Política em Análise

Debate teve Lula melhor no início e Bolsonaro melhor no fim

Empate acaba sendo melhor para o petista, que saiu em vantagem do primeiro turno

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 17 de outubro de 2022 | 10:10
 
 
 
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O debate entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), ocorrido na Band na noite de domingo (16) teve dois momentos distintos. No primeiro, com ampla vantagem do petista e, no segundo, com o presidente conseguindo emparedar o adversário. Nos dois casos, deu-se melhor quem propôs os temas. E, ainda que a reação do chefe do Executivo fosse suficiente para empatar o jogo, como Lula terminou o primeiro turno com 6 milhões de votos de vantagem, a igualdade acaba sendo melhor para ele. Bolsonaro precisará de mais do que isso nos próximos encontros para virar a disputa.

No primeiro bloco, o embate direto entre os dois teve vantagem de Lula pelo fato de ele ter proposto os dois temas para a discussão que durou os primeiros 20 minutos. Como Bolsonaro limitava a responder ao ex-presidente, o petista ditou os rumos do jogo nas falas sobre a educação pública e sobre a pandemia. No primeiro caso, questionando por duas vezes quantas universidades e institutos federais foram feitos no governo Bolsonaro. O presidente não respondeu, alegando que na pandemia universidades estavam fechadas e que não faria sentido abrir novas. O petista despejou números sobre sua atuação na educação, como estava no script. E depois, aproveitando-se da inércia de Bolsonaro, falou também sobre a pandemia, questionando se o presidente não se sentia culpado por parte das milhares de mortes na pandemia, por ter negado a vacina e se colocado contra o isolamento social. Lula chegou a dizer que Bolsonaro teria se transformado em vendedor de remédio sem eficácia quando o presidente defendeu o tratamento precoce. Nesse caso, embora Bolsonaro mantenha sua linha de argumento de que era necessário garantir que a economia funcionasse e respeitar a autonomia médica, Lula estava com um discurso apoiado pela maioria do eleitorado segundo pesquisas de opinião, o que é ponto para ele.

Bolsonaro tentou sair dessa enrascada colocando o tema segurança pública, no qual se sente mais à vontade. Questionou por duas vezes por qual motivo Lula não transferiu Marcola, líder do PCC, quando houve um ataque coordenado de criminosos a policiais em São Paulo. O petista não soube responder bem, mas saiu-se com a afirmação de que ele construiu os presídios federais para onde foram levados os líderes da facção no governo Bolsonaro.

Nesse ponto, o presidente escorregou ao dizer que Lula só anda com traficantes, dando o exemplo da visita do petista ao Complexo do Alemão, no Salgueiro, no Rio de Janeiro. Uma declaração capaz de tirar votos na periferia do Rio de Janeiro e que Bolsonaro tentou consertar mais adiante. Lula aproveitou para rasgar elogios aos moradores da favela.

O fim do primeiro bloco indicava uma tranquilidade grande para Lula, mas os blocos em seguida seriam diferentes. No segundo, com perguntas de jornalistas, houve um empate com os dois tendo que se comprometer em não mexer na composição do Supremo Tribunal Federal (STF) e sendo questionados sobre o alto número de fake news na campanha.

No terceiro, quando houve novamente um confronto direto entre os dois, Bolsonaro descontou parte da vantagem lulista ao manter por 15 minutos o tema da corrupção no debate. Lula mais uma vez mostrou que não consegue driblar fácil os questionamentos sobre a corrupção na Petrobras. Depois de anos de discussões sobre o assunto, já era para ter achado um caminho para responder. Não consegue, o que mostra que essa é a maior pedra hoje no sapato dos petistas.

Ficou tão ruim para Lula que ele não conseguiu gerenciar o tempo corretamente. Com isso, entregou a Bolsonaro um presente: mais de cinco minutos para falar livremente ao final dessa etapa. Só que o presidente gastou o tempo pregando para convertidos, falando sobre as ditaduras sul-americanas e agradando apenas seus próprios eleitores. E ainda permitiu a Lula um direito de resposta que garantiu ao petista um minuto, também mal utilizado, para a última palavra naquele tópico.

Depois vieram as considerações finais sem grandes novidades. Mais uma vez Bolsonaro falou para seus eleitores. E Lula, ao rebater críticas relacionadas à relação com a religião, não soube usar o episódio de Aparecida ou os embates entre bolsonaristas e padres. Ficou a impressão de que os dois perderam oportunidades de definir o jogo, o que deveria ser mais frustrante para o presidente do que para o adversário.

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