Com uma semana completa de campanha no segundo turno, já foi possível perceber uma mudança de estratégia dos candidatos na disputa presidencial. Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem apostado muito mais nos eventos de rua nos primeiros dias de campanha, o presidente Jair Bolsonaro (PL) resolveu dar atenção especial à articulação e demonstração de apoio político. Isso reflete correção de falhas no primeiro turno e necessidades especiais dos dois candidatos nesse segundo momento.

Durante a fase de pré-campanha e de todo o primeiro turno, a supremacia bolsonarista nos eventos de rua estava evidente. Não por acaso, o presidente usou como uma das principais estratégias de motivação o argumento do ‘Datapovo’ para contrariar pesquisas e dizer que ele venceria no primeiro turno. Enquanto isso, no caso de Lula, os eventos mais volumosos limitaram-se sobretudo ao Nordeste durante grande parte da campanha. Apenas nos últimos dias houve atos mais numeroso em Curitiba e Florianópolis, por exemplo.

No segundo turno a diferença é clara. Em uma semana, Lula fez demonstrações de força em São Bernardo do Campo, Campinas e Belo Horizonte. Todos os atos estavam muito cheios e animaram a militância. O objetivo petista é garantir que essa presença constante nas ruas faça com que o eleitorado petista ganhe mais energia para votar. A conclusão na campanha foi de que os bolsonaristas estavam mais mobilizados e que, por isso, a abstenção prejudicou mais o petista do que o atual presidente nas urnas. Por isso, vários líderes petistas pregaram, nas reuniões realizadas com Lula, que eleição se ganha na rua e que era preciso ampliar a mobilização e os atos públicos e, com isso, tirar os lulistas menos convictos do armário.

De outro lado, Bolsonaro recolheu-se em reuniões no Palácio da Alvorada. Na única tentativa de evento realmente público na primeira semana, ficou isolado em um barco da Marinha ao participar de uma romaria fluvial do Círio de Nazaré, em Belém. Em sete dias, o presidente focou muito mais em demonstrar força na política institucional. E isso tem explicação no bom desempenho da direita pelo país nas disputas ao Legislativo e aos governos estaduais. Com isso, em vez de milhares de brasileiros de verde e amarelo, a principal imagem de Bolsonaro no segundo turno se deu ao lado do governador de Minas, Romeu Zema (Novo), do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), ambos reeleitos, e do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que apesar de ter perdido a disputa pode ajudar a engrossar a vantagem do presidente em São Paulo. Como disse o ex-ministro Tarcísio de Freitas, líder das pesquisas no Estado, o objetivo agora é fazer a força política transformar-se em força eleitoral.

É certo que isso mudará, um pouco, ao longo dos próximos dias. Bolsonaro também tem eventos marcados para fazer visitas a todo o país. E começará justamente pelo Sul, de modo a não permitir que Lula tome-lhe o principal ativo do primeiro turno. E o petista continuará buscando apoios ao centor como conseguiu com Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Simone Tebet (MDB). Para quem costuma dizer que o segundo turno serve para corrigir erros do primeiro, as posturas dos dois candidatos deixam claro que isso é bem verdade.