Na batalha de narrativas travada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com os governadores de Estado, são estes os que estão se dando melhor junto ao eleitorado. Ao menos quando se olha o resultado conjunto das avaliações estaduais em comparação com a do chefe do Executivo federal. Os dados da pesquisa DATATEMPO incluem, inclusive, a explicação para tal: uma melhor aceitação das medidas para combater à pandemia implementadas nos Estados.

No resultado geral, governadores ainda são mal avaliados. Hoje, são 49,4% os brasileiros que reprovam as administrações estaduais e 43,9% os que aprovam. O índice, porém, é bem melhor do que o do presidente (aprovação de 31,1% e reprovação de 65,6%). Uma diferença bem clara se dá em relação à gestão da pandemia. Enquanto em relação a Bolsonaro 21% consideram que foi boa ou muito boa, 22,9% enxergam como regular e 55,5% consideram ruim ou muito ruim, no caso dos governos estaduais os índices se equivalem: 33,3% muito bom ou bom, 31,9% regular e 33% ruim ou muito ruim.

Ainda assim, Bolsonaro insiste na narrativa, como foi visto na quinta-feira (23) na live presidencial. Isolado no Palácio da Alvorada por causa do teste positivo de integrantes de sua comitiva a Nova York, ele voltou a criticar a eficácia das vacinas e reforçar que não tomou o imunizante. É caso perdido neste caso, mas o presidente mantém o posicionamento por pressão de seus aliados mais radicais. Ele ficou aprisionado a esse discurso para não perder o resto do apoio que ainda tem.

Outra batalha ainda está sendo travada: a dos culpados pela inflação descontrolada e pelo desemprego em alta. O presidente culpa o ICMS dos Estados e as medidas de fechamento como razões para o desempenho ruim da economia. Até aqui, não tem dado certo, considerando as avaliações dos governantes, mas já deu para ver, pela orientação dada à militância virtual ligada ao presidente e pela insistência nessa resposta em transmissões ao vivo e entrevistas, que será a aposta dele para tentar justificar, na campanha eleitoral, os números ruins obtidos até aqui.

O resultado da pesquisa tende a gerar outra consequência danosa ao presidente. A perda de apoio nos Estados. Governadores que buscam a reeleição vão ter que escolher entre o caminho de suportar a reprovação de Bolsonaro em seus palanques, torcendo para que ele consiga revertê-la no período de campanha, ou um distanciamento seguro. É o caso, por exemplo, do governador mineiro Romeu Zema (Novo). Hoje um dos últimos aliados do presidente, ele é bem avaliado, mas pode se preparar para uma vinculação mais direta com Bolsonaro por parte de seus aliados, principalmente se não traçar claramente as divergências que tem com relação ao governo federal antes de a campanha começar. Bolsonaro pode até ser um ótimo cabo eleitoral para deputados, que precisam apenas de uma parcela do eleitorado fiel para a eleição. Mas para quem precisa da maioria da população para se eleger, como governadores e senadores (já que temos apenas uma vaga neste ano), a situação hoje é muito diferente.