Jair, Roberto e Valdemar são três figuras que há décadas frequentam as rodas políticas, tendo, ao longo da história, mandatos duradouros na Câmara Federal. Mas, embora tenham transitado do mesmo lado esporadicamente, nunca se misturaram tanto quanto agora, justamente em um momento do país em que se vê mais diferença que convergência. Dois deles, porém, em meio a essa contradição, estão sendo coerentes com sua história.
Roberto e Valdemar, caciques políticos de outras épocas, já se enfrentaram frontalmente em ao menos duas ocasiões. No governo de Collor, o primeiro era um fiel aliado até a última hora, enquanto o segundo era uma das principais vozes da oposição. Bem mais tarde, no governo Lula, embora os partidos comandados pelos dois fossem da mesma base de sustentação do petista, a relação viveu seu pior momento quando Roberto, acuado pelo vazamento de denúncias de corrupção nos Correios, tentou implodir o governo revelando o esquema do mensalão. Momentos históricos da CPI destinada a analisar o tema mostravam o então presidente do PTB denunciando e confrontando o chefe do PR (hoje PL). Os dois acabaram juntos no banco dos réus. Os dois foram condenados e presos por corrupção.
Apesar da ferida incurável, ambos continuaram encontrando maneiras para estarem do mesmo lado. Assim, se uniram em torno da base que garantiu a eleição de Eduardo Cunha (MDB) para o comando da Câmara e, depois, ajudaram a salvar Michel Temer (MDB) de perder o cargo por denúncias de corrupção. Sempre a troco de cargos e emendas.
Não é diferente agora, quando Roberto e Valdemar decidem embarcar em um governo que, até semanas atrás, tinha o Centrão como seu maior adversário. O primeiro já negocia postos na área econômica, tendo se aventado até a possibilidade de recriação de um ministério só para sua turma. O segundo está comendo pelas beiradas, como ao indicar um nome de sua confiança para assumir uma diretoria em um bilionário fundo da educação.
Para os dois, esse é só mais um governo e uma aliança nada programática. Para Jair, porém, é uma guinada. Uma decisão que altera de forma definitiva seu discurso antipolítica. O presidente pode até continuar com sua campanha contra o comunismo, que agrega apenas a parte da sociedade que vive na internet em debates ideológicos, mas cujo alcance não é do tamanho da raiva que o brasileiro nutre pela classe política em geral. Para salvar seu mandato de um impeachment, com o apoio do Centrão, o presidente precisou jogar fora toda sua estratégia de discurso. Nessa nova aliança, só Roberto e Valdemar foram coerentes. Jair, não.