Raja Gabaglia

Protestos em BH provocam mal-estar entre PM e Guarda Municipal

Com militares apenas de resguardo, acampamento montado em frente a quartel do Exército foi desmontado pela prefeitura

Por Letícia Fontes
Publicado em 06 de janeiro de 2023 | 20:58
 
 
 
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A operação de remoção do acampamento dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na avenida Raja Gabaglia já vinha sendo planejada há alguns meses pela Guarda Municipal de Belo Horizonte. A corporação estaria apenas esperando que o número de manifestantes diminuísse no local para iniciar a ação, que foi vista como um estopim na relação da Polícia Militar (PM) e a instituição. Nos bastidores, agentes da prefeitura entendem que a PM foi omissa com a operação.

Em entrevista coletiva, nesta sexta-feira (6), o prefeito da capital, Fuad Noman (PSD) e o comandante da Guarda Municipal, Júlio César de Freitas, afirmaram que avisaram a Polícia Militar (PM) sobre a operação na noite anterior.

"Realizei prévia comunicação ao Exército e a Polícia Militar, bem como orientei que a todo momento houvesse diálogo com todos os envolvidos. A operação foi exitosa e conseguiu remover a estrutura ilegalmente instalada e sem uso da força", pontuou Fuad Noman.

Em nota, a PM afirma que permaneceu com guarnições na avenida realizando o "policiamento preventivo em apoio às ações da PBH”, mas quando a reportagem chegou à Raja Gabaglia, por volta de meio-dia, havia apenas três viaturas da PMMG no local. Depois, quando a equipe de reportagem de O TEMPO foi acuada e, posteriormente, agredida, momento em que a Guarda Civil Municipal tentava retirar os materiais do acampamento apreendidos, já não tinha mais policiais militares presentes.

"Tinham três viaturas da polícia de fato no local, mas não fizeram nada. A ‘pancadaria’ foi próximo a eles e nada aconteceu Desde o início está claro que a Polícia Militar é conivente com essas manifestações e não faz esforço para que a Raja seja desbloqueada. É quase que um trabalho feito sozinho", afirmou uma fonte.

Segundo outras fontes ouvidas pela reportagem, a intenção da operação da Guarda era de que com a retirada das barracas e dos banheiros químicos da Raja, os manifestantes não tivessem mais uma estrutura permanente para permaneceram no local por tanto tempo. A Prefeitura da capital estuda, inclusive, multar manifestantes que insistirem em instalar ilegalmente estruturas no local.

Mas apesar do esforço, mesmo sem barracas e mantimento, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro  mantêm a manifestação em frente ao Comando da 4ª Região Militar do Exército. 

Crise

Desde o início das manifestações, em novembro, a relação entre a PM e a Guarda tem gerado mal-estar entre os agentes de segurança. O motivo é a diferença de entendimento sobre a condução dos protestos na capital. Enquanto a prefeitura queria que a via fosse liberada para que houvesse fluidez no trânsito, a PM estaria permitindo que os manifestantes interditassem a avenida.

Por causa do desgaste entre as corporações e das divergências de orientações, a Guarda Municipal decidiu em meados de novembro não colocar mais o efetivo na rua depois que um vídeo começou a circular nas redes sociais mostrando o momento que agentes da PM e da Prefeitura se desentenderam.

O vídeo em questão mostra o momento em que agentes da Guarda negociavam com os manifestantes para que a via fosse liberada. Após minutos de conversas, o grupo presente no local concordou em ficar somente no acostamento, mas logo em seguida, policiais militares voltaram a fechar a avenida. Nas imagens é possível ver agentes da PBH e militares discutindo.

Os servidores da prefeitura só voltaram a fazer o patrulhamento da avenida depois que houve uma reunião entre o Ministério Público do Estado (MPMG) com os agentes e a PM no início de dezembro. 

Na época, o tenente-coronel da Polícia Militar, Flávio Santiago, negou que houvesse qualquer problema de relacionamento da instituição com quaisquer órgãos municipais.

"Nossa relação com os órgãos municipais de BH e outros municípios sempre foi primorosa. Alguns problemas podem ocorrer, mas não implicam na parceria que temos na resolutividade de problemas. Em alguns momentos, até por questão de competência e de assumir determinadas ocorrências, alguma instituição é mais presente que a outra, mas isso acontece em qualquer Estado e país", pontuou o tenente-coronel na ocasião, que fez questão de frisar a integração entre as forças de segurança.

"Em nosso Estado integração é palavra de ordem. Problemas pontuais tem a ver com questões operacionais, que acabam acontecendo. Conflitos existem em alguns momentos, mas a PM tem a expertise de gestão de massa e por isso tem conseguido trabalhar na resolução dos problemas. A PM apoia todos os tipos de manifestação, vindas de presidenciáveis, é intriga", completou.

Outro lado
Durante a coletiva desta sexta-feira, o comandante da Guarda Municipal também negou que haja conflito entre a corporação e a PM. Segundo ele, o objetivo da operação era a remoção do acampamento, que segundo ele, fere o código de postura da cidade.

"A Polícia Militar é uma parceira da cidade e todas as ações são compartilhadas com ela. Ao nosso ver, a ação de retirada (das estruturas) foi exitosa. Nossa ação inicia e termina no que é de competência da prefeitura", pontuou Júlio César de Freitas.

Em nota, o governo de Minas Gerais lamentou os ataques a jornalistas cometidos por manifestantes que questionam o resultado das urnas na avenida Raja Gabaglia, em Belo Horizonte, e afirmou que apoiou a ação da PBH. Procurada, a PM não comentou uma possível queixa com a Guarda Municipal.

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