A decisão dos vereadores de Belo Horizonte de rejeitar até mesmo a abertura de um processo de cassação contra o colega Flávio dos Santos mostra que a Câmara parece não ter aprendido com as lições do passado. Elas estão aí assombrando o Legislativo municipal que, mesmo assim, insiste em ignorá-las. E, nesse caso específico, o fizeram mesmo após a divulgação de áudios nos quais o vereador supostamente confirma a prática de "rachadinha" e explica que o dinheiro serviria para pagar um ressarcimento exigido pelo Ministério Público.
A Câmara de Belo Horizonte ainda tem quatro vereadores encrencados. Nenhum deles, claro, votou para abrir o processo para cassar o colega. Todos sabem que, cedo ou tarde, estarão eles também na linha de fogo. Assim, o corporativismo mais uma vez venceu.
Os ex-presidentes da Casa Henrique Braga (PSDB) e Wellington Magalhães (DC), que tiveram pedidos de cassação protocolados na última semana, votaram para livrar o colega. Wellington, aliás, voltou nessa segunda-feira (1º) ao cargo paós ficar 430 dias afastado da Casa. Ele não foi cassado pelos colegas mesmo após a detenção. Na ocasião, novamente faltaram votos. Só deixou a Câmara quando a Justiça assim decidiu.
Já Gilson Reis (PCdoB), outro que também está ameaçado após ter sido denunciado na Casa, sequer votou. Cláudio Duarte (PSL), que também te um processo aberto pelo mesmo motivo de Flávio dos Santos, e chegou a ser preso, absteve-se. Somando os ausentes, os que se abstiveram e os que não votaram, haveria mais 12 votos, o dobro do que faltou para abrir o processo. Houve omissão.
O que estava em discussão nem era a radical medida de cassação do mandato. Nem mesmo uma suspensão. Era apenas a abertura de uma investigação para saber se houve ou não a quebra de decoro. Eu pergunto: se um áudio de confissão da prática irregular não é motivo sequer para que a Casa investigue o caso, o que precisaria ocorrer para tal? Qual a chance de prosperarem os processos contra os demais vereadores? Essas coisas não podem ser normalizadas, ou a descrença do eleitor na classe política só tende a aumentar.
Ouça o comentário do editor de Política Ricardo Corrêa: