas terminou como suplente. Veja abaixo trechos da conversa entre os dois, de acordo com a PF:
"O investigado WALTER SOUZA BRAGA NETTO, inclusive, chegou a encaminhar para AILTON GONÇALVES MORAES BARROS mensagem que teria recebido de um ' FE' (Forças Especiais), com a seguinte afirmação: 'Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá e do Gen FREIRE GOMES. Omissão e indecisão não cabem a um combatente'."
Em resposta, Ailton sugeriu que continuassem a pressionar Freire Gomes: "Caso insistisse em não aderir ao golpe de Estado afirmou 'vamos oferecer a cabeça dele aos leões'. O investigado BRAGA NETTO concorda e dá a ordem: 'Oferece a cabeça dele. Cagão'."
"Ainda no contexto do referido diálogo, o investigado BRAGA NETTO encaminha uma mensagem de texto, seguida de uma imagem (cortada), que teria relação com a residência do General FREIRE GOMES. Diz: 'Em frente à residência do general Freire Gomes agora', como evidenciam imagens acima colacionadas."