A saída de DEM e MDB do bloco formado pelo Centrão na Câmara dos Deputados tem o condão de pulverizar mais o debate na Casa, torná-la bem dividida entre três grupos e dificultar as articulações do presidente Jair Bolsonaro no Congresso. Agora, será preciso negociar mais e manter uma boa relação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para garantir tranquilidade na continuidade do governo e na aprovação de medidas que o Palácio do Planalto propuser.
Depois de um primeiro momento em guerra absoluta com o Parlamento, o governo rendeu-se à estratégia de abraçar o Centrão. Por causa disso, cedeu espaços na Esplanada, contando que teria a proteção dos antigos adversários para não sofrer um impeachment, por exemplo, o que parecia cada dia mais provável. Com 221 deputados no bloco, o apoio selado seria suficiente para impedir uma queda e, mais que isso, para aprovar as matérias que lhe interessavam. De quebra, o governo posicionava-se ao lado daquele que entendia ser o favorito na disputa da próxima eleição ao comando da Câmara dos Deputados. Arthur Lira (PP), como líder do Centrão, demonstrava ter força suficiente para ser o sucessor de Maia sem grandes sustos.
A prática mostrou-se diferente. Como disse aqui neste espaço no sábado, a votação da PEC do Fundeb demonstrou que Rodrigo Maia, que havia perdido força com o alinhamento do Centrão ao governo, não está morto. Pelo contrário. Ele deu um baile na articulação da derrubada da proposta do governo e, com isso, demonstrou que boa parte do Centrão não rezava a cartilha de Lira e do Executivo. Com isso, recuperou fôlego e mostrou que ainda é o homem mais forte nas articulações para a sucessão ao comando da Casa. A saída de DEM e MDB do Centrão é a consequência prática disso.
O reordenamento deixa a Casa bem dividida entre Centrão (majoritariamente governista), independentes e oposicionistas. O Centrão tem hoje 158 deputados, os opositores registram 131 e os independentes ficam com o resto, à exceção de uma parcela do PSL que continua com o governo. Disso se depreende que, nas pautas econômicas, o governo terá que negociar com esse grupo que está no meio do caminho, e do qual fazem parte DEM e MDB. Nas pautas de costumes, dificilmente o governo conseguirá levar algo adiante.
Se os independentes se unirem com a oposição, conseguem pulverizar o governo. Assim, Bolsonaro não poderá abrir mão de uma boa relação com Rodrigo Maia. Se o presidente da Câmara recuou ao sentir-se fragilizado, agora ele tem a faca e o queijo na mão. Bolsonaro é quem tem que garantir que ele não pule definitivamente na oposição ao governo. Isso significa não interferir em nenhuma hipótese nas eleições ao comando da Câmara. Até porque, hoje não há qualquer indicativo de vitória de um candidato contra o grupo de Maia. No passado, Lula e Dilma pagaram para ver em cenários incertos. O primeiro ganhou Severino Cavalcanti. A segunda, Eduardo Cunha. E um impeachment. É bom não facilitar.