Audiência pública

População de Contagem rejeita traçado do Rodoanel do governo de Minas

Moradores do bairro Nascentes Imperiais não concordam com a obra por causa dos impactos sociais e humanos

Por José Augusto Alves
Publicado em 18 de maio de 2022 | 19:11
 
 
 
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Em audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, nesta quarta (18), moradores do bairro Nascentes Imperiais, em Contagem, na região metropolitana, questionaram o governo de Minas sobre os impactos sociais e humanos que o Rodoanel vai causar. O Estado manteve o traçado do Rodanel cortando bairros inteiros de Contagem e de Betim, além da área de preservação da represa de Várzea das Flores, apesar das reclamações de prefeituras e movimentos sociais. 

O bairro Nascentes Imperiaisi será um dos mais atingidos pelo traçado proposto pelo Executivo, com várias desapropriações de moradores, além de afetar equipamentos públicos como escolas e centros de saúde. 

O governo de Minas marcou para julho o leilão para a obra do Rodoanel, na B3, que é a bolsa de valores de São Paulo. O governo estima o custo da obra em R$ 5 bilhões, sendo R$ 3 bilhões do acordo com a Vale, e o restante aportado pela concessionária que ganhar o leilão, que poderá explorar pedágio da via por 30 anos. A tarifa gira em torno de 0,35 km rodado por eixo.

Os principais questionamentos da população foram em razão de o governo de Minas não ter esclarecido quais as moradias que seriam afetadas e desapropriadas. O temor da população é que as pessoas, além de terem suas vidas fortemente impactadas, elas não recebam indenização justa, já que a maioria das moradias não possui regularização fundiária. 

"Sou uma das primeiras moradoras do bairro. Moro com meus filhos. Não quero que o Rodoanel passe aqui e divida nossas vidas. Ter que sair e cada um ir para um lado", disse a moradora Odete Lopes Paiva. 

A moradora Sônia Damásio disse que a regularização é importante, mas não é a questão principal. "É o nosso lugar de viver. Batalhamos uma vida para estar aqui. Queremos ficar. E o governo não ouve a gente. Contagem será muito afetada, são vários bairros, além das nossas nascentes que abastecem a represa (Várzea das Flores). Indenização é a última coisa a se discutir. Primeiro, precisamos saber como será a obra, onde vai passar, os impactos", reclamou.

Durante a audiência, o presidente da associação de moradores do bairro Nascentes Imperiais, Geraldo Campos, declarou que o maior problema do bairro é a falta de regularização. Ele disse que esteve na Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) e que os representantes da pasta afirmaram que a obra será feita conforme o traçado divulgado. 

O morador também afirmou que o secretário da Seinfra, Fernando Marcato, se reuniu com o morador e mais algumas pessoas do bairro para falar sobre o Rodoanel nessa terça (18). “O secretário disse que está à disposição, ouviu nossas reivindicações e dúvidas, e afirmou ainda que no início do próximo mês a equipe técnica da secretaria virá ao bairro para esclarecer a população”, disse o presidente da associação. 

A ação do secretrário foi criticada por quem estava na audiência. “O Estado não tem que reunir com algumas poucas pessoas, tem que falar é para a população toda. É esclarecer por que quer tirar as pessoas de suas casas para uma obra que há alternativa”, ponderou a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT). 

Direito à moradia 

A defensora pública Cleide Nepomuceno afirmou que, primeiramente, a população tem direito à informação transparente. “As comunidades atingidas por uma obra pública que ameaça uma remoção compulsória têm direito a saber o traçado, a justificativa e se há uma alternativa a essa obra. A Defensoria Pública defende também o direito à moradia, que está inserido e garantido na Constituição, de uma justa indenização. Ainda que as pessoas que venham a ser afetadas não tenham a titulação (da propriedade), elas devem ser devidamente indenizadas, não apenas pela edificação, mas em relação à posse.  

Para a deputada estadual Andreia de Jesus (PT), que pediu a realização da audiência, afirmou que o Estado não esclareceu por que o traçado do Rodoanel tem que passar em bairros povoados e na bacia da represa de Várzea das Flores. 

"O Estado deveria ter vindo escutar o povo. Nós chamamos três secretarias para explicarem a obra. É preciso deixar claro por que o Rodoanel tem que passar exatamente aqui. Quantas pessoas terão suas vidas impactadas? Quantas terão o direito à moradia garantido? Não há resposta até agora", questionou. 

O governo não enviou representantes das secretarias de Estado de Mobilidade e Infraestrutura (Seinfra) e de Planejamento e Gestão (Seplag), apesar de essas pastas terem sido convidadas.

Apenas um representante da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) compareceu. O diretor de Departamento de Habitação de Minas, Wesley de Jesus Silva, rebateu e disse que o Estado está dialogando com a população.

“Estamos iniciando essa discussão. Teve a primeira fase, que foi  a implantação do projeto, e agora estaremos trabalhando para verificar os impactos na tentativa de mitigá-los ao menor possível para as pessoas. A Sedese está atenta aos direitos fundamentais de habitação e acompanhando de perto esse empreendimento. O Estado está sempre dialogando. Prova disso é que o secretário Marcato esteve aqui no bairro”, afirmou.

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