Hoje abandono o leito normal de meus artigos para homenagear a memória de um grande brasileiro, mineiro de Nova Lima: Guilherme Emrich.
Guilherme nos deixou no último dia 9, aos 78 anos. Engenheiro, tinha algumas palavras-chave indissoluvelmente ligadas à sua personalidade e ação transformadora: inquietação, criatividade, empreendedorismo, inovação e ousadia. Era a tradução perfeita do empresário schumpeteriano, aquele que, no conceito do grande economista austríaco, produzia inovações disruptivas. Guilherme sempre teve uma visão globalizada, antes da globalização. Apostou em startups, antes de o termo existir. Em vez de seguir a cultura empresarial predominante em boa parte do empresariado brasileiro, cartorial e patrimonialista, excessivamente dependente do Estado, pensava em inovação e empreendedorismo, competitividade e produtividade.
Já na década de 1970, ao lado dos sócios e amigos Walfrido e Marcos Mares Guia, fundou a Biobras, desenvolvendo tecnologias para a produção de insulina humana e erguendo uma planta industrial em Montes Claros, em Minas, que teve a ousadia de se tornar, ao longo dos 1980 e 1990, a quarta maior empresa produtora de insulina do mundo, enfrentando forte competição das três grandes multinacionais instaladas no setor.
Após a venda da Biobras, em 2001, manteve com seus sócios o núcleo de desenvolvimento, pesquisa e gestão das patentes, gerando a atual Biomm S/A, única empresa brasileira de biotecnologia listada na Bolsa, que, depois de mais de R$ 300 milhões investidos, tem planta industrial em sua cidade natal, Nova Lima, pronta para produzir insulina, vacinas e medicamentos biotecnológicos.
Foi também fundador e presidente do conselho da Fundação Biominas, o maior cluster de biotecnologia da América Latina. Segundo seu filho, atual presidente da Biominas, ele tinha a convicção de que a Biobras só seria forte se outros empreendedores se aventurassem na biotecnologia.
Tornou-se uma referência brasileira em empreendedorismo e venture capital. Fundou a FIR Capital Partners promovendo investimentos sempre em empresas inovadoras. Investiu em outros setores inovadores, como o da TI. Criou a Akwan, associado a professores da UFMG, que foi comprada pela Google e resultou em seu único centro de pesquisa e desenvolvimento na América Latina.
Em 2006, a FIR Capital apoiou a criação da CSEM Brasil, inspirada em modelo suíço, da qual foi presidente do conselho técnico. Uma entidade privada, sem fins lucrativos. Objetivo: gerar soluções inovadoras para as empresas, transformando conhecimento em produtos, serviços e processos de alta tecnologia visando mudar o Brasil, aumentar a produtividade e a competitividade e abrir novas oportunidades de mercado.
Conheci Guilherme em 1997, quando éramos membros do Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, quando eu ocupava a Secretaria de Planejamento. Tornou-se um conselheiro permanente. Tive o prazer de trabalhar com ele diretamente na Biomm. Nosso último encontro foi um jantar em BH. Era uma companhia com um papo irresistível, sempre inteligente, bem-humorado e agradabilíssimo em torno de uma garrafa de vinho ou uma dose de uísque.
Minas e o Brasil perderam um grande empresário. Eu perdi um amigo e uma referência. Mas seu imenso legado ficará para as gerações futuras.