O presidente Jair Bolsonaro abriu mão de surfar em uma agenda positiva como a da aprovação da reforma da Previdência ou do acordo com o Mercosul para entrar, nos últimos dias, em uma espiral de distorções, mentiras, ofensas a quem pensa diferente e decisões questionáveis moral e legalmente.
As declarações sobre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) são irresponsáveis. Estamos falando de um dos mais importantes centros de pesquisa no Brasil. Os dados sobre desmatamento são técnicos e destruir a reputação do instituto e de seus especialistas com base em mentiras não interessa a um país civilizado.
As declarações sobre a fome, por sua vez, foram tão distantes da realidade que acabaram amenizadas pelo próprio presidente horas depois.
Bolsonaro também mentiu quando tentou explicar a declaração sobre os governadores do Nordeste. O que se vê e ouve em vídeo é totalmente diferente do que ele admite. A expressão “daqueles governadores de Paraíba” não comporta outra explicação a não ser uma generalização depreciativa do termo. Quem lê diferente, desculpe-me, devia se preocupar com o nível de impregnação da luta ideológica a que se submete.
As declarações sobre a jornalista Miriam Leitão, goste-se dela ou não, também foram distorcidas. Não se pode compactuar com um assassinato de reputações com objetivos políticos.
Na esfera das decisões, a indicação de Eduardo Bolsonaro para uma embaixada nos Estados Unidos é absolutamente contra qualquer pregação de nova política feita na campanha. É um retrocesso a utilização de cargos públicos para beneficiar familiares. E nesse ponto Bolsonaro optou pela verdade nua e crua e que chocou quem vê as coisas com mínima razoabilidade. O vídeo em que o presidente diz que vai beneficiar o filho sim, só pode ser relativizado por quem aceita qualquer coisa em nome dessa luta ideológica doentia que se travou no Brasil nos últimos anos. Não podemos normalizar absurdos.
Ouça o comentário do editor de Política Ricardo Corrêa: